Passar no vestibular e, consequentemente, ingressar em uma faculdade é o sonho de muitos estudantes do ensino médio. Nos últimos anos a competição por uma vaga nas universidades brasileiras tem se tornado cada vez mais acirrada. Dependendo da carreira escolhida, como medicina, direito e engenharia, por exemplo, o número de vagas oferecidas é muito inferior ao de candidatos. Este é um dos motivos que fizeram o mercado de cursos pré-vestibular expandir de forma vertiginosa.
A ideia de vantagem em relação a outros candidatos, de aprendizado dinâmico, conhecimento específico e de realização de muitos simulados são algumas das vantagens dos cursos pré-vestibulares. Por outro lado, apesar do sucesso dessas “escolas” preparatórias, o alto valor das mensalidades é um empecilho para muita gente. Em Nova Friburgo, por exemplo, há pré-vestibulares que chegam a custar algumas centenas de reais mensais. Uma verba que nem todo mundo tem para desembolsar.
Por conta disso, e por acreditar que a educação de qualidade é caminho para a cidadania plena, em 2012, dois empresários cariocas criaram a Associação Educacional São José (AESJ). Uma entidade que, além de ajudar estudantes da rede pública de ensino a ingressarem em universidades, oferece diversos cursos gratuitos à população.
A coordenadora geral do curso, Andréa Machado, conta que os mantenedores -- que preferiram não se identificar -- não tem vínculo com Nova Friburgo, nem tão pouco conhecem a cidade. “Eles ficaram sensibilizados pela tragédia de 2011 e resolveram, de alguma forma, ajudar o município. Como acreditam no poder da educação para a transformação da sociedade, decidiram oferecer cursos de apoio a estudantes de baixa renda e escolheram o distrito de Conselheiro Paulino por ser uma das áreas mais impactadas diretamente pelas fortes chuvas, além de se tratar de uma região vulnerável sócio e economicamente”, disse ela.
A instituição oferece o pré-vestibular, reforço escolar, oficina de matemática, oficina de redação, informática e alfabetização de adultos. E todos os alunos recebem material didático gratuito, além de lanche no intervalo entre as aulas. Atualmente, a instituição atende a cerca de 300 alunos, a maioria jovens que cursam ou já concluíram o ensino médio e pretendem dar início a uma graduação. O corpo docente é formado por 11 professores -- de física, história, português, matemática, biologia, inglês e informática -- e sete funcionários de apoio.
Andréa conta ainda que, desde 2012, em todas as modalidades, já passaram cerca de 1000 alunos pela a AESJ e cerca de 325 foram aprovados em vestibulares. “Isso sem contabilizar os aprovados em 2016, ano recorde de aprovações da instituição”, disse a coordenadora, explicando que as aulas são interativas, ministradas por profissionais capacitados e voltadas para o melhor aprendizado e informação do aluno-alvo.
Filipe Guilhermino Rodrigues, de 18 anos, foi um dos alunos da AESJ aprovados no vestibular e conta que é o primeiro da família a ingressar em uma universidade. “Sonhei, e sonhei alto! Escolhi ser engenheiro de controle e automação. Por mais que fosse difícil, a Associação Educacional São José me mostrou que era possível. Com todo o amor e persistência nos nossos sonhos, essa família nos mostra o caminho para um futuro promissor, caminho este que me levou à uma das melhores universidades deste país: a UFRJ! Se meu sonho está se tornando realidade é graças a dedicação da família São José”, disse ele.
Além da árdua tarefa de ser aprovada em um vestibular, Thayssane Rocha Silveira, de 17 anos, enfrentou durante o ano, literalmente, um longo caminho. Moradora da zona rural, ela conta que “cortava a cidade indo de casa até a escola e depois para o pré-vestibular, do outro lado do município. Mas, o sonho de fazer um curso superior sempre foi maior do que qualquer dificuldade. Com todo o suporte oferecido pela associação, ele se tornou realidade”, falou. Thayssane foi aprovada no curso de nanotecnologia, também da UFRJ.
Outro jovem de família humilde, José Victor Batista Gonçalves, estudou na associação em 2016 e revela a importância do curso para a realização do sonho de entrar para uma faculdade pública. “Diante de um país falho na educação, essa foi a melhor oportunidade de estudos que tive na vida. Além de ser uma escola da vida, o São José é uma família, que nos acolhe de braços abertos em fevereiro e nos mostra o caminho certo para a aprovação em novembro. Sou grato e devo muito a instituição que me colocou dentro de uma universidade pública, já que eu, realmente, não teria como me matricular em uma particular”, disse ele.
José Victor foi aprovado em duas faculdades federais: na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ), onde passou em 1º lugar para engenharia química, e na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde vai cursar nutrição. “Consegui uma nota 960 na redação do Enem, graças a todos os professores de redação da Associação. Ainda tenho muito a conquistar e viver, só que agora já sei o caminho, graças a vocês, mantenedores do curso. Gratidão é a palavra, e desafio é o que vocês nos ajudam a vencer”, disse José Victor.
O coordenador pedagógico da associação, Kurth Waldhelm, explica que para garantir o caráter social da associação, a seleção dos alunos que terão oportunidade de ingressar no curso é feita com extremo cuidado. “Cada candidato passa por uma prova admissional e por uma avaliação com a assistente social, em que preenchem um formulário socioeconômico e há um parecer técnico e profissional sobre a situação social de cada candidato para definir se estão aptos a participar do São José”, afirma.
Kurth destaca ainda a importância deste tipo de trabalho social. “Essa iniciativa ocupa um espaço na sociedade que, por vezes, o estado não consegue cumprir, que é dar educação de qualidade e oferecer condições igualitárias no acesso ao ensino superior ou a formação profissional, diminuindo o abismo social. A AESJ significa para estes jovens um meio capaz de transformar a sua realidade ou condição social. Sempre enfatizamos que a educação tem esse poder. Portanto, oferecer a oportunidade do aluno se preparar de forma gratuita e de qualidade para o ingresso em universidades tem papel primordial neste processo”, pontuou.
Vagas, inscrições e aulas
Ao todo, a Associação Educacional São José oferece 300 vagas por ano: 110 para o pré-vestibular; 80 para o reforço escolar; 20 para a oficina de matemática; 20 para a oficina de redação; 60 destinadas a oficina de informática e 10 para a alfabetização de adultos.
O pré-vestibular funciona de segunda a sexta-feira, nos turno da tarde e noite. As oficinas, as aulas de reforço e a alfabetização de adultos possuem horários específicos, sempre de uma a duas vezes na semana durante a tarde ou a noite, conforme a demanda.
A instituição, que conta com um espaço com duas salas de aula, um laboratório de informática, secretaria, sala dos professores e um espaço de convivência, na Rua José Queiroz, 85 – 2º andar, no centro do distrito de Conselheiro Paulino. Mais informações sobre a instituição e/ou cursos podem ser obtidas pelo telefone (22) 2580 3424 ou o site www.cpvsaojose.com.br.
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