Dalva Ventura
Os toldos de algumas barracas estão imundos e em frangalhos. Outras nem toldos têm mais e as mercadorias são protegidas apenas com um plástico. As armações de ferro, enferrujadas, conferem um aspecto ainda mais desolador ao cenário da feirinha. Que, de artesanato mesmo, têm muito pouco. Administrada por duas associações — do lado ímpar, pela Feira de Artesanato de Nova Friburgo (Friarte), e do lado par, pela Feira da Associação de Artistas de Nova Friburgo (Faanf) —, a feirinha, que funciona de sexta a domingo e também durante os feriados na Praça Getúlio Vargas, está mesmo num estado lastimável.
O que não impede que seja visitada por dezenas, talvez centenas de turistas nos fins de semana, principalmente nos meses de inverno. O movimento turístico da cidade está longe de ser o que já foi nos áureos tempos, mas nossa feirinha de artesanato continua firme. Por falta de opções, os turistas que vêm apenas ao centro da cidade, quase que obrigatoriamente, passam por lá e até compram uma coisinha ou outra. Se, pelo menos os turistas encontrassem lá lembrancinhas da cidade, como acontecia em tempos idos, as vendas certamente seriam melhores. No entanto, pouquíssimas barracas oferecem algum produto deste tipo.
O problema é que ninguém parece estar se interessando muito pela feira de artesanato. Com exceção, é claro, dos feirantes e dos atuais dirigentes da associação, Mauro Mendonça e Fátima Coelho. É claro que todos os ditos artesãos que passam ali seu fim de semana enfrentando o calor e o frio têm lucro com a atividade, mas se ressentem de uma atenção maior da prefeitura. Afinal, é ela a responsável pela conservação das praças da cidade, que cede o espaço para o funcionamento da feira e concede o alvará para a montagem das barracas.
A confusão, aliás, já começa aí. A Friarte administra apenas as barracas situadas do lado ímpar da praça e seus associados são obrigados a pagar à prefeitura uma licença anual no valor de R$ 220. O valor não chega a ser alto, é verdade. O que ninguém entende é porque as barracas localizadas no lado esquerdo, idênticas às do outro lado, mas administradas pela Faanf são consideradas de utilidade pública e, portanto, estão isentas do pagamento de taxa. O mesmo acontece com as barracas do Domingo Doce, que ficam no início da praça, próximas ao ponto de táxi.
Mas, que nos perdoem os feirantes, do jeito que está, não dá para continuar. Para começo de conversa, a Praça Getúlio Vargas é tombada pelo Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico Nacional) e, a rigor, nem deveria abrigar uma feira, seja de artesanato ou de qualquer outro produto. Enquanto ela permanece no local, porém, é fundamental encarar o problema de frente o quanto antes.
Feirantes se queixam da falta de apoio
A Friarte é responsável por 70 barracas, mas hoje em dia os feirantes não passam de 50 e é raro o fim de semana em que todos aparecem. O pior é que pouquíssimas são de artesanato propriamente dito, reconhece o próprio presidente da Friarte. Ele calcula que estas não passam de 20. Pelo que observamos, as demais vendem apenas imitações fajutas e quinquilharias chinesas. "Desde que assumi a associação, há cinco anos, só deixo entrar produtos feitos a mão, mas muita coisa vendida na feira não tem nada a ver com artesanato”, diz. Mauro vende pedras e afirma que os artesãos chegam empolgados, mas não chegam a esquentar lugar. "Ficam dois, três meses e desistem”, diz. Problema que ele atribui muito mais à falta de turistas na cidade do que à conservação das barracas.
A vice-presidente da Afridev, Fátima Coelho, que trabalha com roupas de patchwork, admite ser indispensável a substituição das barracas, mas diz que ninguém faz isso por causa do preço e também porque a qualquer momento a prefeitura poderá exigir a modificação do padrão. Elas custam, em média, R$ 750 reais. E só o toldo não sai por menos de R$ 400. "Mal ou bem, a maioria aqui vive disso, fica muito caro”, diz.
Mauro afirma que a associação apresentou vários projetos à prefeitura e também à iniciativa privada, com propostas e reivindicações. Entre elas, a adoção de um modelo de barraca padronizado e protegido da chuva, idêntico ao da feirinha de Florianópolis. Não deu em nada.
O maior problema apontado por ambos, porém, diz respeito à falta de uma política de incentivo ao turismo. "A cidade não oferece atrações. O turista chega e não conta sequer com banheiros públicos. Os ônibus não têm onde estacionar”, declara Mauro. Os feirantes também se ressentem da falta de banheiros e de um local para guardar suas barracas. Por enquanto, pagam R$ 80 por mês pelo serviço de montagem e desmontagem das mesmas.
Feira resiste apesar dos problemas
Domingo ensolarado e frio. A feirinha do lado ímpar está cheia de gente passeando para lá e para cá, olhando o preço das mercadorias. Poucos, porém, compram alguma coisa. Já a do lado par, que é bem menor, está quase vazia. Às 15h, Gessy Torres, que confecciona e vende panos de prato, toalhinhas, aventais e outros produtos com pinturas em tecido, não tinha feito R$ 10 reais. O lucro aferido certamente não compensa, mas ela não desiste. Diz que na praça acaba pegando algumas encomendas, faz amizades e não fica parada em casa. "Vale a pena”, conclui.
Um filão que poucos feirantes exploram são os produtos com lembranças de Nova Friburgo. Além de um porta-chaves de madeira com a imagem do Cão Sentado, os únicos artigos que encontramos foram panos de prato com bordados em ponto de cruz confeccionados por Maria da Graça Costa, que também faz sacos de pão, porta-calcinhas e puxa-sacos com aplicações. Graça está na praça há 22 anos e diz que vende bem, apesar do movimento ter caído muito nos últimos anos. "Muita gente faz encomendas e leva meus bordados até para fora do Brasil”, diz.
Um artesão novato na Friarte, Carlos Salgueiro, estava satisfeito com as vendas. Às 15h de domingo, já havia vendido 11 garrafas pintadas, onde planta trevos da sorte, com a inscrição "Nova Friburgo” num pedaço de casca de coco. Maria da Graça Jandre Miranda, que vende roupinhas para cachorros em plush também estava satisfeita com o movimento. "Tem gente que compra para revender e me deixa até desfalcada”, diz. As caixas em decoupage com fotos antigas e paisagens feitas por Regina Santos, que tem dez anos de feira, também são muito procuradas.
No mais, na feira a gente encontra lá apenas roupas de lã sintética, quadros de gosto duvidoso, bichinhos de pelúcia, cactos. Ah, bijuterias e mais bijuterias de gosto igualmente duvidoso made in China. Fim de feira.
O movimento de turistas é intenso, principalmente durante o inverno
Observem o estado lastimável desta barraca
A vice-presidente da Afridev, Fátima Coelho, lamenta
a falta de turistas e de apoio do Poder Público
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