Filho feio tem pai - 24 de dezembro

Por Diego Vieira
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Sei disso porque, por um acaso, tenho um, e hoje é aniversário dele.

Cinquenta e um anos desde que a mãe de santo Maria Vieira e o coveiro João Gaita tiveram seu filho caçula, que passaria sua vida contagiando a todos com bom humor, companheirismo, fidelidade e uma moralidade inquestionável. Além de ser um pai bom pra caramba!

O meu pai é uma dessas pessoas boas, bacanas mesmo, que todos conhecem pelo nome. Ou, no caso dele, pelo apelido: Bila. Porque, para mim e muitas outras pessoas, ele sempre foi o Bila. Certa vez um caminhão de entregas quase voltou a seu endereço de origem sem deixar a mercadoria, só porque eu não conhecia o tal João Luiz Vieira, que vivia no mesmo endereço que eu.

Com meu pai também não tenho nenhuma dessas histórias cafonas de "ele me ensinou a andar de bicicleta", ou algo assim. Na verdade, as histórias que posso contar do meu pai são muito mais bacanas. Ó só: uma vez estávamos na piscina, eu e mais um amigo, contando uns seis, sete anos de idade apenas, quando contaram pro meu pai que o corpo de uma suicida havia sido encontrado sob uma ponte, lá em Macuco. Não deu outra: ele pegou a mim e meu amigo, jogou um no quadro, outro na garupa da bicicleta, e partiu em direção ao tal corpo. Lá nos acotovelamos entre as pessoas, passamos entre os arames farpados da cerca e, finalmente, vimos os bombeiros mexendo num plástico preto e ficamos por ali, de olho no morto, esquecendo do resto. Até que um bombeiro veio reclamar com meu pai sobre o absurdo que era ele permitir que as crianças ficassem ali, de pé sobre o corpo.

Termos confundido um plástico preto cheio de lixo com outro com um cadáver dentro nem é tão maluco assim, visto que histórias cabreiras envolvendo gente morta pipoca em mitologia familiar. E, apesar de meu pai não descambar tanto para o escatológico e o mórbido quanto eu, tem lá suas peças de capricho para com os pontos de vista menos morais para se fazer e estar vivo.

Embora certamente eu tenha herdado um ou outro cacoete do meu velho, é notório que somos bem diferentes, que não compartilhamos dos mesmos altares, tampouco apontamos nossas armas na mesma direção. Mas temos objetivos em comum, seja lá quais forem eles.

E mesmo que eu não seja um belo exemplo de filho, que não seja muito presente, nem lá uma pessoa grande coisa, pelo menos tenho um pai bacana, que todos os meus amigos adoram e que, no dia em que sofri um acidente de carro, saltou de outro veículo em movimento e tão rápido quanto o Fiat Uno se arrebentou no fundo de uma vala, meu pai se achegou por lá e tratou de me tirar, todo sujo de carvão, catarro e sangue do meio da bagunça. E isso é muito maneiro!

Meu pai é muito maneiro.

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