Friburgo sem fronteiras: uma brasileira em busca da sabedoria oriental

Luana Matsuoka cresceu em Nova Friburgo e hoje estuda no Japão
sexta-feira, 05 de junho de 2015
por Karine Knust
Mergulhar em diferentes culturas vivenciando a rotina de outros povos deixou de ser meta de vida de poucos aventureiros para fazer parte da lista de sonhos de muitos. Ultrapassar as fronteiras geográficas em busca de novas experiências tem sido cada vez mais comum, principalmente no âmbito acadêmico. Quem não conhece alguém ou tem um amigo que conheça alguém que foi rumo a outros países para estudar? Pois é. A globalização atingiu, também, o segmento educacional.

Apenas ao longo do ano passado, cerca de 230 mil jovens foram estudar em outro país, segundo pesquisa da Belta
Nesta série que começa neste fim de semana vamos conhecer sete jovens que tomaram suas doses de coragem e embarcaram rumo à Europa, América do Norte, Ásia e Oceania com o mesmo objetivo: estudar. Luana Matsuoka é um deles.

Leia mais da série:

Estados Unidos - Onde tudo começou
Austrália - Um friburguense na terra dos cangurus
Inglaterra - Rumo à terra da Rainha
Irlanda - As frentes que aqui esfriam não esfriam como lá
Canadá - Snowboard, aurora boreal e muita engenharia
Portugal - Mesmo fim, diferentes meios

Conexão Friburgo-Tóquio

A jovem tem 21 anos e apesar de não ter nascido em Nova Friburgo — ela é natural de Viçosa, Minas Gerais — veio morar na cidade ainda bebê, e só deixou o município em que cresceu quando passou para o curso de Engenharia Ambiental na UFV — Universidade Federal de Viçosa. Assim como muitos, desde o início da adolescência, Luana tinha vontade de fazer um intercâmbio que possibilitasse aprimorar a Língua Inglesa e conhecer novos lugares. Só foi a oportunidade surgir para que ela não pensasse duas vezes, agarrasse a chance com unhas e dentes e fosse parar ainda mais distante do que imaginava: o Japão.

Muito além da culinária do país, que já se tornou moda aqui pelas bandas do Ocidente, a jovem de olhos puxados se encantou com a possibilidade de aprender um pouco da cultura e sabedoria de seus ancestrais.

Luana confessa que esse não era seu principal destino, mas afirma que não se arrepende nem um pouco da escolha. “Sempre tive vontade de morar fora e meu maior interesse era pelo Canadá. Quando fiquei sabendo do programa CsF (Ciência sem Fronteiras) percebi que essa seria minha chance de alcançar meu objetivo. Mas ao olhar a lista de países me deparei com o Japão e então me perguntei: ‘Por que não?!’. Venho de família com descendência japonesa. Além disso a chance de aprender o japonês me enchia os olhos! Então no final não me restaram dúvidas e hoje vejo que foi minha melhor decisão”, conta ela.

Luana é uma das contempladas do programa criado em julho de 2011 pelo governo federal, através dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação. O Ciência sem Fronteiras oferece bolsas de estudo no exterior aos alunos brasileiros de graduação e pós-graduação com bom desempenho acadêmico em instituições de ensino superior. O objetivo é promover a internacionalização da ciência, tecnologia e inovação brasileiras e investir nos talentos acadêmicos do país. 

O Japão tem a décima maior população do mundo, cerca de 128 milhões de habitantes, e é conhecido como uma grande potência econômica — é a terceira maior economia do mundo em PIB nominal e quarta maior em poder de compra. A Terra do Sol Nascente é administrada por uma monarquia constitucional, tem o Japonês como idioma oficial e o iene como moeda. As estações do ano são bem definidas. Hoje é uma das líderes mundiais no desenvolvimento de novas tecnologias amigas do ambiente. E apenas neste país são 339 bolsas de estudo oferecidas.

Vida High-Tech

A mudança para o Oriente encantou a jovem brasileira, que logo percebeu um cenário diferente do que via por aqui. “Duas coisas na verdade me chamaram muito a atenção. A primeira delas foi a boa vontade que o povo japonês tem para ajudar o outro. Logo quando cheguei estava completamente perdida e então pedi informação a uma moça que mesmo sem falar muito bem inglês praticamente me levou ao meu destino final me deixando até um pouco constrangida por tê-la dado tanto trabalho. Nas minhas primeiras semanas percebi que isso é realmente muito forte aqui, o compromisso de ajudar o próximo. E a segunda coisa que me surpreendeu foram os vasos sanitários japoneses (disse ela aos risos). Eles são super high-tech com direito a assento aquecido e jato d’água morninho com controle de pressão! Muito Japão”, comenta a jovem, que ainda enfatiza o verdadeiro deslumbramento em que teve ao chegar ao novo país: “Fiquei completamente apaixonada pela faculdade, os campus são lindos, super arborizados, com uma infraestrutura impecável! Por ser em um local movimentado, fiquei um pouco receosa com a questão do espaço, mas na verdade a faculdade não deixa a desejar em nada”.

A histórica Universidade de Waseda fica no centro da capital Tóquio. E é lá que Luana busca o aperfeiçoamento profissional. Nesses quase dez meses no país, a rotina é bem definida. “Faço quase a mesma coisa de quando estava no Brasil: estudo durante a manhã e à tarde, com a diferença de que agora tenho o curso de japonês também. Uma coisa que acho interessante aqui é o almoço. Os japoneses têm o costume de levar para a faculdade ou até mesmo comprar o que chamamos de bentô (seria mais ou menos uma marmita no Brasil) e comer em algum parque sentado até mesmo na grama. Isso é uma das coisas que eu nunca imaginaria fazer aqui em Tóquio. Nos finais de semana tento aproveitar pra ir a algum lugar diferente e conhecer o máximo possível, já que cada segundo meu aqui é mais que precioso”, explica ela, que acrescenta que percebeu leves diferenças entre os métodos de ensino nipônicos e brasileiros. “Na verdade eu acredito que não tenham grandes diferenças. A estrutura da grade disciplinar é até um pouco diferente do que normalmente ocorre nas faculdades brasileiras. Em Viçosa eu tinha cerca de 22 horas semanais de aula, aqui no Japão tenho 14 horas no máximo. Mas o desafio mesmo foi a língua (mesmo sendo no Japão, as aulas são em inglês) mas nada que um pouco de prática não resolva”.

Luana volta para o Brasil no dia 5 de agosto e admite que, com certeza, não será a mesma pessoa depois dessa experiência: “Acredito que a curto prazo vai ser uma loucura, uma montanha-russa de sentimentos variando entre a mais pura felicidade por rever a família e amigos antigos e uma saudade enorme de tudo que estou passando aqui, cada amigo que conheci e cada experiência que vivi. Na verdade, agora que já estou na minha reta final essa loucura já está começando. De qualquer forma, essa está sendo a melhor experiência que já tive, e pode ser clichê, mas a verdade é que não há dinheiro no mundo que pague isso. Esse intercâmbio não só me acrescentou academicamente mas também, e principalmente, pessoalmente. Minha forma de enxergar as coisas foi ampliada e com isso vejo o quanto amadureci nessa minha trajetória. Sou muito grata por ter tido essa oportunidade porque realmente é o que dizem: intercâmbio não é um ano em uma vida, mas uma vida em um ano”.                                                                                       

  • Luana Matsuoka: de Friburgo para a terra do sol nascente (Arquivo pessoal)

    Luana Matsuoka: de Friburgo para a terra do sol nascente (Arquivo pessoal)

  • Confira acima o vídeo realizado por Luana Matsuoka na Universidade de Waseda (Arquivo pessoal)

    Confira acima o vídeo realizado por Luana Matsuoka na Universidade de Waseda (Arquivo pessoal)

  • Luana Matsuoka: de Friburgo para a terra do sol nascente (Arquivo pessoal)

    Luana Matsuoka: de Friburgo para a terra do sol nascente (Arquivo pessoal)

  • Luana Matsuoka cresceu em Nova Friburgo e hoje estuda no Japão (Arquivo pessoal)

    Luana Matsuoka cresceu em Nova Friburgo e hoje estuda no Japão (Arquivo pessoal)

  • Luana Matsuoka cresceu em Nova Friburgo e hoje estuda no Japão (Arquivo pessoal)

    Luana Matsuoka cresceu em Nova Friburgo e hoje estuda no Japão (Arquivo pessoal)

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Friburgo sem fronteiras | estudo | intercâmbio estudantil | Japão | formação | Educação | Nova Friburgo | Ciência sem Fronteiras
Publicidade