“Protegidos pela distância entre a tela do computador e a realidade surgem barraqueiras, valentões, anarquistas, pelegos, fascistas e toda a sorte de carentes”
O conceito de rede social abrange uma série de inter-relações, que partilham valores e objetivos comuns, quase sempre espelhando a realidade que nos cerca. Esse emaranhado nos leva a apropriar à nossa rotina todos aqueles que se dispõem a travar um contato mais aproximado conosco, seja partindo de vivências presenciais ou virtuais. Muito bom, não? Quantas possibilidades se abrem, quantas novas conexões se estabelecem. As sinapses se multiplicam, ganham velocidade.
Estamos cercados de amigos, sem dúvida, nos fazendo crescer como seres humanos, solidificando nossas experiências. Nada a temer, estamos em um autêntico círculo de confiança, quase que nos sentindo partes de um movimento tribal, de algo que nos remete à ancestralidade ou, quando menos, à leveza e ao descompromisso da adolescência. Tudo muito adequado, amigos em profusão, os temos.
Ocorre que, entre efetivos e virtuais, há seres humanos para todo gosto, vibrando em frequências nem sempre harmônicas... No contexto de uma rede social a dinâmica é a da postagem de assuntos diversos. Como se instala uma miscelânea, devido à heterogeneidade daqueles que temos no nosso rol de amigos, o terreno se fertiliza para a réplica, para o contraponto, dialética. E é aí mesmo que a coisa se complica. Basta um senão, dependendo da intensidade, e da predisposição do receptor, é claro, para uma ex-futura amizade entrar em processo de cozimento. As palavras têm um peso muito próprio, e carregam intrinsecamente algo que dispensa som e expressões faciais. Paralelamente, a possibilidade do opinar aqui e acolá, quase que no mesmo instante, pode acarretar postagens pouco apropriadas em face do que cada um daqueles, que aguardam uma opinião, espera. Todo o cuidando, portanto.
Protegidos pela distância entre a tela do computador e a realidade surgem barraqueiras, valentões, anarquistas, pelegos, fascistas e toda a sorte de carentes. Soltam impropérios, palavras de ordem, lamúrias compatíveis com a velocidade de uma superbanda larga. Esquecem-se em segundos de quem eram seus “amigos” até há pouco, incautos na tarefa de opinar a partir de uma simples postagem. Esquecem-se de outras possibilidades de abordagem do mesmo assunto. Estão tomados de um veneno chamado certeza. Limitadora, excludente e reducionista. “O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas e as pessoas idiotas estão cheias de certezas”, já dizia Charles Bukowski. Errou, tenho certeza, o problema não é de hoje...
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