A Folia de Reis é uma manifestação cultural de longa data em Nova Friburgo e, para organizar os grupos — pois havia problemas de diferentes ordens, como perturbação da ordem pública e falta de uniformes — surgiu a Associação de Grupos de Folias de Reis. E seus objetivos foram alcançados: as folias atualmente formam uma irmandade. Pena que, dos antigos 34 grupos, restem apenas dez. De acordo com Edmar Muniz Gonçalves, da Império de Olaria (que não tem relação com o bloco de carnaval de mesmo nome), cuja sede fica no Alto de Olaria, os jovens de hoje não se interessam tanto por essa tradição; nem todos aceitam a folia de reis, além de haver inclusive preconceito. Edmar acentua que "são vários os meios para se chegar a Deus, porém Deus é um só”. E acrescenta: "Andar com uma folia não é pecado”.
DE PAI PARA FILHO – Edmar é o responsável pelo grupo de folia de reis Império de Olaria e também desempenha várias funções; ele é cantor e palhaço. A folia era de seu avô, Carlos Augusto, que passou para seu pai, Durval, que por sua vez passou para o filho Carlos e este para Edmar, seu irmão. A folia já tem 70 anos e Edmar a acompanha desde que nasceu.
Nem se compara o movimento de folias de reis de antigamente com o atual. Edmar imagina que Nova Friburgo chegou a ter 50 grupos. Agora devem ser somente dez. Todas saíam após a meia-noite do dia 24 de dezembro, encerrando em 20 de janeiro, dia de São Sebastião. Ao fim da jornada, realizavam uma festa de agradecimento a Deus. O maior problema é a dificuldade dos foliões em conquistar os jovens, que não se interessam em manter viva essa tradição. O próprio Edmar tenta incentivar alguns garotos das imediações da sede da Império de Olaria. Mesmo assim é difícil aceitarem e ele teme pela descontinuidade dessa tradição. Um de seus filhos já participou, mas agora não quer mais. O esforço é grande para conseguir que pelo menos os membros da família continuem. A Império de Olaria tem até uma folia mirim, justamente com essa intenção.
TRADIÇÃO MINGUANDO NO BAIRRO – Olaria tinha muitas folias. Atualmente, além da Império de Olaria, só resta mais uma no bairro, do grupo Andradas. Por ocasião do surgimento da associação, tudo correu bem. Mais tarde, já com a associação transformada em ponto de cultura, alguns problemas foram registrados. As folias contam apenas com a verba que a associação ainda recebe do governo municipal, que serve para apoiar os grupos na compra de instrumentos e uniformes, passagens de ônibus e na festa após a jornada.
No entanto, a folia de reis Império de Olaria parece não ter sido afetada pelo desânimo que ronda os grupos friburguenses. Tanto que no dia 8 de novembro próximo já inicia seus ensaios visando a jornada do Natal deste ano. Mas os gastos são grandes e Edmar chega a bancá-los às suas custas. Participar de um dos festivais que ainda movimentam as folias da região, como as de Conselheiro, Cordeiro e Duas Barras, acaba saindo caro. E a arrecadação das folias hoje nas visitas às casas é apenas simbólica, não é mais como antigamente.
Olaria tinha um bonito presépio na praça do bairro que atraía as folias para suas apresentações. Ficava situado num coreto onde hoje se localiza o posto da Polícia Militar. Edmar conta que o festival hoje realizado em Conselheiro Paulino era em Olaria. "A concentração das folias mesmo era nesse presépio em Olaria”, afirma. Esse presépio era armado no bairro pela Prefeitura, que atualmente só arma o de Conselheiro Paulino, por insistência da associação das folias de reis. "Isso porque a associação briga, e mesmo assim, eles ainda estão querendo acabar com o presépio de Conselheiro”, observa Edmar.
O FESTIVAL DE FOLIAS DA IGREJA SÃO ROQUE – Depois do fim do presépio de Olaria, os grupos de folias de reis ficaram sem ter onde se apresentar no bairro. Foi aí que surgiu uma luz no fim do túnel. O padre Flávio Vieira Jacques abriu as portas da Igreja São Roque para as apresentações dos foliões, que ocorre durante um dia inteiro, nas proximidades do Dia dos Santos Reis. Foi a salvação dessa tradição em Olaria.
Segundo Edmar, os foliões gostam de se apresentar ali, junto a um bonito presépio armado no interior da igreja, sendo todos bem tratados pelo padre Flávio e equipe, que oferecem lanche aos foliões. A empolgação do padre com o movimento é tanta que uma folia chegou a ser fundada por ele, lembra Edmar. Porém, a "Irmandade de São Roque” não foi adiante.
No entanto, o festival da Igreja São Roque segue com as demais folias interessadas e as apresentações atraem gente de toda a cidade por sua organização e atenção dispensada pelo padre Flávio. "A gente fica feliz em ver esse incentivo do padre”, diz Edmar, já ansioso pela marcação da data do próximo festival.
A sede da folia de reis Império de Olaria fica na Rua Francisco Nicolau 35, Alto de Olaria. Quem quiser prestigiar é só chegar. E é nesse local que também podem ser feitos os convites para a folia se apresentar nas casas. Quem preferir pode telefonar para o Edmar pelo número (22) 99991-9843 ou 2521-1938. Vamos manter esta tradição?
Conheça a folia de reisFolia de reis é uma festa religiosa, de origem portuguesa, que chegou ao Brasil no século 18. Em Portugal, em meados do século 17, a festa tinha como principal finalidade divertir o povo, enquanto no Brasil passou a ter um caráter mais religioso. Trata-se de uma passagem bíblica em que Jesus foi visitado por reis magos. A visita ocorre após o nascimento de Jesus Cristo, em 25 de dezembro, e adotou-se a data da visitação dos Reis Magos como sendo o dia 6 de janeiro. Na cultura tradicional brasileira, os festejos de Natal eram comemorados por grupos que visitavam as casas tocando músicas alegres em louvor aos Santos Reis e ao nascimento de Cristo.
As folias de reis são grupos de pessoas que visitam as casas dos devotos desde o fim de dezembro até o dia de reis. Os grupos organizados eram compostos por músicos tocando instrumentos, inclusive a tradicional viola caipira e a acordeom. Além dos músicos instrumentistas e cantores, o grupo muitas vezes se compõe também de dançarinos, palhaços e outras figuras folclóricas devidamente caracterizadas segundo as lendas e tradições locais. Todos se organizam sob a liderança do capitão da folia e seguem com reverência os passos da bandeira, cumprindo rituais tradicionais de inquestionável beleza e riqueza cultural.
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