Friburgo sem fronteiras: rumo à terra da rainha

"Fui muito bem recebida e fiquei encantada com a infraestrutura do lugar. Mas o exterior também tem muito que aprender com o Brasil"
sábado, 20 de junho de 2015
por Karine Knust
Depois de contar um pouquinho das experiências de Luana Matsuoka, Thiago Kirazian e Conrado Trigo, que embarcaram respectivamente para o Japão, Canadá e Irlanda em busca de conhecimento, neste fim de semana nós continuaremos indo longe. Desta vez, vamos parar na Inglaterra e na Austrália, países onde estão Fernanda Reis e Janderson Knust. Mais dois exemplos de friburguenses que tomaram suas doses de coragem e foram passar uns meses em universidades internacionais.

A meu ver, estudar no exterior é mais uma experiência de vida do que acadêmica

Fernanda Reis, estudante

Para contar a primeira história desta semana vamos à terra da Rainha. Pois é, o nosso espacinho que mostra os friburguenses que estão aprendendo pelo mundo nos leva até o Reino Unido. Mais precisamente à Inglaterra. E lá que mora atualmente Fernanda Reis, de 21 anos. Ela nos contou um pouquinho de como é o modo de vida em terras inglesas e como pretende trazer mais conhecimento quando voltar às Brenhas do Morro Queimado — e é isso que vamos compartilhar hoje.

Leia mais:

Estados Unidos - Onde tudo começou
Austrália - Um friburguense na terra dos cangurus
Irlanda - As frentes que aqui esfriam não esfriam como lá
Canadá - Snowboard, aurora boreal e muita engenharia
Japão - Uma brasileira em busca da sabedoria oriental
Portugal - Mesmo fim, diferentes meios

Para quem não sabe, o Reino Unido da Grã-Bretanha é uma união política entre quatro países: Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. Todos são súditos da Rainha Elizabeth II, líder da monarquia constitucional parlamentar, regime pelo qual o território é administrado. Seu atual primeiro-ministro é David Cameron. São cerca de 64 milhões de habitantes no Reino Unido, cujo PIB anual passa dos dois trilhões de dólares. E é em terras britânicas que Fernanda busca o seu lugar ao sol. 

Aprendendo a lidar com o choque de cultura

A jovem chegou ao país em julho de 2014, por intermédio do programa federal Ciência sem Fronteiras. “Sou estudante de Arquitetura e Urbanismo na UFF e aqui estudo BA Architecture, que é tipo um bacharelado em artes e arquitetura”, explica a jovem, que emenda: “De julho a setembro fiz um curso oferecido pela própria instituição inglesa chamado Pre-Sessionial English Course, que nos ensina um pouco da cultura acadêmica local antes de começarmos a faculdade. O ano acadêmico aqui começa em setembro e vai até maio. Depois disso os brasileiros bolsistas do Ciências sem Fronteiras permanecem na faculdade para um curso lecionado durante o verão, onde participamos e ajudamos no desenvolvimento de projetos reais de arquitetura. Em outras áreas os brasileiros se candidatam a estágios ou pesquisas oferecidas pela faculdade.”

Fernanda está morando em Leeds, terceira maior cidade do país, que fica no condado de West Yorkshire, no norte inglês. O local possui quatro grandes universidades. Uma delas é a Leeds Metropolitan University, instituição na qual a friburguense foi alocada e onde outros 150 brasileiros têm a oportunidade de estudar. No Reino Unido, são 9.115 alunos beneficiados pelo Ciência Sem Fronteiras, divididos em 159 instituições. Ao chegar ao novo país, em meados de 2014, a jovem relata que foi tomada por um misto de sensações. “No dia em que cheguei eu estava bastante confusa, não sabia se ficava feliz por estar realizando o que eu queria ou se ficava triste pela despedida e pela saudade que eu ia sentir de tudo no Brasil. Admito que os primeiros dias não foram muito bons e nunca tinha pensado que ia sentir os sintomas do famoso ‘culture shock’”, conta Fernanda, que ressalta o apoio do povo daqui na adaptação. “O que me ajudou foram os outros brasileiros que chegaram comigo e estão passando pela mesma experiência. Lembro que no início eu ficava assustada, pois não conseguia entender as pessoas na rua devido ao forte sotaque do norte da Inglaterra, mas com o tempo fui me acostumando e agora já me parece natural”, ressalta.

Nem só de tecnologia vive uma estudante de arquitetura

Assim como os demais jovens intercambistas entrevistados por nós, Fernanda também admite que se surpreendeu com a universidade: “Fui muito bem recebida e fiquei encantada com a infraestrutura do lugar. Bibliotecas gigantes, com muitos e os melhores computadores do mercado, salas e estúdios enormes, máquinas de corte a laser, impressoras 3D, plotters, uma equipe bastante solícita e tudo aquilo de melhor e ‘high tech’ que existe. Tudo o que eu preciso eu consigo na faculdade... é incrível”, porém acrescenta: “Ao decorrer do curso fui ficando bastante decepcionada. O problema é que o brasileiro tem a mania de achar que no exterior e, principalmente na Europa, as coisas são muito melhores. Temos um complexo de inferioridade muito grande e foi por achar isso que acabei me decepcionando”, pontua Fernanda.

Diferente de todos que participaram da nossa série, Fernanda se mostrou um tanto insatisfeita com o conteúdo que vem adquirindo na terra da Rainha. “O curso que estou fazendo aqui é muito incompleto, superficial e falho em muitos aspectos. Apesar de toda a infraestrutura oferecida, a didática e os conteúdos aplicados têm muito que melhorar. A meu ver, estudar no exterior é mais uma experiência de vida do que acadêmica. É importante ter o conhecimento de como funcionam os assuntos relacionados à sua área de atuação em outros países. E isso pode ser visto como um diferencial, mas jamais diria que alguém que estudou fora do país será um melhor profissional do que aquele que não. O Brasil tem competência e capacidade de formar excelentes profissionais e de fato forma. Às vezes acho que a palavra intercâmbio não é muito levada ao pé da letra. Tem gente que acha que é só estudar fora e aprender com os ‘gringos’, mas a verdade é que o exterior também tem muito que aprender com o Brasil.”

Uma lição para toda a vida

Fernanda volta para o Brasil no segundo semestre deste ano. Na bagagem, muitas histórias e uma experiência que só o programa poderia proporcionar. “Além de ter várias histórias pra contar, muitas fotos, muitos perrengues, muito aprendizado e um amigo em cada canto do mundo e em cada estado do imenso Brasil (aqui a gente se dá conta de verdade da imensidão do nosso país) eu vou retornar com uma visão de mundo extremamente diferente e ampla. Assim como eu, acredito que os estudantes que tiveram essa oportunidade gostariam de colocar em prática no Brasil aquilo que observaram de melhor em cada lugar que estiveram. Pelo menos, é isso o que eu penso e o que eu quero fazer e a profissão que eu escolhi me dá todas as ferramentas para isso. Nunca estive tão ciente de tudo o que acontece e nunca fui tão capaz de opinar sobre qualquer assunto corrente no Brasil como agora. Isso acontece porque eu aprendi a dar valor ao Brasil, amá-lo, respeitá-lo e querer contribuir para a melhoria dele. O brasileiro tem que parar com esse complexo de inferioridade e de autodesprezo, tem que parar de enaltecer as virtudes europeias de ‘primeiro mundo’ e vaiar a si próprio. Não se trata de ser ufanista e ignorar nossas adversidades e falhas, mas reconhecer que todo lugar tem seus problemas. Para mim essa foi a grande lição dessa experiência”, concluiu.

  • Fernanda Reis foi aprimorar seus conhecimentos na Inglaterra (Arquivo pessoal)

    Fernanda Reis foi aprimorar seus conhecimentos na Inglaterra (Arquivo pessoal)

  • Fernanda Reis em frente à Leeds Metropolitan University (Arquivo pessoal)

    Fernanda Reis em frente à Leeds Metropolitan University (Arquivo pessoal)

  • A friburguense em um cenário inegavelmente londrino (Arquivo pessoal)

    A friburguense em um cenário inegavelmente londrino (Arquivo pessoal)

  • O frio intenso chamou a atenção de Fernanda (Arquivo pessoal)

    O frio intenso chamou a atenção de Fernanda (Arquivo pessoal)

  • O Reino Unido foi o destino escolhido por Fernanda Reis para aprofundar seus estudos (Arquivo pessoal)

    O Reino Unido foi o destino escolhido por Fernanda Reis para aprofundar seus estudos (Arquivo pessoal)

  • Os estudantes friburguenses Fernanda Reis e Janderson Knust (Infográfico de A Voz da Serra)

    Os estudantes friburguenses Fernanda Reis e Janderson Knust (Infográfico de A Voz da Serra)

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