Família deve priorizar a educação financeira

sexta-feira, 10 de setembro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Juntos, na mesma direção!

A educação financeira é parte essencial para que uma família seja feliz. E acredite: quando ausente, ela pode acabar com a paz dentro da sua casa!

Por Alessandro Lo-Bianco

É fato que as relações humanas podem ser conflitantes, porque se trata de saber entender o outro a partir das diferenças, como também é sabido que cada um vem com suas crenças, seus pensamentos, seu conhecimento, e que, lidar com isso, pode ser difícil em determinadas ocasiões. Tudo bem, faz parte do crescimento humano que as pessoas aprendam a viver numa sociedade “mais humana”. É óbvio que alguém terá que ceder em determinados momentos para que a relação siga saudável. É fácil? Não! Se fosse simples, não haveria tantos indivíduos buscando terapia para melhor compreensão de si mesmo e do próximo.

Mas, e quando o marido ou a esposa, os pais e os filhos têm necessidades, desejos e concepções financeiras diferentes da sua? Numa relação familiar é fácil permanecer compreendendo, mas e sendo compreendido? A grande questão é quando o assunto envolve dinheiro. Diariamente os filhos querem brinquedos opostos aos que os pais podem dar, o marido quer dar prioridade a gastar com determinada coisa, que não é tão prioritária assim para a esposa, e por aí vai... O fato é que, quando um lado cede, fica aquela sensação de que foi convencido a concordar com algo que lá no fundo discordava, mas abriu mão naquele momento. E se isso realmente não for muito bem conversado e colocado, não ficar bem digerido, não faltará oportunidade para que logo a cobrança comece e apareçam tristes frases do tipo “Eu deixo de realizar coisas para mim pelo seu bem-estar”. E, é claro, ninguém gosta de escutar isso, pois nenhum ser humano quer ser feliz em cima da insatisfação do próximo. Certamente ficará ressoando um eco, um ruído, no meio da relação. Isso cria uma culpa para quem escuta que não é legal.

Tudo isso deixa pistas para que as pessoas percebam (sejam maridos, esposas, pais ou filhos) que a vida financeira de uma família deve ser tratada com respeito, e não com autoridade. Todos querem a mesma coisa: ser felizes. Segundo Silvia Alambert, educadora financeira e diretora executiva da The MoneyCamp no Brasil, instituição focada em desenvolver programas voltados à educação financeira de crianças, adolescentes e adultos, quanto mais cedo uma família senta para conversar sobre a situação financeira do lar, mais chances essas pessoas terão para viver de forma harmoniosa. “É por isso que a educação financeira de crianças e jovens se faz necessária, porque eles irão crescer e irão se relacionar”, pontua. A especialista alerta que muitos problemas são originados pelos pais: “Muitos pais começam a educação financeira dizendo aos seus filhos que se são eles que colocam dinheiro dentro de casa, são eles que mandam; que se as crianças vivem sob o teto que eles pagam, devem, por isso, respeito a eles”. Isso não dá certo, porque a criança cresce achando que o dia em que ganhar seu próprio dinheiro terá poder para fazer o que bem quiser. A questão não é essa. Dinheiro na mão de quem não tem responsabilidade nunca dá certo. Os pais devem mostrar aos filhos que são merecedores de respeito, porque são mais adultos, responsáveis e competentes para decidirem a questão financeira, não porque sustentam a casa e ponto final. Isso só gera revolta à criança e um sério problema na concepção que ela fará do dinheiro no futuro’, explica.

De acordo com Silvia Alambert, por conta da indigestão das colocações ao longo do tempo, da ausência de conversas diretas e objetivas sobre toda a relação é que as relações terminam e, quando uma das partes não quer ceder nunca, aí fica pior. Para a educadora, ser e estar aberto para conversar sobre as questões financeiras (embora seja inacreditável como pessoas consideradas maduras não gostem de conversar sobre situações financeiras), sem arrogância e hierarquia, é primordial. Para ela, a criança não tem culpa que os pais entraram antes no mercado de trabalho e, por isso, não é justo que cresça sentindo-se inferior aos pais por este motivo. Desta forma, sem a maturidade devida por parte dos adultos para explicar os fins para o qual o dinheiro é direcionado, a criança será mal-educada, ao contrário do que os pais desejam. “O problema é que muitos pais nos contratam para educar financeiramente seus filhos e fica claro que o tutor, o responsável pelo dinheiro dentro de casa, sempre se comportou de maneira arrogante e, muitas vezes, humilhou os demais familiares diminuindo a posição social deles em vista de não ganharam o que eles ganham. Aí o caso é sério, porque temos que trabalhar a cabeça dos jovens para não acharem que, ao ganhar dinheiro, poderão responder, xingar, fazer o que quiser porque já estão ganhando seu próprio dinheirinho. Não podemos confundir ter dinheiro com ter poder”, declara.

Ainda que vivam sob o mesmo teto, há muitos casais que não partilham sobre as questões financeiras de suas vidas com o outro, simplesmente porque um não quer ceder quando se trata de economizar para alcançarem objetivos: partilham (ou não) as despesas da casa e o que sobra; cada um faz o que desejar e depois comunica (ou não) ao outro sobre o destino das finanças, nem que a sobra tenha ido para alguma aplicação. Embora pareça absurdo, é assim que a maioria dos casais vive.

Quando se tratam de finanças, parece que os casais vivem vidas separadas ou como se fossem inimigos em campo de batalha. A especialista revela casos em que a pessoa ficou viúva e não sabia que o companheiro tinha dinheiro investido. Há casos em que roupas e sapatos comprados ficam escondidos por meses, até serem usados; outros, em que um dos cônjuges não comenta sobre suas aplicações; casos de cônjuges que se separam e depois descobrem que um deles tinha imóveis em nome de terceiros; casos em que um dos cônjuges perde dinheiro em aplicações e depois comunica a família que está quebrado; casos de parceira que entrega o dinheiro ao parceiro e é ele quem toma as decisões sozinho, e tantos outros casos financeiros tratados como se o cônjuge ou companheiro fosse um rival, ou que nem existisse parceiro algum.

“E por mais incrível que ainda possa parecer, as pessoas preferem conversar sobre as atitudes financeiras de seus parceiros mais abertamente com os amigos do que partilhar seus pensamentos com seus próprios parceiros”, explica Silvia. Você ainda tem dúvidas sobre a difícil arte das relações humanas? Da mesma forma que se conversa sobre situações rotineiras familiares, o presente e o futuro financeiro de uma família deveriam ser conversados, porque, se as intenções financeiras deixarem de ser comunicadas, se os objetivos de vida comum deixarem de ser expostos, a relação estará em risco. “É importante ressaltar que todos exercem um papel fundamental para que a família seja feliz, o casal e os filhos. A questão que gira em torno de quem possui o poder financeiro dentro de casa não pode ser confundida nunca com quem sempre deve ter a razão. Ninguém nunca é pior ou melhor do que o outro dentro do lar só porque ganha mais ou tem uma profissão de maior destaque. Dentro de uma família, todos devem ser respeitados”, alerta a especialista.

Avaliar o nível de comunicação da relação é importante para manter um relacionamento saudável em todos os aspectos. De acordo com Silvia, esperar o momento mais delicado da relação para conversar (aliás, quem é mulher sabe o quanto a frase “precisamos conversar” significa para um homem) pode ser mais desastroso. “Encontre espaço para conversar sobre o futuro financeiro com seu parceiro, com seus filhos, mas com respeito, e não com arrogância, nem que isso lhe pareça desconfortável. A grande arte de viver uma relação plena está também em aprendermos a conviver com o que nos é ou nos deixa desconfortáveis. A nobre frase de Antoine de Saint-Exupéry pode levar o leitor a refletir sobre para onde caminha sua relação de parceria com a família: “O amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim, em olhar juntos para a mesma direção”, cita Silvia, ressaltando: “Se é você quem manda porque é você quem paga, decidir por um lado que vai contra os demais familiares, a longo prazo, isto também não lhe fará feliz, pois ninguém pode ser feliz sozinho”, conclui.

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