Henrique Amorim
Enquanto o setor metal-mecânico de Nova Friburgo comemora o crescimento de 35% na geração de empregos esse ano, segundo pesquisas dos sindicatos da categoria, com a média de quatro contratações em média por empresa a cada mês, o setor têxtil, outrora pujante e acelerador da economia regional, amarga a extinção de postos de trabalho em grandes empresas do município. Foi assim na década de 1990 na Fábrica Ypu, hoje mantida em reduzida escala por uma associação de funcionários, e agora na Arp, que fechou as portas esta semana alegando “dificuldade de recuperar-se ante os prejuízos da tragédia de janeiro”. Com o encerramento das atividades, 120 operários perderam o emprego e veem um futuro nebuloso para se realocarem no mercado, já que o setor têxtil reúne hoje apenas cerca de mil funcionários em pelo menos 16 empresas, a maioria delas de pequeno porte, com exceção das fábricas Sininbu e Passamanaria Hak. No passado, fábricas como a Ypu, Arp e Filó chegaram a reunir mais de três mil funcionários cada uma.
“Muitos demitidos da Arp certamente terão dificuldades para conseguir vagas. A aposta será nas micro e pequenas empresas do setor. Outros, provavelmente, vão tentar mudar de ramo”, acredita o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Nova Friburgo (SindTêxtil), Gilson Pereira, que atribui ainda o fechamento da Arp à desistência dos gestores da fábrica em manter o negócio. “Há fábricas têxteis em Nova Friburgo que tiveram prejuízo total com a enchente no fim do ano e já se reergueram e estão contratando. Como a Arp não conseguia se manter?”, questiona, lamentando o reforço no exército de desempregados com o fechamento da fábrica centenária. “É muito triste ter que homologar semana que vem a rescisão do contrato de trabalho de um funcionário com mais de 30 anos de dedicação à Arp”, disse. As homologações acontecerão semana que vem na sede do SindTêxtil, na Rua Augusto Spinelli.
O sindicalista definiu ainda a condição da dispensa dos trabalhadores da Arp como “humilhante”. Segundo Gilson Pereira, os operários permaneceram em licença coletiva de segunda, 29, a quarta-feira, 31 de agosto, sob a justificativa que não havia encomendas de mercadorias. “Ao retornarem na quinta-feira, 1º, conforme solicitado às 5h30 da madrugada, os trabalhadores encontraram os portões fechados e foram impedidos de entrar na empresa. Até que algum tempo depois da espera na calçada, um encarregado do setor de recursos humanos chegou, reuniu todos no pátio e os demitiu em conjunto e ao relento”, revelou o presidente do sindicato. Gilson contou ainda que para poder retirar seus pertences pessoais da fábrica, os demitidos tiveram que acessar seus setores de trabalho divididos em grupos e acompanhados por seguranças.
Em comunicado oficial publicado na edição de quarta-feira, 1º, em A VOZ DA SERRA, a diretoria da Arp justificou a paralisação das atividades numa nota de esclarecimento, onde cita que embora tenha sido, ao longo de sua existência, líder no mercado de bordados nas Américas e referência no setor, passou a sofrer a concorrência desleal de produtos chineses, de qualidade inferior, mas com preços altamente competitivos, sem contar os prejuízos sofridos com as enchentes de 2006 e a tragédia deste ano, que muito dificultaram a permanência das atividades. Outros fatores agravantes foram a perda de maquinários e matéria-prima, além de prejuízos também em sua estrutura física. As imponentes instalações da fábrica na Avenida Conselheiro Julius Arp, no Centro, deverão ser alugadas.
Deixe o seu comentário