Gastronomia - 01/12/2012

- QUANTO MAIS VOU A MINAS, MAIS ME APAIXONO – Parece que a vida para no tempo quando chegamos a Belo Horizonte: o nome já diz tudo, vai muito além do que nossas existências inteiras podem alcançar. A visão do Palácio das Artes está ali, exalando cultura em sua imponência. Brumadinho, com seu grandioso Instituto Inhotim, com mais de 500 obras de mais de 100 artistas de todo o mundo e seus jardins e lagos exuberantes que nos faz refletir como a vida pode ser bela ao convivermos com arte. Ocuparia o espaço de todo o jornal para falar de Inhotim, exaltar sua grandeza. Mas, resumindo, é simplesmente o maior museu a céu aberto do mundo. Ouro Preto é outro encanto que jamais me canso de admirar. Suas ruas, vielas e ladeiras, mais a Praça Tiradentes, nos recebendo com aquela inigualável sensação de liberdade pairando no ar. 

Tive o prazer de rever amigos e entregar em mãos os perfis feitos por mim a Cida Zurlo, dona de uma cachaçaria de tirar o chapéu, a Milagre de Minas. Cida é encantadora. Entreguei também o jornal A Voz da Serra ao comunicativo e atencioso Giovanni Borges, garçom do tradicional Casa do Ouvidor, onde somos sempre muito bem recebidos. Tivemos o prazer de assistir ao show do mais que mineiro Paulinho Pedra Azul, no Teatro Municipal—construído em 1770—, dando uma aula de boa música e contando hilariantes “causos”. E Mariana, onde fomos envolvidos pelo belíssimo som de um concerto de órgão? 

Bom, Tiradentes. Sua gastronomia e pousadas são como cerejas do bolo. Ficamos hospedados na aconchegante Pousada d’Óleo de Guignard, onde a proprietária Karin von Smigay exibe, orgulhosamente, um retrato seu pintado pelo friburguense Alberto da Veiga Guignard. Quer mais? Tem. Só vou adiantar que vem por aí parceria com o Gama! E ainda vale a pena, mesmo que pela décima vez, dar uma volta na rica São João Del Rey: uma verdadeira viagem através de sua história, arte, cultura e gastronomia, rodeado pelo receptivo povo mineiro. 

Enfim, Minas Gerais é ou não é, um “país”? E olha que isso aí descrito é só um pouquinho das Minas Gerais e do nosso Brasil. Vivas para aquelas terras tão gentis! Viva Cida e Giovanni! Viva a Voz da Serra abrindo caminhos entre as mágicas montanhas mineiras! Vale muito a pena conhecer esse roteiro.  

ORA-PRO-NOBIS - (Pereskia aculeata), do latim “rogai por nós”, é uma cactácea, um cacto trepadeira com folhas. Tem espinhos e pode ser usada em cercas-vivas, desenvolvendo-se bem tanto na sombra como no sol. Originária do continente americano, encontram-se variedades nativas dessa hortaliça perene, rústica e resistente à seca da Flórida, nos Estados Unidos, à região sudeste do Brasil. Segundo tradições populares, o nome teria sido criado por pessoas que colhiam a planta no quintal de um padre, enquanto ele rezava em latim: Ora pro nobis. O nome científico é uma homenagem ao cientista francês Nicolas-Claude Fabri de Peiresc, e o termo aculeata vem do latim e significa espinho, agulha. Acredita-se que o cultivo em larga escala do ora-pro-nobis poderia representar uma revolução nos recursos alimentícios da humanidade, devido a seu fácil cultivo, grande produção e alto valor nutricional.

NA GASTRONOMIA - É um vegetal rico em ferro, portanto, ajuda a curar anemias das mais graves. Usa-se como o orégano, em forma de folha seca e moída. Também é usada no preparo da farinha múltipla, complemento nutricional no combate à fome. Suas folhas são ricas em mucilagem, que contribui para o bom funcionamento do intestino. As folhas secas e moídas são usadas em diferentes receitas, especialmente em sopas, omeletes, tortas e refogados. Muita gente prefere consumir as folhas cruas em saladas, acompanhando o prato principal. Outros as usam como mistura para enriquecer farinha, massas e pães em geral. É servido cotidianamente nas cidades históricas do estado de Minas Gerais, onde a planta é mais popular.

Ainda há o emprego para a produção de mel e possui 25,4% de proteínas, sendo, por isso, conhecido como “carne dos pobres”: contém vitaminas A, B e C bem como, além do ferro, minerais como cálcio e fósforo.

NO CULTIVO - A variedade tem flores brancas, quando é mais adequada para consumo, e suas folhas podem ser ingeridas refogadas ou mesmo cruas. As flores também são comestíveis. A variedade comestível tem miolo alaranjado e folhas pequenas e suculentas. O ora-pro-nobis é propagada por meio de estacas plantadas em solo fértil enriquecido com matéria orgânica e, depois de enraizadas, são transplantadas para um local definitivo. Serve também para alimentação animal, in natura ou na ração, barateando os custos da produção. O ora-pro-nobis não pode ser confundido com a grandiflora ou a bleo que têm flores rosa (muito comuns no Brasil, e difíceis de serem diferenciadas sem a florada).

NO BRASIL - Encontrado em diversos estados do Brasil, em algumas localidades atingiu o status de ingrediente culinário, onde é refogado com vários tipos de carnes, também empregado em ensopados. Na cidade de Sabará, existe o Festival do Ora-pro-nobis, onde é comum utilizar a cactácea para pratos culinários. Em Sabará, também teria surgido a lenda de que o nome ora-pro-nobis refere-se a uma lenda: numa determinada época, quando as pessoas colhiam a planta no quintal da casa de um pároco, ele sempre rezava uma ladainha. Em Tiradentes, outra cidade brasileira de Minas Gerais, também há restaurantes que utilizam o ora-pro-nóbis, sendo apreciado o frango com este vegetal.

ORA-PRO-NOBIS REFOGADA

Ingredientes: 1 maço de ora-pro-nobis limpa, lavada e escorrida, 2 colheres de sopa azeite de oliva, 2 dentes de alho amassados, 1 cebola pequena bem picada e sal e pimenta-do-reino a gosto.

Modo de preparo:

1. Ponha a verdura numa panela somente com a água que ficou nas folhas, tampe e leve ao fogo médio até cozinhar (cerca de 5 minutos).

2. Escorra bem, ponha na tábua de cozinha e bata com a lâmina de uma faca, picando bem.

3. Numa panela aquecida junte o azeite, o alho e a cebola, mexendo sempre até dourar levemente. Acrescente a verdura cozida e refogue, mexendo sempre por cerca de 3 minutos. Tempere com sal e pimenta a gosto, misture bem e sirva em seguida.

Rendimento: 6 porções.

Notas: Ora-pro-nobis é exelente com frango refogado. Sabe aquele frango que a gente faz em casa bem moreninho e bem temperado? Então. Acrescente as folhas da verdura e deixe cozinhar por alguns minutos. É um prato regional mineiro que eu adoro e como sempre como quando vou a Minas. Ainda bem que agora tenho plantado na janela do meu apartamento. E olha que pega que nem mato. E é muito bom!

BOM APETITE!!!