Quem procurou atendimento na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), no distrito Conselheiro Paulino, nesta quarta-feira, 23, recebeu dos funcionários a orientação para procurar o Centro de Tratamento de Urgências (CTU) do Hospital Municipal Raul Sertã. Com o salário de dezembro atrasado, além do não pagamento de benefícios como vales-alimentação e transporte, a equipe de médicos, enfermeiros, técnicos e seguranças da unidade de saúde, que recebe por dia em média 300 pacientes, se manteve no local apenas para atendimento de emergências.
Com a mulher sentindo dores no peito e acompanhado dos dois filhos, Érico Moraes foi um dos que se não conseguiu atendimento. A família não sabia da greve que desde a terça-feira, 22, à tarde, começou a ser comentada nas redes sociais: “Não sabia que eles (os funcionários da UPA) iam paralisar o atendimento. Minha esposa está desde cedo reclamando de dor, então decidimos vir na UPA para uma avaliação”, conta Érico.
Apesar da frustração em não serem atendidos, boa parte dos pacientes que estiveram na unidade enquanto a equipe de A VOZ DA SERRA esteve no local se solidarizam com a situação dos funcionários. Em 20 minutos, pelo menos sete pessoas buscaram a UPA (foto). Para evitar tumulto, os profissionais da unidade recebiam à porta quem chegasse e explicavam o motivo da paralisação: “Estamos atendendo apenas emergências. Estamos fazendo uma manifestação por causa da falta de pagamento. Pedimos desculpas, mas no momento é necessário buscar atendimento no Raul Sertã”.
Buscando um dentista, a aposentada Lenita Tinoco, ouviu atentamente a explicação de um segurança do local, agradeceu e desejou boa sorte: “Eles têm família, contas a pagar, precisam receber. Ninguém trabalha por esporte, as pessoas precisam do emprego e ninguém deve trabalhar de graça. Todas as vezes que estive aqui sempre foi muito bem atendida, não tenho do que reclamar. Espero que isso se resolva logo”, destaca.
Despesa de R$ 1 milhão
A gestão das UPAs é feita pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), de forma compartilhada com Organizações Sociais de Saúde (OSs). No caso da unidade de Nova Friburgo, a OS é a Unir Saúde, que responde por um contrato de cinco anos que termina daqui a três meses. Em Nova Friburgo, desde que o estado entrou em crise financeira, há ainda uma contrapartida da prefeitura, que vem destinando valores para ajudar a manter a UPA em funcionamento.
A Unir foi procurada para comentar a paralisação, mas a orientação recebida foi de que as indagações fossem feitas a SES e ao município. Em nota, a Prefeitura de Friburgo se posicionou sobre a situação da UPA, informando que, por meio da da Controladoria Geral do Município, a Unir deixou de recolher, entre os meses de janeiro e novembro do ano passado, R$ 447.456,59 de FGTS dos funcionários da UPA e não repassou ao INSS a quantia de R$ 398.804,89.
O que diz a prefeitura
Sobre o pagamento, o município informou que é referente ao mês de novembro, e não dezembro, e que somente foi comunicado pela organização gestora sobre o parcelamento dos débitos previdenciários nesta quarta-feira, 23.
“A Prefeitura de Nova Friburgo vem fazendo um grande esforço financeiro para manter a UPA em pleno funcionamento, já que o Governo do Estado não cumpre com sua parte no pagamento. Já são mais de R$ 20 milhões investidos, além do orçamento previsto. O pagamento será referente a novembro e só não aconteceu nesta quarta, porque a liberação dependia da publicação de um decreto de remanejamento orçamentário. Já o pagamento de dezembro só será liberado quando a OSs comprovar sua regularidade junto ao INSS e FGTS”, diz a nota da prefeitura.
A previsão é que o valor do repasse, que de acordo com o município seria de R$ 1,9 milhão, seja transferido para a organização gestora nesta quinta-feira, 24. A SES também foi procurada, mas não enviou posicionamento até o fechamento desta edição.
Segundo um funcionário da UPA que não quis dar entrevista, mas conversou informalmente com a equipe de A VOZ DA SERRA, toda a equipe se manterá de braços cruzados até que o salário seja depositado na conta bancária: “Todos os funcionários estão presentes, pela manhã e tarde são quatro clínicos gerais, dois pediatras e um dentista. À noite ficam de plantão três clínicos e dois pediatras, chegando ao total de 12 médicos por dia, além de enfermeiros e técnicos. Estamos encaminhando os atendimentos ambulatoriais para o hospital municipal, mas continuamos atendendo emergências, inclusive estamos com pacientes internados na sala amarela”, disse o funcionário.
Ainda de acordo com ele, a mobilização diz respeito apenas ao atraso do pagamento de dezembro e dos vales: “O 13º salário está em dia. E os valores referentes ao FGTS e ao INSS, foram repactuados, já existe um acordo vigente e eles estão sendo pagos de forma parcelada. O que estamos esperando é o depósito de aproximadamente R$ 1, 2 milhão, que é o valor referente a gestão plena, onde estão incluídos: pagamentos, alimentação, insumos, raio-x, tudo que é necessário para o funcionamento mensal da unidade”, completou ele.
Um outro detalhe citado pelo funcionário foi a antecipação da equipe para que a paralisação fosse legítima: “Eles registraram as intenções na 151ª DP e também junto ao Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), seguindo o protocolo”.
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