O fotógrafo friburguense Fernando Braune inaugurou a exposição Invisíveis, elaborada a partir de sua percepção da presença dos garis durante o exercício de sua função, e seus sentimentos de total invisibilidade aos olhos da população. “Percebi a invisibilidade do homem frente a outro homem”, revelou.
Conversando com personagens que trabalham nas ruas, observando seu dia a dia, Braune descobriu o quanto esses indivíduos são imperceptíveis para a população que transita, cotidianamente pela cidade. Ninguém vê, sequer olha.
Nesta exposição, inaugurada há duas semanas na galeria da Usina Cultural Energisa, após encerramento de temporada na galeria do Centro Cultural dos Correios, no Rio, o artista exibe fotos-instalação concebidas pela junção de fotografias dos garis em plena rotina de seu ofício.
Desse trabalho resultou o livro-objeto “Invisíveis”, 6ª obra publicada pelo artista, lançado aqui na inauguração da exposição. Anteriormente, Braune já havia lançado “O Surrealismo”, “Estética Fotográfica”, “O Cinema e Linguagem Fotográfica”, “Temporalis” e “Querubins de Grota”.
Além de publicar artigos e matérias em várias revistas internacionais e livros de arte, Fernando faz palestras em centros culturais e participa de exposições em Nova York, Florença, Paris, Barcelona, Londres, Milão e Estocolmo, além de galerias do Rio de Janeiro, Niterói e Nova Friburgo.
Em 2014, ele recebeu o prêmio “Nápoles para Arte Contemporânea”, e o Arte Latino-Americana, em Milão (2016), ambos na Itália. Duas importantes agências o representa fora do país: a Galeria Monteoliveto, na Europa, e o Duetto Arts, em Nova York.
Sobre o artista
“Fernando Braune é fascinado pelas pessoas e seus ambientes. Ele tem como objetivo descontextualizar a realidade cotidiana através de suas influências psicológicas, sociais e culturais. Trabalhando na estreita margem entre a tradição e a contemporaneidade de arte, ele se utiliza de múltiplas camadas de imagens com efeitos tridimensionais, produzindo fortes sensações de espaço e movimento.
A pureza das cores intensas que ele estabelece sobre suas composições em preto e branco e a clareza gráfica de cada imagem potencializam os temas tratados em suas vibrantes imagens, mantendo, ao mesmo tempo, uma forte e dinâmica relação com o mundo real”, (Chantal Lora Orange, Monteoliveto Gallery).
“Palco urbano"
veia aberta que salta, ressalta em nossa cegueira
cegueira de alma, não de vista, à vista de todos.
visão conturbada, deteriorada, urdida em tecido vacilante, Lasso...
no escaldante betume resinoso, negrume amolecido
onde tudo acontece, se passa, se perde
qual resíduo de descarte, ganga sem proveito
ali se dão as relações... não se dão
se desviam, atravessam, desafinam
faz de conta, que conta, passo reto, passa a régua
tem sem unidade, em plena urbani cidade
falas sem ecos, ruídos no silêncio, leite que talha
que habita sua alma, enchafurda suas entranhas
vida embrulhada em mortalha
qual limalha de ferro, repelente ao magneto
deserto lugar, onde tudo começa, termina
de piche, de gente
visão periférica, cegueira arredia e noite
nó na garganta, na gravata, desvão e desvario
qual lixos de asfalto
reativos, corrosivos, tóxicos, patogênicos
aos corpos que limpam, invisíveis, inviáveis...
sem almas, ... só almas
no chão esgotado, coagulado de-tritos, de-composição
da matéria humana, metabólica, metafísica, metastática
artérias invadidas, fermentadas
do coalho do luxo
no limbo do lixo…” (Fernando Braune)
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