A sustentabilidade na indústria têxtil é um assunto que já vem sendo discutido e pesquisado há alguns anos, e, inclusive, tem sido um dos principais destaques das últimas edições da Fevest - a maior feira do setor de moda íntima, praia, fitness e matéria-prima. Do reaproveitamento de resíduos surgem boas oportunidades de negócios, com aplicações não só na moda sustentável, mas também na construção, com as chamadas madeiras plásticas, e na produção de mobiliário urbano, entre tantas outras. Mas em Nova Friburgo, cidade que é um dos principais polos de moda íntima do estado do Rio, existe a oportunidade, mas faltam empresas interessadas.
Criado em 2015 pela Assessoria de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o “Protocolo de Gestão Responsável de Resíduos da Indústria da Confecção” serve como guia para as empresas locais quanto aos seus processos produtivos e também a geração de resíduos. A intenção da publicação é de que as empresas tenham maior conhecimento da legislação e também viabilizem ações mais sustentáveis em seus processos, desde a criação até o descarte.
O relatório traz informações referentes ao ano anterior à sua publicação, quando foi estimada pela Empresa Brasileira de Meio Ambiente (EBMA), a geração de mais de 56 mil toneladas de resíduos domésticos. Naquele ano, os resíduos têxteis ainda eram recolhidos pela empresa, que é responsável pela coleta e tratamento do lixo em Nova Friburgo, mas atualmente, conforme estabelecido em lei, as confecções precisam fazer o descarte dos próprios materiais, o que normalmente é realizado por empresas terceirizadas especializadas nesse serviço.
Hoje em dia, segundo a diretora do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Nova Friburgo e Região (Sindvest), Neuciléia Layola Porto, entre 20% e 25% do que é consumido pela indústria de confecções viram resíduos. Considerando que só o polo friburguense de lingerie tem registradas 1.320 confecções, o volume gerado é muito grande.
“As empresas se preocupam em fazer o descarte correto do resíduo e as maiores terceirizam o descarte. Mas não há interesse por parte do setor em também atuar na área de reaproveitamento. Isso porque é necessário juntar uma grande quantidade de materiais para ter um projeto e quando o material vira resíduo ele perde muito o valor, não compensando o investimento. São duas frentes de atuação muito diferentes, são negócios diferentes”, explica Neuciléia.
Artesanato recebe apoio, mas uso é irrisório
Quanto à reciclagem, a diretora do Sindvest informa ainda que muitas confecções disponibilizam uma parte dos resíduos têxteis para a fabricação de artesanato e também para o reaproveitamento por empresas menores, mas o valor absoluto das sobras é muito grande em comparação ao que pode ser absorvido nessas ações.
Para ela, uma solução seria uma empresa privada se interessar pelo setor e investir: “Tivemos algumas conversas com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente sobre a possibilidade de uma locação para reunir todo o resíduo gerado pelas empresas locais e, com isso, iniciar um projeto de reaproveitamento, cujo produto final poderia ser usado em prol da cidade: madeira para obras, mobiliário, mas ainda é um longo caminho a percorrer. O investimento inicial, na fabricação desse plástico ecológico, por exemplo, é alto. Talvez, o ideal seja uma empresa privada reconhecer essa oportunidade e entrar nesse mercado”, observa Neuciléia.
O que diz a prefeitura
Questionada sobre ações de reaproveitamento de resíduos têxteis, a prefeitura de Nova Friburgo afirmou que os resíduos de confecções não devem ser descartados junto com o lixo doméstico. “A Prefeitura de Nova Friburgo informa que as confecções licenciadas para o serviço precisam comprovar o destino adequado dos resíduos de produção, que é, inclusive, uma determinação para a liberação do licenciamento, mas as empresas informais não têm preocupação em cumprir a lei, uma das dificuldades enfrentadas atualmente. A Secretaria de Meio Ambiente informa que está de portas abertas para orientar e atender a todas as empresas que precisam se licenciar e ainda lembra que realizar o descarte irregular de restos de produção é considerado crime ambiental e o indivíduo que for flagrado nesta situação será multado e detido”, informou em nota.
Sebrae indica projeto da Uerj
Perguntado sobre projetos desenvolvidos junto às empresas ou por parceiros, o Sebrae indicou a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que por meio do Laboratório de Sustentabilidade e Química de Polímeros (LaSQPol), desenvolve uma linha de pesquisa em reciclagem de resíduos têxteis.
“O laboratório atua no desenvolvimento da tecnologia de reciclagem de retalhos de poliamida e poliéster. Utiliza o material reciclado na confecção de acessórios da moda íntima, como barbatanas e cabides. Nosso projeto mais recente é o desenvolvimento de solados com o reciclado têxtil. Também estão desenvolvendo a reutilização dos retalhos, sintéticos ou naturais, para confecção de peças artesanais”, explica Ana Moreira, uma das responsável pelo projeto.
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