Gastronomia - 4 a 6 de junho 2011

Por Chico Figueiredo
sexta-feira, 03 de junho de 2011
por Jornal A Voz da Serra

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- Eu adoro comer e fazer feijoada! Este poema foi lido por mim no CVT – Café Literário – e me deu vontade de dividi-lo com todos vocês! Espero que gostem! Ainda mais sendo de Vinícius de Moraes! E hoje é dia de feijoada!

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FEIJOADA – Um dos mais famosos pratos regionais do país, é uma técnica portuguesa aliada a ingredientes nacionais. Com cerca de um século de existência, até finais do século XIX não apresentava as características que tem hoje. Inicialmente era uma comida de escravos, mais simples e rudimentar, de grãos e partes do porco desprezadas pelos senhores. Hoje é cozido de feijão-preto e carnes (lombo, carne-seca, toucinho, linguiça, pé de porco, orelha, rabo de porco etc.), bastante temperado com um refogado de cebola, alho, louro e gordura, acrescido de sal e pimenta. Serve-se acompanhado de arroz branco, fatias de laranja, couve cortadinha e refogada, farofa e molho de pimenta. Na Bahia, a feijoada é preparada com feijão-mulatinho, e não com feijão-preto, usado no Sul e Sudeste.

receitas

FEIJÃO GORDO

INGREDIENTES: Um quilo de feijão-preto, catado, 500g de carne-seca, demolhada, 500g de costelinhas frescas e levemente fritas (seladas), 1 linguiça portuguesa em rodelas, 2 paios em rodelas, 250g de bacon, cortados em pedacinhos, 3 colheres de sopa de óleo, 1 cebola, cortada em pedacinhos, 5 dentes de alho, espremidos, 3 folhas de louro, sal e pimenta-do-reino a gosto.

MODO DE PREPARO: Coloque numa panela de pressão grande o feijão, a carne-seca, o paio, a linguiça e o louro. Deixe cozinhar por 30 minutos. Abra a panela e coloque as costelinhas seladas e cozinhe por mais 15 minutos. Faça um refogado com o óleo, até que o bacon fique dourado. Acrescente o alho e a cebola e refogue bem. Coloque uma concha de caldo do feijão e deixe apurar. Verifique o sal e acerte-o se for necessário e acrescente a pimenta. Misture ao feijão deixando pegar gosto. Sirva com rodelas de pão ou uma bela guarnição de feijoada.

RENDIMENTO: 12 porções.

NOTAS: O feijão gordo é parente da feijoada, principalmente para aqueles que querem rapidez ou por preguiça. Podem ser colocadas as carnes que o leitor preferir! Esse feijão é excelente para uma roda de samba, de “causos”, ou de amigos que adoram uma cachaça! Reúna o seu grupo, sendo ele qual for!

BOM APETITE!

Feijoada à minha moda – Vinícius de Moraes

Amiga Helena Sangirardi

Conforme um dia prometi

Onde, confesso que esqueci

E embora — perdoe — tão tarde

(Melhor do que nunca!) este poeta

Segundo manda a boa ética

Envia-lhe a receita (poética)

De sua feijoada completa.

Em atenção ao adiantado

Da hora em que abrimos o olho

O feijão deve, já catado

Nos esperar, feliz, de molho

E a cozinheira, por respeito

À nossa mestria na arte

Já deve ter tacado peito

E preparado e posto à parte

Os elementos componentes

De um saboroso refogado

Tais: cebolas, tomates, dentes

De alho — e o que mais for azado

Tudo picado desde cedo

De feição a sempre evitar

Qualquer contato mais… vulgar

Às nossas nobres mãos de aedo.

Enquanto nós, a dar uns toques

No que não nos seja a contento

Vigiaremos o cozimento

Tomando o nosso uísque ontherocks.

Uma vez cozido o feijão

(Umas quatro horas, fogo médio)

Nós, bocejando o nosso tédio

Nos chegaremos ao fogão

E em elegante curvatura:

Um pé adiante e o braço às costas

Provaremos a rica negrura

Por onde devem boiar postas

De carne-seca suculenta

Gordos paios, nédio toucinho

(Nunca orelhas de bacorinho

Que a tornam em excesso opulenta!)

E — atenção! — segredo modesto

Mas meu, no tocante à feijoada:

Uma língua fresca pelada

Posta a cozer com todo o resto.

Feito o quê, retire-se o caroço

Bastante, que bem amassado

Junta-se ao belo refogado

De modo a ter-se um molho grosso

Que vai de volta ao caldeirão

No qual o poeta, em bom agouro

Deve esparzir folhas de louro

Com um gesto clássico e pagão.

Inútil dizer que, entrementes

Em chama à parte desta liça

Devem fritar, todas contentes

Lindas rodelas de linguiça

Enquanto ao lado, em fogo brando

Dismilinguindo-se de gozo

Deve também se estar fritando

O torresminho delicioso

Em cuja gordura, de resto

(Melhor gordura nunca houve!)

Deve depois frigir a couve

Picada, em fogo alegre e presto.

Uma farofa? — tem seus dias…

Porém que seja na manteiga!

A laranja gelada, em fatias

(Seleta ou da Bahia) — e chega

Só na última cozedura

Para levar à mesa, deixa-se

Cair um pouco da gordura

Da linguiça na iguaria — e mexa-se.

Que prazer mais um corpo pede

Após comido um tal feijão?

— Evidentemente uma rede

E um gato para passar a mão…

Dever cumprido. Nunca é vã

A palavra de um poeta… — jamais!

Abraça-a, em Brillat-Savarin

O seu Vinicius de Moraes

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