Tranquilidade. Esta é a palavra que sintetiza o aspecto predominante da Fazenda Bela Vista, localizada na estrada velha de Amparo, após o Alto das Braunes. O silêncio é tanto que se pode ouvir o barulho do vento nas árvores, ainda em grande número nos arredores, servindo de abrigo a muitos pássaros. Logo na chegada há um lago e outro mais à frente, porém este tomado pelo mato. Esse belo lugar era considerado área nobre até cerca de dez anos atrás, mas a chegada do asfalto mudou um pouco as coisas. A especulação imobiliária se fez presente, os imóveis — terrenos e casas — ficaram muito mais valorizados. A consequência foi o impacto ambiental.
À então área nobre, com belas casas, foram se agregando ações indesejáveis, como desmatamento, novas construções, várias ainda por terminar; novas ruas, ainda sem pavimentação e sem redes de águas pluviais; assoreamento do córrego. Só para se ter uma ideia, há dez anos haviam cerca de 40 casas e hoje são mais de 200. Se os imóveis residenciais tiveram valor multiplicado, o mesmo não se pode dizer dos imóveis comerciais ali estabelecidos, que podiam ser considerados três pontos turísticos: o Gato Pescador — um pesque-pague, restaurante e lugar de eventos — cerrou as portas; o Bromélia e Natureza, outro restaurante, também encerrou as atividades; e restou o Montanhês, que ainda fabrica queijos de leite de cabra, mas não está mais aberto ao público.
SERVIÇOS PÚBLICOS
Mesmo com problemas comuns a todo e qualquer lugar, a Fazenda Bela Vista ainda é um bom lugar para morar. Walter Nideck elogia a coleta de lixo, três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras. A carência maior é capina e limpeza. Um mutirão foi realizado há pouco tempo, mas esse serviço é necessário com frequência. O mato cresceu nas sarjetas e a vegetação se encarregou de despejar muitas folhas e galhos pelas ruas.
Leandro e Denise moram na Fazenda Bela Vista há cerca de um ano e põem a mão na massa. Cansados de esperar pela limpeza da Prefeitura, cuidam da parte da rua em frente de casa. O casal reivindica mais cuidados no bairro, como capina e limpeza. Até já pagaram uma pessoa para capinar cerca de 200 metros da rua, que estava ficando estreita, com riscos de acidentes. Os dois moradores se preocupam com a drenagem da Fazenda Bela Vista, faltam bueiros e a enxurrada corre pelas ruas, além do córrego normalmente assoreado. Alguns moradores constroem proteções, como quebra-molas, para impedir que o aguaceiro invada suas propriedades.
Há uma unidade educacional, a Escola Estadual Municipalizada José Eugênio Müller, com turma multisseriada, do primeiro ao quinto ano. Os ônibus circulam a cada duas horas e são suficientes, pois a maioria dos moradores tem seu próprio carro. As ruas internas da Fazenda Bela Vista têm iluminação, mas a entrada do lugar fica na mais completa escuridão. E várias ruas precisam de pavimentação e estrutura.
CÓRREGO, O GRANDE PROBLEMA
Ricardo da Silva, morador e funcionário público municipal, acompanha o serviço emergencial de derrocamento de um trecho do córrego por um trator da Secretaria de Obras da Prefeitura, na Rua Santa Clara. O local era um brejo e com a especulação imobiliária os proprietários foram aterrando os terrenos e isto prejudicou o escoamento da água, necessitando desse serviço agora.
O córrego alterna trechos ao ar livre e com manilhas, ora de um metro de diâmetro, ora de 40 centímetros. O resultado é que quando chove forte o aguaceiro não escoa como deveria e invade propriedades e ruas. E como muitas delas são de terra, viram um lamaçal e ficam intransitáveis.
A Fazenda Vela Vista já teve associação de moradores, que no entanto, está desativada. Algumas iniciativas tentam melhorar as coisas no bairro. É o caso de Soraia Zereik, que liderou um movimento há cinco anos para limpar o segundo lago, mas o dinheiro arrecadado acabou, o serviço não terminou e o mato tomou conta outra vez. Ela até conseguiu autorização do Inea na época, mas agora apela às autoridades para que esse serviço seja feito, o que contribuiria muito para embelezar o local. Aliás, lagos e córrego são a maior preocupação dos moradores.
INEA: NÃO HÁ SOLICITAÇÃO
A superintendente Margareth Nacif disse que não consta nenhum pedido de limpeza do córrego ou lago da Fazenda Bela vista na agência do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em Nova Friburgo. Ela comenta que em casos como este, de pequena monta, o próprio município pode executar o serviço, desde que devidamente autorizado pelo Inea. Isto porque o órgão estadual está sempre envolto em questões de grande porte nos 92 municípios.
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