“Não há como não ligar Paris a Friburgo só por hoje. É digno de nota o que a
população dessa cidade tem feito em termos de
mobilização após o fatídico 12 de
Janeiro de 2011”
No dia 14 de julho de 1789 o povo de Paris saiu às ruas para protestar contra o regime monárquico opressor. Os populares invadiram a Bastilha, fortaleza que simbolizava o Absolutismo Real, libertaram presos e tomaram o prédio. O fato simboliza o início da Revolução Francesa. Aquela que procurou universalizar direitos e deveres, colocando o cidadão em pé de igualdade com o seu semelhante.
Essa data já foi muito relevante para mim. Na época em que, estudante em uma escola francesa do Rio de Janeiro, me imaginava lutando ao lado dos “Sans-Cullotes”. Aquilo tudo era levado muito a sério. Havia um cheiro de verdade no ar. As cerimônias e discursos estavam repletos de substância, ideologia, mobilização, política. Aprendi muito sobre como lidar com o conceito de cidadania e sobre como defender meus direitos em meio a brincadeiras pueris, enquanto a “Tia” Eliane Riquet, diretora do Liceu Franco-Brasileiro, discursava.
Tudo se havia guardado, como uma terna lembrança, na memória do adulto que me tornei. O distanciamento daqueles ideais, em face do período de exceção em que vivi durante toda minha adolescência produzia uma dicotomia desanimadora. O fato é que, até 1984, nada podia ser exteriorizado sem que houvesse risco à integridade físico-mental do incauto manifestante. Após a redemocratização a coisa mudou bastante, não? Ok, caro leitor, não precisa responder por agora...
Hoje é 14 de julho. Não há como não ligar Paris a Friburgo só por hoje. É digno de nota o que a população dessa cidade tem feito em termos de mobilização após o fatídico 12 de Janeiro de
2011. Considero os friburguenses os “Sans Cullotes” modernos. Gente do povo lutando legitimamente pelo seu direito de ir, vir, permanecer, estar. Vivo.
Ocorre que a Bastilha que caiu por aqui foi nada similar ao que o povo pretendia derrubar. Infelizmente a maioria das cidades brasileiras tem experimentado um crescimento desordenado, a flexibilização de gabaritos oficiais, sob todos os aspectos, principalmente nas partes onde se concentram as populações mais carentes: nas beiras dos rios, nas encostas de morros, nas colinas, nas montanhas, onde as pessoas constroem os mais diversos tipos de habitação, quase sempre ocupando espaços inimagináveis, tanto exíguos quanto inadequados.
A pergunta que se impõe é: qual o próximo passo? É chegada a hora de repensar o que houve e que rumo tomar no que tange ao exercício pleno da cidadania e participação popular.
A esses revolucionários, meu apreço.
Allons enfants!
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