A partir desta quinta-feira, 26, entra em cartaz a exposição “Entre a espada e a rosa - a tinta”, de Marina Colasanti, mesmo título de seu livro publicado em 2013, com ilustrações desta artista que, antes mesmo de se tornar escritora, cursou a Escola de Belas Artes, para fazer carreira nas artes plásticas.
Mas, como ela mesma já contou, ciente do longo caminho a percorrer até chegar onde pretendia, escolheu ser jornalista e foi trabalhar no Jornal do Brasil, onde iniciou a carreira como redatora. Mesmo assim, jamais abandonou os pincéis, e foi ilustrar seus escritos. Para nosso deleite!
Ao aceitar o convite dos organizadores da Flinf, Marina sugeriu que ela mesma assumisse a curadoria da exposição. Tudo acertado, Maria Fernanda Macedo e Thiago Mello a visitaram em sua residência, no Rio, onde ficaram conhecendo os trabalhos selecionados. É Maria Fernanda quem conta:
“As imagens pinçadas do arquivo pareciam voar e ganhar forma além-papel quando saíam, uma a uma, do acervo da escritora e ilustradora. Embaralhavam a leitora aqui, que via tantas imagens que compuseram páginas, capas e contracapas de livros já lidos, saindo das mãos generosas de Marina para estarem (reproduzidas) em Nova Friburgo. Que sorte!”, comentou Fernanda, satisfeita com o resultado da parceria, adiantando que a mostra contará com 36 obras, no Cadima Shopping.
“Alguns estudos são inéditos, outras ilustrações fazem parte do seu novo livro ‘Quando a primavera chegar’ (Ed. Global), uma outra leva são da série ‘Amor’ (Esse amor de todos nós, Como uma carta de amor), e os pássaros e outros objetos, da edição de ‘Tudo tem princípio e fim’”, revelou.
“Eu sei, mas não devia”
(Por Marina Colasanti)
“Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.”
(Trecho do texto extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco, 1996)
Perfil
A jornalista e escritora Marina Colasanti nasceu em Asmara (Etiópia), em 26 de setembro de 1937, passou a infância na Itália, e em 1947 veio com a família para o Brasil. Aqui estudou na Escola de Belas Artes, mas fez carreira no jornalismo e traduziu obras da literatura italiana. Já publicou mais de 60 livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis, a maioria ilustrados por ela. Seu primeiro - Eu sozinha - foi lançado em 1968.
Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por ‘Rota de Colisão’ (1993), e o Jabuti Infantil ou Juvenil, por ‘Ana Z Aonde Vai Você?’. Com ‘Breve história de um pequeno amor’, lançado em 2013 pela Editora FTD, recebeu pela oitava vez o Prêmio Jabuti, na categoria infantil.
Suas crônicas estão reunidas em vários livros, dentre os quais ‘Eu Sei, mas não Devia’ (1992). Nelas, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros.
Em 2005 recebeu a Ordem da Estrela da Solidariedade Italiana, o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional, em 2009, e o Prêmio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil, em 2017.
Atualmente, Marina Colasanti escreve para revistas e constantemente é convidada para cursos e palestras, em todo o Brasil. Agora, a escritora é homenageada, juntamente com o marido, o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna, pela II Flinf.
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