General Osório: moradores temem novos deslizamentos

segunda-feira, 29 de agosto de 2011
por Jornal A Voz da Serra

As chuvas que caíram sobre Nova Friburgo no início do ano provocaram estragos por todo o município, deixando milhares de desabrigados e centenas de mortos e feridos. Moradores das áreas de risco e população ribeirinha foram os mais castigados pelos deslizamentos de terra e transbordamento dos rios. Mas o temporal de janeiro derrubou encostas e casas que, a princípio, não pareciam oferecer perigo algum. Agora, sete meses depois da tragédia, toda essa tragédia vem tirando o sono de quem mora perto desses locais, ainda mais com a proximidade do período das chuvas e a morosidade na execução das obras necessárias.

Um exemplo desta situação é a Rua General Osório, no Centro, no trecho entre a Praça do Suspiro e o Colégio Anchieta, dois importantes símbolos da cidade duramente atingidos por inúmeras barreiras e deslizamentos. Por lá também fica o começo da Rua Sylvio Henrique Braune, que dá acesso a uma série de outras vias acima, todas localizadas exatamente entre os dois escorregamentos, que estão distantes entre si cerca 70 metros. Mesmo com o início das obras de estabilização e contenção de encostas no local, a preocupação de moradores, comerciantes e empresários é que todo o morro venha abaixo quando voltar a chover forte na cidade.

“Resido há mais de 20 anos na Rua General Osório. Ela é tranquila, fica perto de tudo. Posso sair sozinha, vou a pé mesmo. É uma beleza”, diz a dona de casa Maria de Lourdes Silva, de 80 anos. “Sou viúva e meu falecido marido sempre sonhou em morar nessa rua. Com sacrifício compramos nosso apartamento e nos mudamos com a família. Jamais imaginei passar pelo que passei em janeiro, sem poder sair de casa. Acho que o que aconteceu aqui deve ter até desvalorizado os imóveis”, comentou, acrescentando que os filhos querem que ela se mude de lá. “Eles dizem que tudo aqui para cima está pendurado, como toda a cidade. Eu fico apreensiva, mas coloco minha vida nas mãos de Deus”.

Relatório do Inea causa apreensão

A falta de informações claras e precisas sobre o que vem sendo feito para reconstruir Nova Friburgo tem dado margens a muitas especulações sobre a real condição da cidade em suportar a próxima temporada das chuvas. Esta semana, o vazamento de um relatório sobre a situação do morro do teleférico, emitido pelo Inea, em abril, e encaminhado ao Ministério Público estadual, aumentou a preocupação de quem reside, trabalha e estuda naquela região. Na época, técnicos do órgão, em vistoria naquela área, constataram a existência de pontos críticos e recomendaram a realização de estudos geológicos e geotécnicos, tendo em vista o “risco real de movimentação do complexo” que, além de obstruir o Rio Bengalas, teria “consequências imprevisíveis” a bens patrimoniais e pessoas.

“Temos a informação que foi o MP que oficiou o Inea. Quanto às providências, ainda não tivemos tempo para nos articular, porque só tivemos acesso ao relatório do Inea na última quarta-feira, 24. Mas, a princípio, estamos solicitando um novo encontro com representantes da Subsecretaria de Reconstrução da Região Serrana”, disse Caio Reis, da comissão representativa do Loteamento Fonte do Suspiro.

Este loteamento começa na Rua Dr. Sylvio Henrique Braune, de onde se chega de carro ao alto do Teleférico—razão pela qual a comissão também representa quem mora ou tem estabelecimento comercial funcionando nas ruas que estão em seu entorno e sob seu declive, incluindo a General Osório, a Aristão Pinto, a Travessa Braga e a Padre Luiz Yabar.

Caio Reis explica ainda que a comissão foi constituída pelos moradores, comerciantes e empresários do local logo após a catástrofe, para solicitar providências às autoridades e acompanhar o andamento desse processo, já que todos estavam muito preocupados com o perigo que poderia representar a situação do morro do Teleférico. Na época, um documento com as principais demandas da comunidade chegou a ser protocolado na Prefeitura e encaminhado ao governo do Estado, além de outros órgãos e instituições. Nele, a comissão representativa pedia, entre outras coisas, que fosse realizada a sondagem do solo, a análise das condições das encostas e das edificações com barrancos ao fundo e a implantação de uma rede de drenagem das águas pluviais.

“Até então não sabíamos da gravidade do problema, como descrito no documento. Como resultado do trabalho da comissão, participamos recentemente de uma reunião com o subsecretário Affonso Monnerat, no Colégio Anchieta, quando nos foi apresentada uma planta e relatados os projetos a serem executados pela Geomecânica, contemplando os dois escorregamentos—Teleférico e Anchieta—além do espaço compreendido entre a encosta do portão da UFF ao antigo Tiro de Guerra. Se a subsecretaria e a empresa já tinham conhecimento do conteúdo desse relatório, não é do nosso conhecimento. Por isso, esse novo encontro que estamos tentando agendar será importante para tirarmos nossas dúvidas e saber de fato o que vem sendo feito”, revelou Caio.

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