Vinte e cinco anos depois da instalação de uma linha telefônica fixa em sua casa em Conselheiro Paulino, distrito de Nova Friburgo, a dona de casa Marly da Fonseca, de 68 anos, decidiu aposentar, no início deste mês, o aparelho telefônico preto que ficava sobre uma escrivaninha exclusiva para ele na sala. No local, ela colocou um vaso de flores e um quadro com a fotografia dos netos.
“A linha não tinha mais utilidade para mim. Meu marido (morto há dois anos) insistia em mantê-la, então, íamos pagando, mas, agora, não quero mais. Uso meu celular”, disse ela, mostrando na tela do aparelho os aplicativos que mais utiliza, entre eles, o favorito, WhatsApp. “Envio mensagens todos os dias para meu netos”, conta.
Essa escolha de Marly reflete os dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em 2018, o Brasil perdeu mais de dois milhões de linhas telefônicas fixas. Até dezembro, pelo menos 38.306.837 milhões estavam em operação. Nova Friburgo somava só 39.654 linhas. Por outro lado, as linhas telefônicas móveis, em dezembro do ano passado, somavam 229.210.890 milhões - 20 milhões a mais que a população do país estimada pelo IBGE. A Anatel não divulga o número de linhas móveis por município.
Redução das linhas móveis
A predominância das linhas móveis decorre, sobretudo, do barateamento dos custos de ligação e da ampliação do acesso à internet, resultado da privatização do setor, que em 2018 completou 20 anos. O fim do monopólio da Telebrás, em 1998, disparou a competição entre as empresas de telefonia, acabando com as filas de espera por uma linha e permitindo o desenvolvimento de serviços que nem existiam na época.
Item que representava status social há 20 anos, uma linha telefônica chegava a custar US$ 5 mil (na época, o regime era de câmbio fixo, que chegou a praticar a paridade de R$ 1 para US$ 1) e a fila de espera dos clientes era de dois a cinco anos. O aluguel de linhas fixas era considerado um investimento e gerava renda para muitas pessoas. Em 1998, país contava com 17 milhões de linhas fixas e 4,6 milhões de celulares.
Se em 1998, as receitas das teles vinham de linhas fixas, ligações interurbanas e internacionais, fichas de orelhões e páginas amarelas, hoje a maior parte vem da internet. De acordo com a consultoria Teleco, nos serviços fixos, a banda larga representa quase 40% do faturamento das empresas, ante 24% em 2010, enquanto a telefonia fixa reduziu sua participação para 30,8%, ante 57,1% em 2010. Na telefonia móvel, a curva se inverteu: em 2012, serviços de voz representavam 78,6% das receitas, e de internet, 21,4%. Hoje, dados são 62,1% do faturamento, enquanto voz caiu para 37,9%.
De lá para cá o preço da ligação caiu. De acordo com o Sinditelebrasil, sindicato que representa as empresas de telefonia, o custo de uma ligação de celular que custava R$ 1,05 o minuto em 1998, para cerca de R$ 0,09, em média, em 2018, com impostos. Já a ligação de telefone fixo para celular gira em torno de R$ 0,12 no estado. Para o sindicato, o valor poderia ser ainda mais baixo se a carga tributária sobre as empresas fosse menor.
Já a internet móvel, o 3G e o 4G, atinge praticamente a maioria da população, de acordo com a Anatel, mas ainda precisa chegar localidades mais afastadas, áreas rurais e rodovias. Só 44% dos domicílios brasileiros têm banda larga fixa, principalmente a de fibra óptica, que tem mais qualidade e velocidade. Para a agência, se o governo reduzir interesse arrecadatório nos leilões de frequências que a Anatel promove, poderá elevar as contrapartidas e obrigações das empresas de investimentos em distritos, localidades e estradas.
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