O Grupo de Arte, Movimento e Ação (Gama) premiou mais um artista com o troféu Alberto da Veiga Guignard, concedido a talentos da arte e da cultura que atuam em Nova Friburgo. O homenageado deste ano foi o artista plástico Luiz Murce, que recebeu o troféu em solenidade realizada na noite do último sábado, 7, no teatro do Centro de Arte. Autoridades e representantes do setor cultural prestigiaram o evento, que teve como convidada especial a pesquisadora e artista plástica capixaba Marieta Moschen, uma especialista em Guignard.
A cerimônia foi aberta com o Hino de Nova Friburgo, cantado por June Mastrângelo. Em seguida, Teleco Ventura apresentou a canção de sua autoria Minha cidade e Thiago Guzzo interpretou Homem da montanha, de Benito di Paula. Após os números musicais o apresentador Paulo Carvalho leu um breve relato sobre as iniciativas de resgate à memória de Guignard realizadas na cidade nos últimos 30 anos. Entre elas estão a gincana de pintura em homenagem ao pintor, em 1978, a Casa da Criança do Nova Friburgo Country Clube, que ganhou o nome de Guignard em 1987, e a inauguração da praça e do monumento ao artista de fama internacional, em 2007, ano que também marcou o início da entrega do troféu.
Detalhes e curiosidades sobre a vida e a obra do pintor foram tema da palestra proferida por Marieta, que prendeu a atenção do público. Nascido em 25 de fevereiro de 1896 em uma casa na Rua Três de Janeiro, atual Ernesto Brasílio, o artista é um dos maiores nomes da arte moderna brasileira e teve uma carreira repleta de prêmios e exposições no Brasil e no exterior. Apesar disso, Guignard é pouco divulgado em sua terra natal, daí a iniciativa do Gama.
Filho de Alberto José Guignard e Leonor Augusta Guignard, o pintor iniciou sua formação acadêmica em 1915 e foi influenciado por artistas como Botticelli, Da Vinci, Rembrandt, Matisse e Rousseau. A partir de 1925, conforme destacou Marieta, ele se liberta dos estudos de formação e passa a ter uma carreira marcada por fases temáticas que vão das pinturas de cenários cariocas, naturezas-mortas, flores e autorretratos aos temas religiosos, épicos e surrealistas.
Uma história marcada por dramas
A vida pessoal de Guignard, marcada por traumas de infância e paixões não correspondidas, também foi abordada pela pesquisadora em sua palestra, intitulada O lirismo de Guignard. O suicídio do pai presenciado na infância; a sensação de rejeição provocada por ter nascido com lábio leporino; o abandono da primeira mulher, a alemã Ana Doring, em plena lua-de-mel; os amores platônicos; os conflitos, o alcoolismo e as crises de depressão do pintor friburguense foram algumas das passagens citadas pela estudiosa. “O amor mais duradouro de Guignard foi pela pianista paulista Amalita Fontenelle, para quem ele fez um álbum com cem desenhos românticos. A obra encontra-se no museu Casa Guignard em Ouro Preto (onde o pintor está sepultado), mas esse acervo deveria estar em Nova Friburgo”, destacou a palestrante.
Ao fim, Marieta recebeu uma homenagem especial do Gama por sua dedicação e empenho no trabalho de pesquisa e divulgação de Guignard. A entrega foi feita pelo prefeito Heródoto Bento de Mello, que prestigiou a solenidade ao lado de vários secretários municipais. Ele confidenciou à pesquisadora ter aprendido muito sobre o pintor com a palestra e confessou seu arrependimento por não ter adquirido um quadro de Guignard à venda no Centro de Arte nos anos 60.
O ponto alto da noite foi a entrega do troféu Guignard ao artista plástico carioca Luiz Murce, feita pelo secretário municipal de Cultura, Roosevelt Concy. Ao receber a homenagem ele fez um agradecimento especial ao Gama e uma declaração apaixonada a Nova Friburgo, onde reside há 16 anos. “Eu me considero já um friburguense. Acho esta cidade maravilhosa pelo clima, suas montanhas e suas mulheres, que são as mais bonitas do Brasil. Estou me sentindo um pop star com essa homenagem e isso para o artista é muito bom. Estamos aí para engrandecer e embelezar a cidade”, disse ele, que cantou um trecho de uma música de Tim Maia em retribuição à homenagem.
Ao fim da cerimônia, o artista plástico Felga de Moraes, autor do troféu; o presidente do Gama, Chico Figueiredo; e o fundador do grupo, Julio Cézar Seabra Cavalcanti, o Jaburu, subiram ao palco para um breve discurso. “O Gama é um grupo singular, porém, plural e está relacionado com várias atividades culturais na cidade. Desde 1977 estamos trabalhando com Guignard com o objetivo de divulgá-lo aos friburguenses e torná-lo referência e motivo de orgulho para nós”, declarou Jaburu.
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