Folias de Reis: a tradição do Natal segue renovada

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

A história da folia de Reis começa com a visitação dos três Reis Magos—Belchior, Baltazar e Gaspar—ao Menino Jesus. Os reis passaram a ser referenciados como santos a partir do século VIII—e como acredita-se que a data da visitação tenha sido o dia 6 de janeiro, este passou a ser lembrado e comemorado como dia dos santos reis. Na cultura tradicional brasileira os festejos de Natal eram comemorados por grupos que visitavam as casas tocando músicas alegres em louvor aos Santos Reis e ao nascimento de Jesus Cristo. Esta tradição, oriunda de Portugal, ganhou força no século XIX, mantendo-se viva em muitas regiões.

Missão na Terra

Em Nova Friburgo a Folia de Reis, herança dos colonizadores portugueses, foi desenvolvida com características próprias. Cada folia possui uma bandeira dedicada ao santo de devoção e é composta pelo mestre de folia, o contramestre, os músicos e cantadores e os palhaços. Todos se organizam sob a liderança do mestre reisero e seguem rigorosamente os passos da bandeira, cumprindo rituais tradicionais de inquestionável beleza e riqueza cultural. As folias percorrem as casas com canto e muita alegria. Segundo a tradição, quem acolhe os reis visitantes e oferece comida e bebida ao grupo é abençoado.

Mestre Carlito, atual presidente da Associação de Folias de Reis de Nova Friburgo, há 48 anos faz parte de folias: dez de folião e 38 de mestre reisero. Muito conhecido, admirado e respeitado na região, é um dos maiores responsáveis pela preservação desta manifestação de cultura e fé. Com 59 anos, já foi mestre de muitas folias, inclusive em Cordeiro e Macuco. É conhecido como grande mestre, que sabe o que canta, tem conhecimento. Todos querem ouvi-lo. “É uma missão na Terra, levando carinho, amor, e principalmente lembrando aos homens quem foi o Senhor Jesus e seus ensinamentos. Eu estudo há 38 anos e ainda estou aprendendo. Não são todos que têm a prática do estudo, mas àqueles que se interessam mais, a gente procura passar o conhecimento, pra que esta herança não se perca. A folia corre as moradas das pessoas que convidam. Visitamos mais ou menos quatro ou cinco casas por noite. Quando rezamos uma profecia, através dos cânticos, estamos levando ensinamentos de fé”, diz Carlito.

Cultura e fé

Associada à devoção e à religiosidade do povo, a Folia de Reis é uma das maiores celebrações da cultura e da religiosidade popular; é também referência à identidade e à ação das pessoas que participam direta ou indiretamente dela. Trata-se não só de uma manifestação folclórica, mas também de uma grande demonstração de fé e respeito às tradições culturais e religiosas do povo brasileiro.

Os versos são preservados de geração em geração por tradição oral, ou criados pelos mestres. A festa se inicia no dia 25 de dezembro quando as folias saem às ruas cantando e tocando em louvor ao nascimento de Jesus, lembrando os reis magos, que viajavam guiados pela estrela de Belém. As comemorações se estendem até o dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião.

Sobre os palhaços, há diferentes versões: uns dizem que simbolizam os soldados de Herodes, que seguiram os Reis Magos, e, quando viram Jesus, ficaram encantados, pois viram que ali havia um ser de muita luz. E não o mataram, mas com vergonha de não terem feito o trabalho, se esconderam e colocaram máscaras; outros falam que foram os três reis magos que se disfarçaram na volta para que não fossem perseguidos; outros já dizem que o palhaço é o protetor da folia, ele combate o mal como carrancas ou totens.

A associação

Para que a folia saia nesta época trabalha-se o ano inteiro, seja confeccionando uniformes, criando e ensaiando os cânticos, restaurando instrumentos. A maior parte dos integrantes das folias são de origem simples, pessoas que com suas crenças fazem desta manifestação um dos mais belos momentos de fé, retirando dela ensinamentos e dando aos que assistem verdadeira prova de que há muito que aprender na simplicidade de nossa gente.

A sede fica atrás do Centro de Arte (Praça Getúlio Vargas, 71, Centro). A associação se reúne toda primeira quarta-feira do mês, às 19h; em média participam das reuniões 40 pessoas.

O grande projeto da associação é a gravação de um CD, uma forma de divulgar esta manifestação popular e transmitir esta história. “O que seria um grande passo, inclusive paras as escolas, para acabar com o estereótipo de se comemorar o Dia do Folclore apenas com o boi bumbá ou o saci; seria uma grande oportunidade de trabalhar o folclore local. O material nós já temos – são 20 folias de reis em Nova Friburgo – só falta o patrocínio para que esta riqueza cultural seja amplamente compartilhada, e para que nossa cultura e a fé desta gente seja perpetuada”, finaliza Carlito.

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