O Grupo de Arte Movimento e Ação (Gama), presidido pelo ator Chico Figueiredo, decidiu homenagear o cantor e compositor friburguense Benito di Paula com a criação do Dia Municipal da Música – Benito di Paula, com proposta de ser comemorado todo ano no dia 28 de novembro, data de aniversário do cantor. Até o troféu comemorativo da data já foi criado pelo artista e integrante do Gama, Felga de Moraes. Para que a proposta fosse oficializada, a equipe do Gama procurou o vereador Isaque Demani (PR), que se mostrou sensível ao pleito e apresentou projeto de lei à Câmara Municipal, que o aprovou e segue agora para sanção do prefeito Heródoto Bento de Mello.
O PROJETO – Fruto da sintonia havida entre o vereador Isaque Demani e o Gama, esse projeto cultural foi aprovado em segunda discussão no dia 15 de julho passado. Isaque manifestou sua esperança de que Heródoto o iria sancionar e que tinha certeza absoluta que será uma data marcante no calendário do município, “além de prestar uma justíssima homenagem ao Homem da Montanha”, referindo-se a Benito di Paula.
Isaque Demani justificou seu projeto citando que primeiramente é obrigação daqueles que amam Nova Friburgo colaborar para o enriquecimento dos eventos culturais do município. Tendo sido procurado pelo Gama, imediatamente fez coro com a ideia de que deveria ser criado um dia oficial no calendário festivo da cidade para eventos da arte musical.
O CANTOR E COMPOSITOR – Benito di Paula nasceu em Nova Friburgo, filho de uma família de 13 irmãos. Herdou do pai a influência musical que o levaria a ser um dos nomes fortes do samba nos anos 70 e 80.
Ainda jovem, Benito integrou um conjunto como crooner, apresentando-se em bailes estudantis de fins de semana em Nova Friburgo. Desta forma ele era obrigado a cantar todos os gêneros musicais. Até que um dia resolveu se lançar totalmente às suas ambições artísticas, partindo de sua cidade em troca da cidade grande, como ele viria a cantar um dia. Nela, Benito sofreu muito até conseguir impor seu trabalho. Mas se esse tempo foi de muita dificuldade financeira, também foi quando Benito manteve contato com sambistas autênticos e somou novas experiências que o levariam a cantar em diversas casas noturnas.
Nessa época o iê-iê-iê imperava na terra do samba. E Benito não estava disposto a abrir mão de seu estilo. “Lá, meu camarada, era realmente impossível. O pessoal estava mais interessado no som importado do que no nacional. Era uma luta conseguir tocar e cantar música brasileira e agradar”.
Em seguida, Benito morou durante dois anos na cidade de Santos, onde pela primeira vez formou seu próprio conjunto. Cantando e tocando piano, Benito apresentou-se em diversas boates, até que em pouco tempo conseguiu contrato com a gravadora Copacabana.
Apesar de um estilo diferente de fazer samba (quase sempre ao piano, com interpretação chorosa ou exaltada e trajando fraque), Benito lançou o estilo brega-chique. Ainda não era conhecido pelo público – razão pela qual seu primeiro trabalho na Copacabana foi produzido com composições de autores consagrados, contando também com quatro músicas de autoria de Benito (Eu gosto dela, Preciso encontrar você, Você vai ser alguém e Longe de você, esta última em parceria com Carlos de Carvalho). Nesse disco long play (LP), gravado em 1971, havia composições de Chico Buarque de Hollanda, Taiguara, Vinicius de Moraes, Tim Maia, Ivan Lins, Paulinho Nogueira, Roberto e Erasmo Carlos.
O segundo LP de Benito foi Ela, também gravado pela Copacabana, mas foi só a partir de seu terceiro trabalho, Um novo samba, gravado em 1973, que ele passou realmente a integrar a restrita galeria de grandes sucessos comerciais, com constantes aparições em programas de TV e 150 mil cópias vendidas, tendo duas músicas deste disco sido gravadas por intérpretes de outros países: sua obra maior Retalhos de Cetim, por Paul Mauriat, e Violão não se empresta a ninguém, lançado no Japão, com imenso sucesso.
Em 1975, Benito di Paula tem compromissos firmado com o México, Japão, EUA; seu LP é lançado na Argentina, com uma vendagem bem acima da esperada e cede uma música sua para o LP de Roberto Carlos, que faria grande sucesso – Quero ver você de perto. Diversos intérpretes brasileiros gravam músicas de autoria de Benito.
Em seu próximo LP Benito solta-se ainda mais, tendo músicas que aparecem nas paradas de sucesso, como Meu amigo Charlie Brown, feita em homenagem ao personagem de Schultz, que era uma de suas leituras prediletas.
Ainda em 1975, Benito passa a apresentar um programa de música verdadeiramente brasileira na TV, o Brasil Som 75, com uma audiência espetacular. Esse programa gerou um LP, onde Benito e seus convidados cantam uma série de sucessos que perduram até hoje.
Já em 1976, Benito di Paula é sucesso consagrado, apresentando-se na Boate Vivará, no Rio, onde faz um show produzido por Augusto Cesar Vanucci e orquestrações de Radamés Gnatalli, que dura até março de 1977, tendo suas reservas esgotadas com duas semanas de antecipação. Benito se apresenta de terça-feira a domingo, com o Grupo Tempero e uma orquestra de 42 músicos. Seus LPs vendem em média 600 mil cópias. A Copacabana, gravadora que lançou Benito, passa a trabalhar 24 horas seguidas para atender aos milhares de pedidos de lojas para serem entregues antes do Natal.
Em 1977 Benito lança novo LP, outro sucesso de vendagem. O pedido inicial soma mais de 400 mil cópias e Benito prepara excursão pela Europa, iniciando pela Itália. No ano seguinte seu LP sai com uma particularidade: pronto para ser prensado, Benito telefona pedindo para incluir mais uma música – 30 anos de Saudade – composta e com arranjos feitos de uma só vez, numa só noite, em homenagem aos Unidos da Saudade, time de futebol que virou escola de samba.
Benito compôs diversas trilhas para novelas como Nino, o italianinho, Simplesmente Maria, entre outras, e ganhou o prêmio Chico Viola, promoção da TV Record com sua música Faça de mim uma ilha.
Figura rara na aparência, com smoking, bigodão e costeletas, Benito é fruto de uma safra de sambistas brasileiros que apesar de não trazerem influências diretas do calor do morro, da pureza primitiva, traz um samba bem brasileiro, influenciado pelo luxo das casas noturnas das capitais.
“Assim, nada mais justo ser esse nosso notável conterrâneo, que inclusive é comendador, referenciado no Dia Municipal da Música”, comentou o vereador Isaque Demani ao defender a aprovação de seu projeto na Câmara Municipal.
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