Tente tirar uma foto de uma paisagem urbana em Nova Friburgo e você chegará à triste constatação: não é fácil achar um ângulo decente no qual não apareçam postes e fios. Em determinados casos, o emaranhado é tão denso que se torna o elemento principal da composição, deixando em segundo plano as fachadas dos prédios históricos.
Os fios de energia, que nos acompanham por cima de nossas cabeças nas caminhadas pelas calçadas e nas viagens de carro, são um elemento tão presente em nosso cotidiano que já os consideramos parte integrante e inevitável da vida urbana, como as lojas, as casas e os bancos da praça. Talvez por causa disso, ao viajarmos para outros lugares ou ao vermos um filme, é um tanto difícil para nós chegar à conclusão de que aquele visual tão limpo e bonito que contemplamos é, em grande parte, devido à ausência de fios expostos no ar.
A fiação subterrânea sempre foi a primeira opção de países desenvolvidos; já no Brasil, acabou vingando a fiação aérea, devido a seu menor custo de instalação. No entanto, uma tendência atual nas grandes cidades brasileiras — e até mesmo cidades menores, como nossa vizinha Petrópolis — é a substituição da fiação aérea pela subterrânea. Seria este um bom investimento para Nova Friburgo?
De um lado, há vários pontos positivos: além da questão estética — que traz bem-estar ao morador e ao turista —, existem também vantagens econômicas diretas, devido a sua manutenção ser de custo mais baixo; de segurança, pois fios expostos são um risco de vida; de qualidade de transmissão, já que eletricidade, telefone e internet não estarão mais sujeitos a interferências de galhos, chuva e vento; e, por último — mas não menos importante —, vantagens ecológicas, pois sem os fios e postes, mais árvores podem ser plantadas, e estas e as demais podem crescer à vontade, tornando-se um elemento mais presente da nossa paisagem urbana, diminuindo o contraste entre cidade e natureza.
Na edição de dia 30 de janeiro deste ano, A VOZ DA SERRA noticiou um acidente causado por um ônibus que estava sendo carregado por um caminhão-reboque e derrubou parte da fiação aérea da Rua Duque de Caxias, deixando pedestres apreensivos e a área ao redor sem energia elétrica por mais de meia hora. O ocorrido também gerou, naturalmente, retenção de tráfego de veículos.
Este é somente um exemplo recente do tipo de transtorno causado pela fiação aérea. E diferentes cenários, envolvendo intempéries naturais, não são difíceis de se imaginar: o vento balança os fios, que podem se romper; o vento também balança e derruba galhos, que por sua vez rompem os fios — e por aí vai.
Nova Friburgo é um município onde ocorrem muitas quedas de luz, principalmente na ocorrência de chuvas fortes. É um fato comum, uma característica de nossa cidade. E os fios e transformadores expostos são, em grande parte, os protagonistas disso, dada a exposição de parte essencial da malha a estas intempéries. Segundo dados da Eletropaulo, distribuidora de energia elétrica da cidade de São Paulo, áreas com fios expostos sofrem de quatro a cinco vezes mais blecautes do que áreas que têm sua fiação protegida no subsolo.
Poda de árvores
O problema acima leva diretamente à questão das árvores. Inclusive, no fim do ano passado, A VOZ DA SERRA fez uma série de matérias sobre podas realizadas na cidade e que, segundo qualquer critério de bom senso, foram feitas de maneira exagerada, deixando as árvores praticamente só com raiz e tronco. A companhia de energia elétrica, autora destas intervenções (sob contrato com a Prefeitura), alegou que tais atos eram realizados para preservar a fiação elétrica. Com a fiação subterrânea, as podas seriam realizadas por outros agentes que não a empresa de energia elétrica, desta vez somente em benefício das próprias árvores e sua relação com o trânsito e as edificações. Além do mais, como já foi dito, outras árvores poderiam ser plantadas onde hoje não há espaço para tal. Se os pássaros não terão mais fios para pousar, desta vez encontrarão lugar onde sempre foi seu refúgio.
Gestão do subsolo
O enterramento da fiação pode criar uma dor de cabeça aos nossos governantes. Até onde se sabe, não há qualquer estudo ou planejamento do subsolo da cidade: pedras, raízes, galerias subterrâneas, entre outros, co-habitam. Esta intervenção, mesmo que de parte limitada da cidade, pode abrir uma verdadeira caixa de pandora. Seria importante, de qualquer forma, aproveitar quaisquer oportunidades para mapear o subsolo — o que pode vir inclusive a sanar alguns problemas relacionados a entupimentos e enchentes durante períodos de chuva.
Obstáculos
Cadeirantes, cegos e idosos também teriam motivos para aplaudir a iniciativa, que reduziria o número de postes — em Nova Friburgo são 33 mil espalhados por todo o seu território — e, combinado com uma revitalização urbana mais ampla, incluindo-se aí a uniformização das calçadas, possibilitaria então que se tivesse um ambiente mais amigável a todos os transeuntes da cidade.
Estética e turismo
A estética é um elemento essencial para o bem-estar dos habitantes e visitantes de uma cidade. Sabemos que estas percepções subjetivas são difíceis de serem colocadas em números, mas um visual bonito e organizado contribui para a sensação de conforto, tranquilidade e prazer. Além do mais, os diversos prédios históricos que Nova Friburgo possui merecem ser tratados com reverência e como fonte de renda turística. Esta vocação do município está cada vez menos explícita e a grande maioria dos turistas segue somente para áreas de belezas naturais, como Lumiar, São Pedro e Mury (que inclusive, quem sabe, poderiam por sua vez também ser projetos-piloto para a fiação subterrânea), deixando de lado as áreas de beleza histórica da cidade, como a Praça Getúlio Vargas e Avenida Alberto Braune, cheias de prédios icônicos e tombados, mas que atualmente são áreas vistas apenas como eventual via de passagem.
Exemplos de cidades
São Paulo
Desde 2005, há em São Paulo uma lei que obriga o enterramento da rede elétrica, telefônica, televisão a cabo, entre outros. Ainda que existente, a lei não "vingou” e pouco foi feito desde então. Agora, um novo projeto, apelidado de "nova cidade limpa”, em homenagem à iniciativa da Prefeitura de São Paulo de padronizar as publicidades visuais na cidade, visa a remoção de todo o cabeamento da cidade, a exemplo do que foi feito em algumas de suas vias nobres — como a Rua Oscar Freire, onde foi removida a fiação, foi padronizado o mobiliário urbano e foram criados espaçosos "boulevards” por toda sua extensão. A iniciativa deu tão certo que a especulação imobiliária imediatamente elevou os preços no local, criando outro problema: a supervalorização da via, que agora luta para manter suas lojas abertas frente à especulação.
Petrópolis
Iniciado em 2006 durante o primeiro governo de Rubens Bomtempo, o projeto de urbanização do centro de Petrópolis foi interrompido em 2008 com o fim de seu mandato. O projeto visava melhorias estéticas na cidade, que alavancariam o turismo e facilitariam o tráfego de pedestres, com ruas mais largas e livres de obstáculos. O lado ímpar da Rua do Imperador, que ainda não está livre de fios expostos, deve ser terminado ainda em 2014.
Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro antigo já contava com fios subterrâneos, que foram aos poucos dando lugar à fiação aérea à medida que a cidade crescia. Bairros da Zona Sul como Leblon e Ipanema possuem fiação subterrânea e um projeto de enterramento dos fios da cidade estaria programado para que as obras terminassem em fevereiro de 2016, a tempo de tudo estar pronto para as olimpíadas. No entanto, o projeto, orçado em R$ 20 bilhões, foi embargado pelo STF a pedido da Light, por ser muito taxativo e não fazer explicitamente parte do contrato de concessão entre o Estado e a concessionária, e a pendenga agora se arrasta pelos tribunais.
Petrópolis: visual mais limpo
Projetos para Nova Friburgo já existem
Em Nova Friburgo, há muito se discute a necessidade de implantação de um projeto, já analisado na Prefeitura em gestões anteriores, para instalação do sistema de fiação subterrânea, ao menos no ponto mais nobre do Centro: a Avenida Alberto Braune e as praças Dermeval Barbosa Moreira e Getúlio Vargas. Para tanto, estima-se a necessidade de um investimento de aproximadamente R$ 10 milhões.
\Sem recursos próprios para tal, a Prefeitura estuda a possibilidade de obter recursos federais através de convênios para aterrar a fiação no Centro ou ainda terceirizar o serviço de manutenção da iluminação pública, repassando então a obrigatoriedade da implantação da fiação subterrânea à empresa que assumir a manutenção dos demais pontos de iluminação do município.
A ideia é ainda aterrar a fiação ao mesmo tempo em que for implantado o projeto de revitalização do centro comercial friburguense, aproveitando-se o traçado de uma futura ciclovia ao longo das duas praças e no lado ímpar da Avenida Alberto Braune para abrigar a nova fiação.
Já a concessionária de energia elétrica de Nova Friburgo, a Energisa, encaminhou à Prefeitura, em novembro do ano passado, um projeto de aterramento da fiação entre a Rua Sete de Setembro e a Avenida Alberto Braune, na esquina com a Rua Gonçalves Dias, no acesso ao Cordoeira, totalizando 3.690 metros de rede. O custo, na época, seria de R$ 1,9 milhão por quilômetro.
O mesmo projeto de substituição da rede atual por outra convencional e aérea sairia por 5,5% do total previsto para a rede subterrânea. Isso sem contar as adequações necessárias às demais empresas de telefonia fixa, operadoras de internet e TV a cabo.
Uso dos postes
Atualmente, 14 empresas dividem os postes para distribuição dos seus serviços aos clientes e, segundo a Energisa, com os recentes desenvolvimentos tecnológicos as redes aéreas têm ocupado cada vez menos espaços com cabos concêntricos e redes isoladas.
A concessionária ressalta ainda que grande parte dos cabos vistos nos postes hoje é de outras prestadoras de serviço e que qualquer investimento realizado pelas distribuidoras de energia deve ser repassado para as tarifas de energia, como prevê a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Quanto à Lei 5.340, a direção da Energisa comentou que já existe decisão judicial que obriga o Estado a não aplicá-la, ou seja, não determinando que as concessionárias implantem o aterramento arcando com seus custos, pois compete ao governo federal legislar sobre a energia elétrica.
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