Depois de uma série de polêmicas envolvendo a Saúde do município, no último dia 20, chegaram a Nova Friburgo cinco caminhões com medicamentos destinados ao Hospital Municipal Raul Sertã, UPA e aos diversos postos de saúde da cidade. Para verificar se esse abastecimento havia chegado ao seu destino e se estava, de fato, suprindo as necessidades da população, a equipe do A VOZ DA SERRA esteve no Posto de Saúde Sylvio Henrique Braune — no bairro Suspiro — e na farmácia popular localizada no pátio anexo ao Hospital Municipal Raul Sertã. O que encontramos foram pessoas sendo atendidas e saindo das farmácias com apenas uma pequena parcela da medicação solicitada na receita ou, como na maioria dos casos presenciados, de mãos vazias.
O Posto de Saúde Sylvio Henrique Braune é um dos de maior movimento da cidade e está sofrendo com a falta de remédios básicos, como os destinados a pressão alta, diabetes e coração. Para Lurdes Arcelina Maciel, 72 anos, aposentada, a luta em busca de medicamentos já passa dos três meses. "Estou tentando conseguir os remédios que preciso tomar para o sangue, depressão e coração, mas sempre é a mesma coisa, já fazem mais de três meses e nada. Tenho que ir à farmácia de novo para comprar. É uma dificuldade enorme, vocês não têm ideia do que eu passo.” Lemes de Oliveira tem 67 anos e mensalmente vai ao posto de saúde para buscar remédios para sua esposa, que sofre de problemas cardíacos e depressão: "Ela tem que usar vários remédios, dessa vez eu vim e consegui a metade. Quando não tem, não tem outro jeito a não ser esperar até chegar. Não tenho condições de comprar”, conta Lemes. De acordo com uma funcionária do Posto de Saúde que não quis se identificar, a falta de remédios básicos é constante. "Se chegou alguma remessa no Hospital Municipal eu não sei, mas aqui, até agora, não chegou nada. Falta muita coisa.”
A situação da farmácia complementar que fica no pátio anexo ao Hospital Municipal Raul Sertã também não é diferente. Apesar de estar em um dia relativamente tranquilo, sem filas e com atendimento rápido, a resposta das atendentes era quase sempre a mesma: "Esse remédio ainda não chegou”. A dificuldade de conseguir medicamentos preocupa a aposentada Creuza Knupp, de 66 anos, que está nessa situação desde o início do ano: "Tenho um problema sério na perna e preciso usar pomada, curativos e remédio para circulação, mas é muito difícil conseguir o material. Não tenho como comprar, é muito caro e chego a usar um tubo de pomada em cada curativo. A última vez que consegui tudo que preciso foi em janeiro, desde lá venho me virando como posso para que o machucado não piore”, conta Creuza. "Tomo 15 comprimidos por dia para manutenção, mas normalmente só consigo dois medicamentos aqui. Mas assim mesmo, tem um deles que já tem uns dois a três meses que não tem”, conta Carlos Quintanilha, 80 anos, aposentado.
Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do distrito de Conselheiro Paulino a realidade é outra. Apesar de termos encontrado pessoas que não conseguiram sair do atendimento com a medicação solicitada na receita, a situação é menos alarmante e já está sendo regularizada. O reabastecimento de material e medicamentos foi realizada com a ajuda da Secretaria Municipal de Saúde, mas agora a UPA é de responsabilidade do Instituto Unir Saúde, que ganhou a licitação para realizar a manutenção e abastecimento das Unidades de Pronto Atendimento de Nova Friburgo, Três Rios e Resende.
Em resposta a essa matéria, o secretário municipal de Saúde, Luis Fernando Azevedo, esclareceu que o setor de farmácia da Prefeitura é dividido em quatro subsetores: farmácia de urgência e emergência, farmácia dos postos de saúde, farmácia complementar e o ABC farma. Os setores de urgência e emergência já foram abastecidos e, segundo o secretário, a maior dificuldade encontrada hoje é no setor de farmácia complementar, que fica localizada no pátio anexo ao Hospital Municipal Raul Sertã: "Essa farmácia é o maior problema da saúde e a mais injusta com a população porque são remédios caríssimos e essenciais para manutenção da vida e que já estão em falta há oito meses, mas já estamos com uma solicitação emergencial para resolver esse problema”. Também de acordo com o secretário, os medicamentos para os postos de saúde já foram licitados e comprados e também já devem ser liberados na próxima semana. Para Luis Fernando a subdivisão desses setores também traz lentidão ao atendimento. "A nossa pretensão é unificar essas farmácias para facilitar o atendimento e realizar uma licitação em que todos os medicamentos possam ser solicitados de uma só vez, evitando a repetição de processos desnecessários e agilizando a distribuição”, conta o secretário.
O almoxarifado da Saúde enfrenta sérios problemas estruturais, muitos medicamentos e materiais que já estão disponíveis ainda não foram distribuídos por falta de pessoal. "Nosso maior problema é estrutural. Nosso almoxarifado já esteve com onze pessoas e hoje trabalha com apenas quatro funcionários, sendo que destes um está de férias. Muitas solicitações já chegaram, mas estamos com a secretaria desestruturada para atender a todos. Precisamos de uma estrutura maior de distribuição e mais funcionários no almoxarifado”, explica Luis Fernando. Apesar dessa situação, o secretário de Saúde se comprometeu a solucionar o problema de medicamentos até a próxima semana: "Estamos trabalhando com caso emergencial e em 12 dias vamos normalizar a situação”.
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