Friburguense criou a maior plataforma de projetos pedagógicos do Brasil

Na Estante Mágica de Pedro Concy, mais de 250 mil crianças já publicaram o próprio livro gratuitamente
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Pedro Concy e Robson Melo, os criadores da Estante Mágica
Pedro Concy e Robson Melo, os criadores da Estante Mágica

Foi a inquietude própria dos jovens, misturada com o inconformismo percebido no modelo educacional, que uniu Pedro e Robson, dois jovens apaixonados por livros, em 2009. Decididos a fazer alguma coisa para melhorar o cenário da leitura, que consideravam desolador, se dispuseram a enfrentar o desafio de, simplesmente impactar o mundo. Assim surgiu o projeto Estante Mágica, hoje considerado a maior plataforma de projetos pedagógicos do Brasil.

O friburguense Pedro Concy, 31 anos, e o carioca Robson Melo, 32, são graduados em Direito - UFF e Uerj, respectivamente. Nos seus primeiros anos de vida, Pedro falava muito pouco, o que era motivo de preocupação para seus pais. Para incentivá-lo a falar, eles o presenteavam com livros. “Invariavelmente, eu ganhava livros de presente em toda data comemorativa. “Desde criança, sempre li muito e isso fez toda a diferença na minha vida escolar e acadêmica. Ficou mais fácil aprender qualquer coisa a partir do gosto pela leitura”, lembra.

Os dois amigos concordaram em abrir mão de suas carreiras no meio jurídico e percorrer o universo das escolas para descobrir os caminhos para ajudar a transformar a educação. “Alguns anos e mais de cem mil alunos depois, a Estante Mágica se reinventou e descobriu que não importa tanto aquilo que as crianças sabem, mas como aplicam o que sabem.

Hoje, Robson e Pedro desenvolvem projetos pedagógicos para alunos de educação infantil e ensino fundamental I que contribuem para o desenvolvimento de competências que serão utilizados não somente no vestibular, mas também na vida”, informa o blog da Estante.

O projeto baseia suas relações em sete pilares: encantamento, transformação, curiosidade, ownership (sentimento de dono), autonomia, família, diversão. Cada um deles carrega os valores do dia a dia do grupo. “Nossa equipe é nossa família e a diversão tá em cada momento na Estante. Afinal, nossa jornada é intensa e desafiadora. Viemos para transformar o mundo pela educação”, explicam os sócios.

Nesta entrevista com Pedro, conheça esse projeto, cuja receita é: “uma colher de inconformismo, duas pitadas de diversidade, quatro doses de paixão. Esta é a fórmula que vem transformando a educação de nossas crianças todos os dias”.

AVS: Quem são os responsáveis pela elaboração da pedagogia dos projetos, como eles são definidos?

Pedro Concy: A maioria dos nossos projetos nasce de interações com as escolas - seja por enxergamos uma oportunidade, seja por avaliarmos uma experiência bem sucedida em determinada instituição. A partir disso, mobilizamos nosso time para idealizar o projeto. A revisão passa por um time de especialistas interno e é apresentado aos professores para críticas e aperfeiçoamento. Todos os nossos projetos estão constantemente evoluindo a partir do feedback das escolas com as quais atuamos.

O que são os sete pilares?

Os sete valores foram construídos de forma coletiva. Quando começamos a formar uma equipe, sabíamos que nosso sucesso dependeria de um engajamento coletivo. Por isso, desde o início, à medida que vamos crescendo, reunimos o grupo para discutir quais são nossos principais valores, o que faz a Estante Mágica ser o que ela é e como ela será. Esse é, certamente, um dos grandes diferenciais da Estante Mágica.

Como é o primeiro contato, a aproximação, o convívio com as crianças? Alguma dificuldade?

Temos um time inteiro voltado para entender a relação com as crianças em sala de aula (e fora dela). A aproximação sempre parte de uma mediação com o professor ou com os pais, o que facilita o contato. Quando a criança consegue entender (e entendem rápido) a relevância de escrever suas próprias histórias, rapidamente se engajam na Estante Mágica.

Existe diferença no trato entre alunos da rede pública e particular?  

Há diferenças entre alunos de escolas públicas e particulares, assim como há diferenças entre alunos de escolas de regiões, municípios, bairros ou até turnos diferentes. A diferença está menos nos alunos e bem mais no perfil de gestão escolar entre instituições públicas e privadas.

Qual o significado e a importância de estabelecer o “sentimento de dono”?

A gente percebeu que em boa parte das empresas, os funcionários trabalham sem entender direito para quê e o por quê das suas atividades. Em geral, não conseguem se ver como parte fundamental da empresa em que estão. Muitas vezes, esse descomprometimento parte de uma gestão pouco transparente e que não envolve todo o time - nem nas responsabilidades, nem nos resultados. Por isso, para desenvolver o ‘sentimento de dono’ construímos os objetivos de forma coletiva, com transparência, e mostrando quais os resultados esperados para atingir cada uma das metas. Assim, todo mundo se sente dono daquele objetivo e realiza o trabalho para aquilo que foi construído por cada um. Quando você é responsável por um objetivo que você mesmo ajudou a construir, o ‘sentimento de dono’ e a garra para atingir aquele resultado da melhor forma possível aumenta significativamente. Corroborando a importância do valor, recentemente recebemos o selo mundial "Great Place to Work".

Quais as principais dificuldades ou obstáculos que vocês mais encontram para viabilizar projetos?

A dispersão das escolas no Brasil ainda é um desafio - não só pela dispersão geográfica, mas também pela dispersão de perfis de cada escola. Mas nosso maior desafio ainda é atingir um número cada vez maior de escolas públicas. As dificuldades que estas escolas encontram para execução do projeto passam pela falta de infraestrutura, apoio de gestão, poucos professores e recursos quase sempre insuficientes. Ainda assim, abraçamos esse desafio e queremos ajudar as escolas públicas a avançarem na qualidade da educação que oferecem, passando pelo nosso projeto, mas também pela própria capacitação docente, que é um projeto em que estamos trabalhando.

O que move vocês nessa “jornada intensa e desafiadora”? Nesses quase dez anos de existência, quantas instituições de ensino e alunos vocês atenderam?

O entusiasmo e a dedicação são o reflexo de um propósito: acreditar que a educação muda o mundo para melhor, e a gente pode fazer a nossa parte. Nosso grande sonho é impactar 1 BILHÃO de crianças por todo o mundo até 2030. Até o momento já são cerca de 3.000 escolas impactadas e mais de 250 mil crianças que já escreveram suas próprias histórias em todos os estados do Brasil, além da presença recente da Estante Mágica em escolas do México, Argentina e Colômbia.

De quais resultados vocês mais se orgulham?

O resultado que mais nos orgulha é o que vem do sorriso das crianças e da emoção dos pais. O dia dos autógrafos, em cada escola, gera o sentimento incrível de que estamos no caminho, porque cada história conta.

De que forma vocês são remunerados por esse trabalho?

A remuneração do trabalho de todo mundo que trabalha na Estante Mágica, que vem por meio da venda dos livros impressos dos pequenos autores, é definida a partir dos resultados atingidos no ano. Mesmo a remuneração dos sócios e líderes depende do desempenho alcançado para garantir a sustentabilidade da empresa.

 

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