Enfim, um novo ano começa. Festejamos o Natal, a chegada de 2015, estreitamos os laços com parentes e familiares, celebramos a data cristã, reiteramos os votos de amor ao próximo e respeito aos nossos semelhantes.
É tão bom estar em paz consigo mesmo, sentir aquele estado de graça que tão raramente nos acomete. Melhor ainda é transmitir essa sensação a todos que nos cercam. Como é bom estar feliz, ser feliz. Quando estamos em família tudo nos parece mais acolhedor e seguro. Vamos deixar fluir nossos mais profundos sentimentos, sem medo ou vergonha de demonstrar nossos melhores pensamentos e torcer para que todos consigam realizar seus sonhos e conquistar o que planejaram.
Nas duas últimas semanas, famílias desfrutaram juntas de uma saborosa e abençoada ceia, em volta de uma bela mesa, em sincera confraternização. E rezamos e oramos, agradecemos a Deus por aquele momento. Ele nos ouve — creiam — e acaricia nossos corações!
Na passagem do ano, brindamos alegremente, com o coração pleno de esperança, confiantes de que dias melhores virão. Abraçamos pais, filhos, irmãos, amigos. Nas ruas, trocamos mensagens calorosas e cumprimentamos pessoas que jamais vimos e sequer sabemos seus nomes. Mas, pouco importa, tudo foi dito, tudo foi feito com pureza d’alma.
Hoje, não tem receita. É sábado, dia 3 de janeiro de 2015, a geladeira, o freezer, os armários estão cheios de restinhos de comida: peru, tender, chester, pernil, arroz, saladas, rabanadas, tortas, geleias, palitinhos doces e salgados, ervas, etc, etc, etc. Façam risotos, salpicões, mexidinhos, escondidinhos, juntem e misturem o que encontrarem, à vontade, e tenham certeza, vai dar certo, no fim vai ficar tudo uma delícia. Até mesmo aquele prato com jeito de gororoba. Eita, coisa gostosa!
Afinal, passei todo o ano dando um monte de receitas, dicas e contando segredinhos culinários pra vocês, meus queridos leitores. Portanto, não há mistério! E aí, diante do desconhecido, do que está por vir, me pego perguntando, ou melhor, pensando em poesia, que tem tudo a ver com gastronomia. E aqui, sentado ao lado de Drummond, nesse início de ano, olho pra ele e devolvo a pergunta:
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
FELIZ ANO NOVO!
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