Fé e esperança numa vida melhor

terça-feira, 01 de fevereiro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

José Duarte

Depois de dar a maior demonstração de fé, desprendimento e amor ao próximo, o pedreiro Leandro da Silva Machado, 38 anos, agora passa por uma situação difícil. Sem sua família, morta na enchente, e a casa onde morava, na Estrada Rio Grande, Córrego Fundo, em Campo do Coelho, ele não tem lugar para ficar. Na tragédia que abalou a cidade, Leandro perdeu Michele (esposa), Daniel (filho), Arlindo (cunhado), Diva (avó de sua esposa), Edgar, Ana e Wanderley (tios) e os primos Lidiane e Rodrigo.

“Já consegui uma outra casa, ganhei os móveis de uma Ong carioca, só falta o fogão, mas a dona da casa está cobrando R$ 200 como adiantamento pelo aluguel e eu não tenho esse dinheiro, por isso estou pedindo ajuda”, diz. O pedreiro, que também trabalha como pintor, antes da tragédia fazia serviços na Escola Tempo do Saber, em Duas Pedras, conseguiu outro emprego, na União Mundial, em Conselheiro Paulino, mas ainda está dependendo de documentos, que perdeu na enchente. “Eu dei sorte, não estava em casa na hora do sinistro, estava trabalhando, quando cheguei, me deparei com aquela tristeza. Agora é que está caindo a ficha, é muito triste”, afirma o pedreiro.

Ele fala que a primeira parte de sua missão terminou com a saída dos helicópteros de Nova Friburgo. “Mas eu quero continuar por terra, porque acredito que a cidade vai ter mais de quatro mil mortos, porque muita gente ficou soterrada e ainda não foi encontrada. Pelo que conheço e nos lugares que eu fui, o estrago é bem maior do que estamos vendo”, afirma Leandro.

Do primeiro casamento, com Eclesiane, nasceu Marcus Vinícius, que está com 14 anos, estuda na Escola Municipal Odette Penna Muniz e joga na escolinha de futebol do projeto Gol de Placa. “É com ele que conto agora, minha família é ele”, acentua.

Nesse período de tragédia Leandro não parou: fez 48 vôos, montou 30 pontos de abastecimento, resgatou mais de cem corpos. “Fiz por amor ao próximo, não quero receber glórias por isso. Criei uma força interior que não tinha, e reafirmo: quero agora continuar por terra e ver como estão as pessoas que eu ajudei e que ficaram vivas”, diz, agradecendo pela oportunidade de poder salvar vidas e resgatar corpos, e também ao coronel Neiva, do GOA, e os integrantes do grupo de alpinistas Granito, de São Gonçalo, Rui e Bandeira.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade