Fundação Raphael Jaccoud reúne amantes da saudosa maria-fumaça

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Fundação Raphael Jaccoud reúne amantes da saudosa maria-fumaça
Fundação Raphael Jaccoud reúne amantes da saudosa maria-fumaça

Dalva Ventura

Um dia para ficar na história. Esta foi, sem dúvida, a sensação de todos os que compareceram ao auditório do Sesc na sexta-feira, 6, quando foi oficialmente inaugurada a Fundação Educacional e Cultural Raphael Jaccoud. Ali estavam certamente muitos amantes da saudosa maria-fumaça, que encantou gerações de friburguenses e impulsionou o desenvolvimento regional.

Além de resgatar a memória ferroviária de Nova Friburgo, a nova fundação pretende preservar e valorizar todo o rico acervo do engenheiro civil, pesquisador e historiador Raphael Luiz de Siqueira Jaccoud, falecido em 2007. O primeiro empreendimento da recém-criada Fundação Cultural Raphael Jaccoud será a criação do Museu do Trem, reunindo fotos, réplicas, objetos, maquinário, além de muitos documentos que mostrarão um pouco da rica história do trem que passava pelo Centro e as serras de Nova Friburgo, no trajeto de Cantagalo ao Rio de Janeiro. Sonha-se até em dotar o museu do trem de uma maria-fumaça toda restaurada. O museu se chamará Estação João Cardoso, em homenagem a um ex-ferroviário da cidade.

A ideia surgiu há mais de 15 anos, desde que Álvaro Luiz Lattanzi Rocha e Carlos Alberto Monnerat começaram a realizar exposições com peças e fotos contando a história do trem em Nova Friburgo. Verdadeiros apóstolos da memória ferroviária, sonhavam em criar um museu na cidade que mantivesse viva a lembrança do nosso trem. Mas a luz no fim do túnel só surgiu quando foram procurados por Ordilei Alves da Costa, que realizava uma pesquisa sobre a ferrovia em Nova Friburgo. Aos poucos, outros apaixonados por trem foram se agregando ao grupo inicial, como o presidente da entidade recém-criada, o empresário Elgimar Taveira Neves, e o consultor Marcelo Guedes Seixas. O grupo cresceu rapidamente e logo passou a contar com 11 pessoas. Entre os cotados para dar nome à associação estava o comendador Raphael Jaccoud, que sempre pesquisou e promoveu a história do município. Procurada para autorizar o uso do nome de seu marido, sua viúva, Wanda, logo se integrou ao movimento, tornando-se uma de suas mais ativas participantes.

Todos amantes do trem

A abertura do evento foi feita por Vitor José Ferreira, presidente do Movimento de Preservação Ferroviária e autor dos livros O trilho e a flor e Estórias do trem, que falou sobre a importância não apenas de resgatar o passado, como de revitalizar os transportes sobre trilhos. “Fiquei feliz quando fui informado de que em Friburgo estes dois vetores estão sendo cuidados: o resgate da memória ferroviária e a revitalização do transporte sobre trilhos, através do projeto do trem do futuro”, afirmou.

Em seguida, parabenizou o prefeito Heródoto Bento de Mello por sua coragem e sua visão de olhar para o passado e para o futuro. “O objetivo da Fundação Raphael Jaccoud vem muito ao encontro do que nós acreditamos. É preciso cultivar todo este patrimônio rico que nós temos, não apenas o ferroviário, mas também ambiental, ecológico, enfim, em todas as dimensões. Também é gratificante saber que vocês estão desenvolvendo aqui o projeto do trem do futuro antes de chegar num patamar de crescimento em que as coisas fiquem mais difíceis”, afirmou, lembrando que o trem representa uma solução para o transporte urbano, por ser mais ecológico, mais econômico, confortável e muito menos poluente. “Oxalá todas as cidades pensassem nisso e fizessem este projeto”, declarou.

A produtora cultural e diretora da empresa Notícias & Cia, jornalista Regina Perez, falou sobre os caminhos a trilhar para conseguir recursos capazes de viabilizar o projeto de preservação ferroviária. Intensamente vinculada ao setor ferroviário, Regina foi editora da Revista Ferroviária e responsável por uma pesquisa que levou dois anos para ser concluída e catalogou 409 locomotivas em 220 cidades, de um extremo a outro do país. “Encontramos locomotivas nos mais variados estados: bem conservadas, deterioradas, estáticas, cobertas de mato, de ferrugem, na beira do mar, algumas se transformaram em verdadeiras carcaças”, conta, mostrando fotos.

Uma vez constatada a dura realidade, Regina partiu para um projeto piloto de recuperação de uma delas. A escolhida foi uma máquina que havia escapado da fúria do maçarico, nos anos 70, quando houve uma ordem do governo militar de cortar e vender as máquinas ainda existentes. A sortuda estava na cidade onde nasceu Santos Dumont, em Minas Gerais. Durante 30 anos, a máquina, que tinha ganhado o nome da primeira Miss Brasil, Zezé Leone, ficou em exposição e, apesar de ter permanecido durante anos ao tempo, recebia uma certa manutenção.

Quando a oficina de manutenção da Rede Ferroviária existente na cidade foi fechada, a máquina foi abandonada e depredada. Então, por iniciativa dos antigos ferroviários, foi retirada da rua e colocada numa oficina, onde ficou guardada por dez anos, até ser resgatada pelo projeto. Orgulhosa, Regina mostrou fases do trabalho de restauração, que foi feita no prazo recorde de dois anos e, depois, da máquina estalando de nova. Mais interessante ainda foi assistir ao filme de três minutos com a locomotiva já operacional desfilando pela cidade. O passo seguinte, no qual Regina está mergulhada no momento, será fazer a restauração dos carros. Com isso, Santos Dumont ganhará um trem cultural, que fará um percurso de dois quilômetros e meio, transformando-se na principal atração turística da cidade.

A jornalista ressaltou que existem recursos para financiar projetos deste tipo, tanto da iniciativa privada, através da Lei Rouanet, como do governo, colocando-se à disposição do município para levar adiante projetos neste sentido. “Mas para ter acesso a esses recursos é preciso saber como administrá-los. Os prazos têm que ser rigorosamente cumpridos, dentro de um organograma rígido, a aplicação dos recursos, a prestação de contas, tudo isso tem que ser muito bem controlado. Esta é a fórmula para se realizar com sucesso iniciativas deste tipo”, declarou.

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