Falta de recursos atrasa terceiro laudo da Praça Getúlio Vargas

O novo estudo sobre os eucaliptos será realizado pela UFRRJ e custará mais de R$ 200 mil aos cofres de Nova Friburgo
sexta-feira, 06 de novembro de 2015
por Alerrandre Barros
Na última semana, ativistas produziram um “mapa falado” da Praça Getúlio Vatga e ruas ruas
Na última semana, ativistas produziram um “mapa falado” da Praça Getúlio Vatga e ruas ruas

A falta de recursos financeiros está atrasando a produção do terceiro laudo sobre os eucaliptos que ainda restam na Praça Getúlio Vargas, no Centro de Nova Friburgo. Há cerca de dois meses, técnicos do Instituto de Floresta da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) enviaram o projeto detalhado sobre o novo estudo técnico com os custos, mas a Prefeitura ainda não contratou a instituição.

“Os técnicos da UFRRJ cobraram R$ 217.400 para realizar os estudos e emitir o laudo. Essa despesa não estava prevista no orçamento deste ano, aprovado pela Câmara de Vereadores, em 2014. Por isso, estamos remanejando verbas, o que já está sendo concluído. A contratação da Rural (UFRRJ) está em fase de finalização”, informou, nesta semana, a Prefeitura de Nova Friburgo.

O novo laudo foi sugerido depois que ativistas do movimento social “Abraço às Árvores - S.O.S. Praça Getúlio Vargas” identificaram contradições nos dois projetos que nortearam a operação de poda e cortes dos eucaliptos, iniciada em janeiro deste ano. De acordo com um estudo feito pelo grupo, a quantidade de árvores que deveria ser cortada é muito diferente no laudo produzido a pedido da Prefeitura por técnicos da Universidade Estácio de Sá e no feito pela Technische, empresa contratada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para realizar o estudo técnico.

“O laudo do Iphan sugere que 52 árvores sejam cortadas a mais do que o laudo da Estácio. A diferença é de quase 50%. Isso é, cientificamente, muito grave”, disse o arquiteto e ativista Alessandro Rifan durante audiência pública, em maio, na Câmara de Vereadores.

O método usado pelos técnicos nos dois primeiros laudos foi o da análise visual, ou seja, o interior das árvores, chamado cerne, não foi avaliado pelos especialistas da Estácio e da Technische/Iphan. “Nós consideramos esse método raso. O que nós queremos é um laudo do risco de queda, que seja feita uma radiografia das árvores”, disse Alessandro na ocasião. Os integrantes do grupo querem evitar que outros eucaliptos sejam cortados sem necessidade quando o projeto de revitalização do Iphan for executado pela Prefeitura.

Na terceira avaliação técnica das árvores, que será realizada pelo Departamento de Produtos Florestais da UFRRJ, os técnicos irão analisar as condições físicas, anatômicas e fitossanitárias dos centenários eucaliptos. Segundo a proposta enviada à Prefeitura, a equipe, formada por três professores, dois alunos de pós-graduação da Rural e um técnico de laboratório, utilizará equipamentos que elaboram imagens digitais dos troncos e também que medem a intensidade do tensionamento dos caules, por exemplo. Todo o aparato do Instituto de Floresta estará à disposição para o estudo. O grupo ainda coletará amostras para identificação de danos, apodrecimentos e ataques de agentes de biodegradação e demais fatores que provoquem quebras de galhos ou até mesmo a queda da árvore.

Em nota, a UFRRJ esclareceu que “o valor pago pela emissão do laudo será administrado pela Fapur, a fundação de apoio à pesquisa da universidade. O valor cobrado pela Rural é usado para cobrir custos do projeto (deslocamento de professores, bolsistas, etc), sem fins lucrativos para a universidade”.

Além do terceiro laudo, o projeto de revitalização da praça, feito pelo Iphan, também deve atrasar por falta de verbas. O orçamento inicial prevê, no mínimo, R$ 8.633.137,64, que serão pagos pelo governo federal. Estima-se ainda que mais de R$ 1,5 milhão serão gastos somente com serviços de arqueologia. O prefeito Rogério Cabral já esteve em Brasília em busca de emendas parlamentares para custear parte do projeto, mas os recursos só devem ser disponibilizados por deputados no próximo ano. Outras fontes de recursos também foram procuradas, como o Ministério das Cidades e da Cultura, além do Iphan que se comprometeu doar R$ 800 mil.

Intervenções e reuniões

Desde o início do ano, quando começou a operação de poda e cortes dos eucaliptos na praça, os ativistas do movimento social ocupam o local com protestos e intervenções artísticas para estimular a reflexão da população e também questionar a maneira como as atividades foram executadas pelo governo municipal. Na última semana, o grupo produziu um “mapa falado” para discutir a mobilidade urbana na cidade e também apresentou sessões de filmes com a temática socioambiental na praça.

A intervenção mais recente foi o “eucaliptômetro”, uma ação que comparou a estatura das pessoas que passavam pelas alamedas com os tocos das árvores cortadas que começaram a brotar. Aliás, a dúvida sobre do real estado da árvores antes dos cortes aumentou depois que os tocos brotaram.

Desde que irregularidades foram identificadas na operação que cortou mais de 20 árvores um pouco acima da raiz e que podou outras dezenas, o Ministério Público Federal (MPF) em Nova Friburgo vem realizando reuniões sistemáticas com representantes dos órgãos e da sociedade civil com o objetivo de fazer cumprir o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado, em abril, pela Prefeitura.

O documento estabeleceu condições para a operação de corte emergencial dos eucaliptos da praça, e fixou prazos para o cumprimento de medidas compensatórias e para o início da execução do projeto de revitalização do local. Alguns prazos, no entanto, estão sendo postergados diante das dificuldades encontradas pela Prefeitura.

A Praça Getúlio Vargas foi projetada pelo paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, o mesmo que fez os jardins da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e do Museu Imperial, em Petrópolis. A praça foi tombada como patrimônio histórico pelo Iphan em 1976.

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TAGS: Praça Getúlio Varghas | Eucaliptos
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