Alguns órgãos da grande imprensa divulgaram recentemente notícia de que o número de abelhas estaria diminuindo. Pessoas que consomem mel, por necessidade ou por gosto, ficaram preocupadas. Especialistas estudam o fenômeno, que está restrito aos Estados Unidos. O biólogo Luís Moraes, atual secretário de Turismo de Nova Friburgo, proprietário de um apiário no município, garante que a produção de mel no Brasil, incluindo Nova Friburgo, está garantida, não afetando quantidade nem qualidade. De acordo com Luís, a preocupação quanto à diminuição das abelhas procede, mas o problema não ocorre no Brasil, e sim nos Estados Unidos. Isto porque enxames de abelhas abandonaram as colméias migrando para a natureza, deixando as caixas totalmente vazias.
O fenômeno está sendo motivo de pesquisas, mas ainda não existe um diagnóstico exato do agente causador do problema. Existem, sim, algumas teorias a respeito. Uma delas se refere à questão da cultura transgênica, pois a apicultura nos EUA não é feita como no Brasil. Aqui as abelhas ficam em contato com mata nativa, ao contrário daquele país, onde a apicultura é feita em áreas de agricultura intensiva – milho, soja, trigo, sorgo, por exemplo –, a maioria transgênica, pulverizada com muitos agrotóxicos, além do processo de alteração climática. Foi descoberto ainda nos EUA, mais recentemente, que as abelhas desses enxames que abandonaram as colméias estão sendo portadoras de uma doença virótica. “Mas não se sabe ainda exatamente qual dessas causas é a mais importante”, salienta Luís.
NO BRASIL
Luís Moraes participou do 17º Congresso Brasileiro de Apicultura, realizado em junho passado em Belo Horizonte (MG). O evento contou com a presença de muitos especialistas e um dos debates foi justamente sobre este assunto.
Conforme abordado no congresso, no Brasil existe uma diferença muito grande dos EUA, já que aqui não há o mesmo tipo de abelha criado lá. As abelhas dos EUA são de origem européia pura, o que não ocorre no Brasil, e sim um híbrido de abelhas africanas com abelhas européias. Estas existiam até 1956, quando houve importação de abelhas da África e o conseqüente processo de miscigenação, criando-se, a partir de então, uma raça mista, entre abelhas africanas e européias, até mais resistente a doenças. Esse cruzamento, no Brasil, segundo Luís, é único no mundo. “Aqui no Brasil, como tudo é mestiço, até as abelhas são mestiças”, brinca.
A PRODUÇÃO DO MEL
Luís Moraes salienta que são muitas as espécies de abelhas. As abelhas Apis meliferas, comuns, conhecidas como as maiores produtoras de mel, estão espalhadas por todo o mundo, mas sua origem é a África. Foram para a Europa e daí disseminadas, através do processo de colonização europeu, para todos os continentes. São as melíferas (da Itália), ligústicas (Alemanha) e cárnicas (Cáucaso). Isto porque na época das grandes navegações não existia açúcar e tudo era adoçado com mel. E por isso levavam grandes quantidades de mel e também as abelhas.
Segundo Luís, ainda existem as abelhas Apis meliferas adansoni (africanas). No Brasil houve a mistura das abelhas européias com as africanas e surgiu a raça africanizada. Não há nem européias nem africanas puras, e sim, um híbrido, fruto do cruzamento das duas raças.
As abelhas são temas de congressos nos países a cada dois anos. No Brasil a entidade que cuida do assunto é a Confederação Brasileira de Apicultura, que realizou o congresso de Belo Horizonte. Nos anos alternados, são realizados os congressos internacionais. O próximo está marcado para a França, na cidade de Montpelier. Luís crê que o debate que tende a dominar o evento é justamente esse problema, que está provocando um alarme mundial do risco da diminuição das abelhas. O congresso está previsto para novembro de 2009.
Luís garante que não há motivos para preocupações no Brasil quanto à produção de mel. Muito pelo contrário. “A desgraça de uns significa a felicidade de outros. A laranja, por exemplo, quando tem geada e prejudica a produção da fruta na Califórnia, os produtores de São Paulo ficam felizes da vida”, lembra.
No caso do mel isto também se aplica. “Muito mais do que um perigo, pode ser uma oportunidade. Porque o Brasil é hoje grande produtor e produz muito mais do que consome”, explica Luís. O maior produtor mundial de mel é a China, seguida dos Estados Unidos.
Luís finaliza tranqüilizando os friburguenses quanto à produção de mel, que continua normal, tanto em quantidade quanto em qualidade. E o produtor lembra que a doença a que se refere esta matéria não afeta a qualidade do produto, e sim a produção. “Em Friburgo produzimos um mel de excelente qualidade, de área de mata nativa, as abelhas não têm doenças e as pessoas podem ficar tranqüilas porque não vai faltar mel e nosso mel vai continuar sendo de excelente qualidade”.
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