Eloir Perdigão
A VOZ DA SERRA, 27 a 29 de abril: "Mais fiscalização eletrônica na RJ-116 deixa motoristas atônitos”.
Como se já não bastasse o grande número de radares existentes na estrada RJ-116, entre Nova Friburgo e Itaboraí, mais quatro foram instaladas nesse trecho recentemente. O processo é questionado pelos motoristas obrigados a transitar por essa estrada regularmente. Alguns até admitem a necessidade dos chamados "pardais” em alguns lugares, mas não entendem a quantidade excessiva dos equipamentos.
O Código de Trânsito Brasileiro não obriga mais a sinalização da fiscalização eletrônica e pardais, e sim, a velocidade máxima. E a quantidade excessiva desses equipamentos entre Nova Friburgo e Itaboraí já começa a provocar reações diversas. Há quem afirme que elas até são necessárias, pois os motoristas de um modo geral abusam da velocidade.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Braulio Rezende Filho, vê a questão com muita preocupação. Além da dificuldade em relação ao fluxo de turistas para Nova Friburgo, os que chegam à cidade estão reclamando do grande número de pardais ao longo da estrada RJ-116. Para Braulio, a colocação dos mesmos nos centros urbanos, de grande concentração de pedestres, onde existam colégios, é justificável, mas em determinados locais que estão sendo colocados é descabido. Isso está gerando uma indústria de multas muito grande e sacrificando os turistas que estão procurando Nova Friburgo”.
Braulio comentou que a CDL tem se posicionado contrária ao que considera a maneira abusiva como estão sendo instalados os pardais ao longo da RJ-116. As reclamações foram endereçadas à concessionária Rota 116, DER, ao governador Sérgio Cabral e a todos os deputados estaduais.
A VOZ DA SERRA, 9 de maio: "DER vai reavaliar fiscalização eletrônica nas rodovias. Presidente da CDL e do SinComércio, que havia feito queixa sobre pardais na RJ-116, comemora a decisão”.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (SinComércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende, foi informado pelo chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Governo, Affonso Monnerat, de que a instalação de dispositivos de fiscalização eletrônica nas rodovias estaduais será reavaliada por uma comissão de técnicos do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ). A comissão, criada pelo presidente do órgão, Henrique Alberto Santos Ribeiro, deverá concluir o trabalho no prazo de 20 dias, a contar de 2 de maio, data de publicação no Diário Oficial da portaria 009, que trata do assunto. Até lá, fica suspensa a colocação de pardais em qualquer rodovia estadual.
Rezende comemorou a decisão do DER. "Recebi com alívio o e-mail do Affonso Monnerat sobre a composição do grupo que vai estudar a readequação da fiscalização eletrônica nas rodovias estaduais. Há bastante tempo este tema merecia a atenção do governo”, destacou.
O presidente da CDL e do SinComércio assinala que a grande quantidade de pardais e as multas aplicadas na rodovia prejudicam os usuários da RJ-116, em sua maioria moradores de Nova Friburgo e cidades vizinhas, e afastam os turistas da região. "Quem vem nos visitar e, desavisado, leva várias multas nunca mais quer voltar aqui. Na correspondência ao governo do estado, ressaltamos que isso vai contra os esforços que temos feito para recuperar nossa economia. Mas, agora, com essa iniciativa do DER, estamos mais esperançosos de que as coisas mudem para melhor”, afirmou Braulio Rezende.
Opiniões
Ao que tudo indica, o clamor dos friburguenses repercutiu entre as autoridades estaduais. Os novos equipamentos instalados ou foram bem sinalizados ou ainda não entraram em funcionamento. De qualquer maneira, a instalação de novos controladores de velocidade está suspensa nas rodovias estaduais.
Quem é obrigado a passar com frequência pela RJ-116, entre Nova Friburgo e Itaboraí, está dirigindo com o máximo de cautela para não ser surpreendido por um desses pardais e acabar arcando com uma ou mais multas. Porém, a preocupação maior é com os motoristas que se dirigem a Nova Friburgo, sem conhecer a estrada ou ignorar os equipamentos instalados. E o pior: doer no bolso ao receber multa .
Para saber o que os friburguenses pensam do assunto, a reportagem de A VOZ DA SERRA foi às ruas e perguntou a dez pessoas: "Você acha que o excesso de fiscalizações eletrônicas na RJ-116 está prejudicando o turismo, a economia de um modo em geral de Nova Friburgo?”. Há opiniões divergentes. Confira as respostas.
"Não prejudica. Aliás, vai até ajudar e contribuir para diminuir os acidentes. São benéficos, não tenho dúvida. Ao invés de se fazer do Rio até aqui em duas horas, vai demorar mais 10, 15, 20 minutos. Não chega a prejudicar. Fica até melhor a viagem porque os turistas apreciam mais as nossas paisagens.”
Atys Madureira, 62 anos, comerciante, Centro
"Eu acho que atrapalha. Expulsa os turistas da cidade. A gente sai daqui tem uns quatro pardais escondidos. Quando a gente vê está em cima. Aí são 127 reais e cinco pontos na carteira, quando se vê, são dez pontos para lá e dez pontos para cá e perde a carteira num final de semana, num passeio à praia. Eu sou contra colocar pardal para tomar conta do trânsito, põe um quebra-mola, funcionários para trabalhar na estrada. Do jeito que está os turistas vão cair fora. Está feia a coisa.”
Rodalvo Gomes, 70, despachante há 46 anos em Nova Friburgo e morador de Teresópolis
"Atrapalha. As pessoas que sabem disso preferem ir para outros lugares, Petrópolis, Teresópolis, que além de serem mais perto do Rio não têm este tipo de problema. A gente que viaja de vez em quando ao Rio ainda passa por ali, até porque não tem outro jeito. Mas quem vem de fora, que já sabe disso, vai procurar outros caminhos.”
Dione Moura, 58, secretária, Centro
"Meus clientes, que têm confecção e lojas, estão dizendo que compradores normais e os chamados guias estão ficando muito onerados nessas situações, porque erram num trecho desses, levam uma multa, erram em outro, levam outra. Estão reclamando muito. E o que acontece? Vão para outras cidade e não tem nada disso. Há cidades em torno de Nova Friburgo que estão ampliando seus polos de vestuário que não têm esse problema e ainda estão sendo ajudadas pelo governo municipal, o que não acontece aqui. Meus clientes estão reclamando porque não conhecem a estrada, passam direto e estão levando multa.”
Luiz Cláudio de Oliveira Souza, 47, corretor e contador, Olaria
"Eu acho que sim. Porque a gente sai para ir a um lugar, fazer um passeio de carro, já vai preocupado na estrada com o trânsito e agora tem que se preocupar também com os pardais que foram instalados. Inclusive eu sou vítima, porque a cada 15 dias vou ao Rio e tenho que passar por esse monte de pardais. Passou, não viu: multa. E tem um detalhe: agora não é preciso mais aviso da fiscalização, só da placa de 50 quilômetros. Eu acho que são muitos pardais e isto está prejudicando a cidade.”
José Augusto de Souza Rodrigues, 54, técnico em marketing, Vila Guarani
"A questão é simples. Têm que ser vistas as bifurcações, encruzilhadas, onde elas são realmente necessárias e em cima do que é necessário estudar, ouvir as pessoas que moram nas imediações da pista, saber se há necessidade do equipamento. Não devem ser todos os pardais retirados, mas não vamos colocar o pardal numa curva, numa lombada, assim é uma coisa descabida. Eu acho que o pardal necessário tem que ser bem localizado e sinalizado para alertar as pessoas. Em locais estritamente necessários. Eu acho que está havendo um pouco de excesso e isso vai refletir no momento atual que nós precisamos dos turistas. Eles não podem chegar aqui e serem multados, porque não conhecem os pardais, que estão mal localizados. Até para o pessoal de Nova Friburgo é difícil achar o pardal — que não são feitos para pegar a pessoa sem ela saber, ele é uma forma educadora, para lembrar que a pessoa tem que andar numa velocidade moderada, que há risco de acidente. Ele não deve acabar, mas deve ser mais bem sinalizado, porque aquilo é para ajudar e não atrapalhar.”
Charles Louback Spíndola, 56, advogado e funcionário da Receita Estadual, Centro
"Eu acho que a sinalização eletrônica é importante, para diminuir a velocidade, principalmente nas áreas urbanas, onde há mais movimento de pessoas. Mas ela deve estar visível, porque o turista não conhece a cidade, não identifica o equipamento. Tem que estar bem sinalizada. Nova Friburgo é uma cidade que tem potencial turístico e isso prejudica realmente o fluxo de turistas, que ficam bravos com a gente por ter que pagar multa. Eu acho que nos principais pontos tem que haver sim a fiscalização eletrônica, mas tem que estar muito bem sinalizada. E não é só com a fiscalização eletrônica, não, é em todos os sentidos, tem que estar tudo muito bem sinalizado”.
Valéria Cristina Cratorwill, gestora de turismo, Centro
"Não prejudica. Porque tudo que coloca ordem em qualquer situação é positivo. E outra coisa que prejudica o turismo não são essas fiscalizações, e sim, a propaganda negativa que é feita fora de Nova Friburgo em relação à cidade. Isso sim é que prejudica o turismo. A fiscalização eletrônica ela é até necessária. A disciplina, seja ela qual for, é necessária, coloca ordem, traz até segurança para todos. A fiscalização eletrônica não é, de forma nenhuma, prejudicial. Ninguém vai deixar de vir por causa dessa fiscalização. Muito pelo contrário: o turista vai se sentir protegido.”
Heloísa Helena Stroligo da Silva, 52, secretaria executiva do Conseg e da Associação Comercial, Centro
"Não prejudica, porque quanto menos acidentes, mais turistas. Os radares evitam acidentes. Em face de evitar os acidentes, atrai o turista. Porque a cidade violenta no trânsito é que perde turista. Agora, uma estrada bem sinalizada, com quebra-molas e radares eletrônicos evita acidentes. E naturalmente as pessoas ficam mais satisfeitas. Até porque grande parte dos turistas que vem para Nova Friburgo são veranistas, pessoas da terceira idade, que dirigem devagar, senhores e senhoras. Para eles é muito melhor o radar, o quebra-molas e não é a fiscalização eletrônica que vai afastá-los, em hipótese nenhuma. Só que não podemos ter um radar escondido. Aí é ilegal e antiético. Mas eu não tenho visto isto na RJ-116. Os dois radares de Debossan, o de Mury e os dois da Ponte da Saudade estão bem sinalizados. Aliás, está precisando de mais um, no centro de Mury. Ocorre que os caminhoneiros passam ali correndo muito, e eles sim, provocam acidentes violentos. E estes é que afastam o nosso turista e mais alguns arruaceiros. O bom turista, aquele que Nova Friburgo precisa, não vai deixar de vir por causa do radar, pelo contrário, ele virá pela segurança. O que vai deixar de vir é o arruaceiro, aquele que corre, que bebe, que cria problema. Esse mau turista Nova Friburgo não quer. Esse não gosta de fiscalização eletrônica.”
Pedro Thomé, 44, advogado, Mury
"Prejudica os turistas. Por causa dessa fiscalização tem gente deixando de vir a Nova Friburgo. As pessoas estão reclamando muito porque aumentou muito a fiscalização. E isso afasta os turistas. Para nós, que dirigimos, já estamos acostumados, temos conhecimento, mas para quem vem de fora é um problema. As exigências estão grandes demais para quem dirige. A fiscalização está rígida demais, tem que aliviar um pouco.”
José Luiz Medeiros de Brito, 70, taxista há 43 anos, Olaria
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