O ditado diz que, à noite, todos os gatos são pardos. Mas a geração Z acha que o gato, além de pardo, manca para a esquerda, nasceu em Itu e foi abusado na infância. É a geração das suposições e respostas imediatas. E, ao contrário do que nos diz a Wikipédia, isso não tem só a ver com a idade.
A geração Z é uma definição sociológica que descreve pontos comuns entre os nascidos na década de 90 até o ano de 2010. Essa parcela da população nasceu já familiarizada com a magia do mundo tecnológico e as plataformas de novos convívios sociais que a tecnologia foi capaz de criar. Vivenciaram o boom do Orkut, do MSN e, com maior intensidade, do Facebook e Twitter.
Concentrando o foco na geração Z, no entanto, há um outro fenômeno tomando dimensões imensuráveis — e preocupantes. A informação instantânea, a rapidez com que as histórias se desenrolam não são características exclusivas do cotidiano dos jovens que utilizam as famosas redes sociais. A coisa está indo além. Desde que nos tornamos adeptos ininterruptos da internet, permitimos também que uma gama de informações nos batesse à porta todos os dias. Campanhas de todas as naturezas, manifestos e revoltas se misturam às fotos do fim de semana. Entre uma e outra frase de um pensador famoso qualquer, há um emaranhado de filosofias partidas que dividem espaço com o mais novo plantão policial do pedaço. E, para o deleite do respeitável público, tragédia é o que não falta para noticiar.
Claro que existe o polo positivo de tudo isso. Há união e generosidade na rede, captando também forças individuais para a criação e fortalecimento de uma nova postura coletiva. Existe, a partir disso, o levantamento de uma discussão que mantém vivo o legado social das gerações que vieram antes e levantaram bandeira primeiro. Porém, nesse ínterim, muito valor se perde. O homem, desde sempre, se interessou pela tragédia do homem. A tragédia alimenta e une. Mobiliza voluntários e atrai espectadores. Há muito tempo percebemos mídias que se utilizam do "trágico-vendável” para atrair estes mesmos telespectadores. Por isso é mister que se cobre cada vez mais a responsabilidade social do mensageiro da notícia. Em tempos de WhatsApp, pode ser que nem todos os gatos sejam pardos — mas todos são culpados até que se prove o contrário.
O caso recente da jovem Camila de Castro reacende os questionamentos sobre a responsabilidade que cada indivíduo tem com suas palavras. Informações desencontradas ou não apuradas corretamente podem dar início a um festival de outras tragédias. Páginas na internet, preocupadas com o grande "furo” de reportagem da segunda-feira, já informaram por conta uma série de suposições que, sacramentadas pelo Feed de Notícias, se tornaram verídicas a partir do boca a boca. Cadê a responsabilidade nesses casos? Cadê a ética jornalística? Quando a notícia deixa de ser fato para ser lenda urbana?
Os friburguenses estão à caça de um algoz. As moças têm medo do próximo ataque. E não se sabe nem se houve ataque. Alguém se lembra de Fabiane Maria de Jesus, a moça de 33 anos linchada no Guarujá, depois de ter sido apontada como sequestradora de criancinhas a partir de uma postagem maliciosa na internet? Quem são os algozes de Fabiane? Somos nós, que sob o menor vislumbre de tragédia, alimentamos a disseminação da histeria, que viaja na velocidade da luz.
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