“Não adianta darmos chance de reflexão a quem já possui a sua própria verdade”
“Porque calando nem sempre quer dizer que concordamos com o que ouvimos ou lemos, mas estamos dando a outrem a chance de pensar, refletir, saber o que falou ou escreveu.”
Coisa boa reler Drummond, não? Sim, reler mesmo, no intuito de processar, reter, aprender.
Nos tempos hiperconectados de hoje, a atenção tem se mostrado superficial e volátil. Não é para menos. Enquanto tentamos ler algo que preste em um site de notícias qualquer, uma dezena de “janelinhas” se abre anunciando desde canetas espiãs até o último supermegaultralançamento da montadora líder de vendas e tecnologia.
Simplesmente não dá, é insustentável esse estado de coisas. Quem se dispõe a ficar informado pela internet corre o risco de se tornar especialista em outros dez assuntos simultaneamente. No meu caso, costumo usar a assertiva acima, o saudoso poeta, para digerir o que foi lido. Isso pode levar minutos ou dias, embora desagrade a maioria dos que solicitam sua opinião sobre quase tudo. Nas redes sociais, ao não se posicionar rapidamente sobre um tema, corre-se o risco de posar de desinteressado e despolitizado. E a cobrança vem em megabits por segundo. E isso é fator excludente, um acinte para aqueles ocupados em mostrar seu lado especialista, ainda que sabendo cada vez menos sobre cada vez mais, a cada dia que passa...
Escolho me calar, quase sempre. Ao vivo, então, é quase um paradigma. Os grupos se formam, seja em um intervalo de aula, no corredor da empresa ou no bate papo do fim de tarde; os temas explodem, as opiniões são espasmos, sem um mínimo de ponderação. Alguns utilizam até mesmo técnicas de venda na intenção de inibir a possível réplica de seu interlocutor. Elevam a voz, assumem posturas de ataque, sentem-se qual piratas abordando o navio inimigo em pleno oceano. Interlocutor? Nem sabem o que é isso, a via é de mão única. O que realmente faz a diferença é “ganhar” aquele embate ali, ainda que com boas doses de imprecisão naquilo que se coloca como argumento.
Seja no mundo virtual ou presencial, o alvo é estabelecer a “sua” verdade. Para tanto, ouve-se muito mal, há uma “surdez de resultados”, em que se despreza o conteúdo em favor da forma. E vamos seguindo, sem muita margem para repensar o que foi dito. Afinal, outras janelas vão se abrindo, anunciando um novo milagre, um novo escândalo ou a partícula de Deus.
Permanecemos conectados, emitindo ondas de ignorância em direção ao outro, que mal nos ouve. Se liga Drummond! Não adianta darmos chance de reflexão a quem já possui a sua própria verdade.
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