Se você for procurar no Wikipedia sobre o clima de Nova Friburgo, verá que o município possui clima tropical de altitude, com temperatura média de 18ºC, invernos frescos e secos, verões agradáveis e úmidos — e, às vezes, outonos bem friorentos.
Quando está frio os passantes exibem um vai e vem infindo de lãs coloridas nas calçadas: a temperatura bate como um tapa na cara da gente, cachecóis e luvas são quase uma questão de sobrevivência. As pessoas compartilham nos papos de espera constrangedora — nos elevadores, filas de caixas, recepções de dentista — a sensação nítida de se estar de Havaianas e bermuda mesmo quando se vestiu todos os casacos e meias limpas do guarda-roupa.
Enquanto isso, Yakutsk, na Rússia, considerada a cidade mais fria do mundo, está registrando um grau a mais que aqui. Ok, lá é verão. Mas aqui, em compensação, o frio pegou pesado este ano, e se for verdade que ele é psicológico, devíamos todos entrar pra uma terapia de grupo. Não são psicológicas a camada de gelo que um moradora de Conquista retirou do capô do carro, tampouco as internações por doenças respiratórias decorrentes desta época do ano.
Zero grau e bons drinques: o frio segundo a internet
Abra o seu Facebook e role o feed de notícias. Quanto tempo você demorou para ver uma postagem referente ao frio? Aliás, quanto tempo você levou para identificar, entre as postagens dos seus amigos, uma foto dos marcadores de temperatura da Praça Dermeval e do Paissandu? Pois é, as pessoas estão compartilhando fotos que indicam temperaturas muito baixas, próximas a zero. Em dados momentos, pode-se ver até essas pessoas formando filas, cada qual com um celular em riste, para perpetuar o frio em imagens e sacramentá-lo em rede social. Wanderson Nogueira, colunista de A VOZ DA SERRA, chegou a iniciar uma ação na internet incentivando as pessoas a postarem essas fotos com hashtags que evidenciem o frio de Friburgo.
Tida inicialmente como uma forma coletiva de destacar a temperatura da serra como uma característica passível de potencializar o trade turístico da cidade, fato é: as fotos e as notícias fazem sucesso. Mesmo quem não está aqui conhece a fama do frio de Nova Friburgo — e, junto com a fama do frio, a fama da truta, do fondue e dos festivais. Mas, ainda assim, a fetichização do termômetro também fomenta uma outra discussão: será que, mesmo com o frio que se sente na pele, e que não precisa de número exato pra se fazer existir, esses marcadores estão corretos? Somos todos Yakutsk?
Segundo Francisco de Assis Diniz, assessor técnico do (Inmet), de 1961 a 2003, a menor temperatura registrada em Nova Friburgo foi de 1°C — nos dias 1° e 28 de junho de 1968, 7 de junho de 1969 e 22 de julho de 1981. Antes disso, em 1938, mais precisamente no dia 8 de julho, registrou-se 0,1ºC em Nova Friburgo. Outros recordes registrados nos dados do Instituto mostram que Friburgo, em diversas ocasiões, registrou a temperatura mais fria do Brasil. Mas nada que chegasse a -7ºC, como chegou a ser propalado este ano. Ainda segundo o meteorologista, estes tipos de termômetros instalados em praças não valem para medição de temperatura em termos científicos. “Eles não são padronizados, aferidos ou ajustados em relação aos termômetros padrões. Além disso, estão expostos ao sol e recebem influência direta e interferência de veículos, asfalto, etc”.
Está frio? Está. Muito frio. São 16h15 de terça-feira, 19 de julho. E embora conste no Climatempo a temperatura — ah, essa ciência inconstante! — de 14ºC, nossas mãos e narizes e orelhas continuam gelados, apesar de todos os cachecóis.
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