Felipe Basílio e Henrique Amorim
A Casa dos Pobres São Vicente de Paula corre o risco de ficar às escuras. De acordo com a direção, uma conta de luz vencida no último dia 11 de abril, de aproximadamente R$ 6 mil, não foi paga e a concessionária responsável pelo fornecimento em Nova Friburgo, a Energisa, já teria acenado com a possibilidade do corte. O motivo do atraso no pagamento da conta de luz é a falta de dinheiro da instituição, que não recebe desde janeiro o repasse oficial do governo, cerca de R$ 13 mil por mês. As verbas destinadas às entidades assistências são do Ministério do Desenvolvimento Social, que repassa o montante para a Prefeitura e esta, por sua vez, as encaminham para as instituições.
Nos últimos meses, no entanto, a Casa dos Pobres, que atende a 152 internos, sobrevive por meio de reservas, feitas através de economias e da promoção de eventos. Além disso, o benefício recebido para acolher os internos, no valor de R$ 106 mil (oriundos das aposentadorias de cada um deles), o repasse estadual de aproximadamente R$ 24 mil e as doações da comunidade têm sustentado a Casa dos Pobres. No entanto, em abril a situação apertou, e sem poder contar com o repasse — no total, são cerca de R$ 52 mil em atraso desde janeiro —, de acordo com a direção, ficou difícil cumprir os compromissos mensais, estimados em torno de R$ 210 mil.
O dinheiro deveria, segundo a diretora da instituição, irmã Adriana Aparecida Santos, ser repassado até o dia 10 de cada mês. Ela alega ter todo esse procedimento de repasse documentado e ressalta as dificuldades enfrentadas sem a verba. "A gente vai fazendo o que pode, mas chegamos a um ponto em que não podemos quitar. Um deles foi a Energisa, que mandou uma equipe aqui na última quarta-feira, 30, para cortar a luz”, destacou a diretora.
A entidade oferece, desde 1933, assistência a idosos e a pessoas com deficiência. Lá os internos recebem alimentação adaptada, atendimento médico e aulas de alfabetização e pintura. Contudo, caso a energia seja cortada, o que pode acontecer, segundo a irmã Adriana, no início da próxima semana, muitas atividades serão comprometidas. Algo parecido só aconteceu na tragédia de 2011, quando a Casa dos Pobres ficou por quatro dias sem luz. No caso de interrupção do serviço agora, pelo menos meia tonelada de alimentos pode ser perdida, além de causar um verdadeiro caos no funcionamento da instituição. "A falta de luz pode comprometer em muita coisa. Nós dependemos da energia para tudo, seja na lavanderia, banho dos internos, o funcionamento da cozinha. Ficaria muito complicado ficar sem luz nesta casa”, salientou a irmã Adriana.
A diretoria da instituição se ressente da falta de atenção do poder público com relação ao caso. Irmã Adriana afirma que, neste momento, não há ainda qualquer previsão para que a situação seja resolvida e que até uma visita de representantes da Secretaria Municipal de Assistência Social à casa havia sido agendada, o que não aconteceu. Na sexta-feira, 2, devido ao ponto facultativo no município, ninguém foi encontrado na pasta para comentar o assunto. Ainda segundo a diretora da Casa dos Pobres, a instituição continua tentando contato com a Prefeitura. "A gente corre atrás, pergunta. Ficou a cargo da Secretaria de Assistência Social nos fazer uma visita para liberar o dinheiro. Isso já faz 40 dias que foi combinado mas, até agora, nada foi resolvido”, ressaltou. Até o fechamento desta edição, a redação de A VOZ DA SERRA não obteve retorno das ligações feitas durante todo dia para a assessoria de imprensa da Energisa.
Enquanto o caso não se esclarece, a diretoria da casa acredita que a luz no fim do túnel seja o apoio e a participação popular em prol da entidade. "O povo já está consciente disso, a comunidade friburguense, que acredita no nosso trabalho e está fazendo o que pode para nos ajudar. Nós divulgamos esse problema para o povo, que vai cobrar”, concluiu a diretora. Para quem quiser ajudar, a Casa dos Pobres possui uma conta no Banco do Brasil, agência 03352, conta 4516-0.
A diretora da casa, Irmã Adriana, ressalta as dificuldades da casa sem o repasse do Executivo
Situação idêntica também nas demais entidades assistenciais do município
O atraso nos repasses oficiais não tem atingido somente o caixa da Casa dos Pobres São Vicente de Paula. Demais instituições assistenciais do município enfrentam a mesma dificuldade. No Lar Abrigo Amor a Jesus (Laje), o presidente Elço da Silva aguarda o repasse de R$ 80 mil anuais, que não é creditado pela Secretaria Municipal de Assistência Social em parcelas mensais como esperado.
"Nos viramos como podemos. Recentemente fizemos o Festival do Pastel e sempre temos atrações com vistas a arrecadar recursos. A Prefeitura pede inúmeros documentos, nós enviamos, mas o repasse que é bom ainda não vimos. Vivemos mesmo é da caridade do povo”, diz Elço, que abriga 80 idosos na instituição filantrópica no bairro Lagoinha.
Na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), a diretora Maria das Dores Mello Pacheco também amarga a carência de recursos e a demora nos repasses do Ministério do Desenvolvimento Social via Prefeitura. Segundo ela, a quantidade de exigências é absurda e a entidade cumpre cada solicitação de documentos, mas o repasse previsto de aproximadamente R$ 7,2 mil por mês (R$ 6 mil do governo federal mais R$ 1,2 mil de contrapartida da Prefeitura) não chega.
"Este ano a Apae ainda não recebeu nada. Acho que a Prefeitura espera reunir a documentação completa de todas as entidades para então liberar os repasses que ainda faltam. Na Apae já estou acostumada a apertos. Muita gente acha que com a construção dos pavilhões a Apae está bem de dinheiro. Pelo contrário, também estou com dívidas. A burocracia é o nosso maior desafio”, observa a presidente da entidade, que assiste 99 crianças com necessidades especiais no distrito de Conselheiro Paulino.
Entidade atende a 152 internos idosos e pessoas com deficiência
Lavanderia é um dos setores que podem ser prejudicados com o corte de energia
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