A educação de jovens e adultos é destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade aos estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/1996) reiterou os direitos educativos dos jovens e adultos ao ensino adequado às suas necessidades e condições de aprendizagem, estabelecendo as responsabilidades dos poderes públicos na identificação e mobilização da demanda e provisão de ensino fundamental gratuito e apropriado.
A EJA passou a ser uma modalidade da Educação Básica e foi garantido por lei o atendimento aos jovens e aos adultos que não tiveram acesso ou que não deram continuidade aos estudos na idade apropriada no sistema regular.
A rede municipal de Nova Friburgo atende 20 unidades escolares, distribuídas entre as zonas rural e urbana, contemplando as fases iniciais e finais do Ensino Fundamental. A Educação de Jovens e Adultos tem como objetivo principal contribuir para a reflexão, discussão e aprimoramento das áreas de conhecimento e a formação da cidadania.
A prioridade da Proposta Política Pedagógica da EJA do município de Nova Friburgo é desenvolver a consciência crítica dos jovens, adultos e idosos, aumentando o acesso destes às informações de relevância para a construção de sua cidadania ao passo que se pretende oferecer ao educador instrumentos que lhe possibilite conduzir suas aulas de forma mais criativa com uma prática pedagógica voltada para o desenvolvimento intelectual dos alunos que outrora foram excluídos do processo educativo regular. Por isso, a proposta pedagógica tem como finalidade o processo de construção da língua escrita, fundamentalmente como proposta de construção do conhecimento e o Estudo da Andragogia como referência ao lidar com jovens, adultos e idosos.
Lançamento
Com o objetivo de uma ação integradora do aluno com a sociedade através da escrita, leitura e cultura, demos continuidade à Campanha do Bicentenário do Município, propondo o II Projeto Literário da Educação de Jovens e Adultos de Nova Friburgo, apresentando o livro “Construindo uma nova história” com relatos de experiências vividas pelos alunos, com uma prática pedagógica que contempla a leitura objetivando-se promover meios que possibilitem um avanço importante na qualidade dos textos escritos pelos alunos. O livro será lançado no dia 12 de setembro de 2018, no Teatro Municipal Laercio Ventura Rangel.
No 1º semestre de 2018, foi realizada uma pesquisa em todas as unidades escolares que contemplam a EJA na rede Municipal, e obtivemos como resultado o quantitativo de alunos por sexo e faixa etária, demonstrado nos gráficos:
Percebe-se que o público que mais procura essa modalidade de educação são os mais jovens. Para a maioria desses alunos, a EJA é a via rápida, alternativa à escola regular, como forma de recuperar o tempo perdido decorrente da evasão ou da defasagem idade-série. Para Tufi Machado Soares, doutor em Educação e coordenador da unidade de pesquisa do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed) da Universidade de Juiz de Fora, a modalidade apresenta-se como uma alternativa escolar mais viável para esse público.
“A EJA pode fazer sentido para esse jovem porque tem um horário mais apropriado ao estudante trabalhador, permitindo que ele conclua os estudos; além disso, ele terá uma redução no tempo total de estudo, o que é conveniente para ele.”
Outro fator é a carência de oferta em alguns municípios que ainda não oferecem a modalidade, enquanto em Nova Friburgo a EJA tem se expandido. Consequentemente, também demonstra a diminuição dos jovens analfabetos no município.
* Mariléa F. Lima Vizzoni é Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação de Nova Friburgo
Conforme pesquisa realizada pela ONU relata que 781 milhões de adultos em todo o mundo não sabem ler, escrever ou contar, e cerca de 250 milhões de crianças são consideradas analfabetas funcionais, isto é, passaram pela escola, mas não conseguem compreender aquilo que leem. Esses números alarmantes apenas comprovam que o desafio de alfabetizar e disseminar o conhecimento deve ser visto como prioridade.
A alfabetização influi de maneira decisiva na vida das pessoas. Saber ler e escrever é essencial para elevar a autoestima de homens, mulheres e crianças, e alterar os rumos de um país. Uma sociedade alfabetizada e letrada certamente é uma sociedade melhor e mais bem organizada.
Esse tipo de pesquisa não foi o motivo que levou Dulcelene e Lucia de Fátima a procurar a EJA. Mas a busca pela sensação de liberdade que saber ler e escrever lhes proporciona. Foi por isso e também por amor próprio, que ambas resolveram estudar. A busca por novos horizontes. Aqui estão seus depoimentos:
Dulcelene Madriaga, dona de casa, viúva, dois filhos, Santa Bernadete
“Eu voltei a estudar há três anos, depois que fiquei viúva. Nasci na roça, em Sumidouro, e lá não tinha escola, aliás, meu pai e os das outras crianças, não achava o estudo importante. Não havia esse tipo de preocupação das famílias com os filhos, era muita gente para cuidar. Não tinha ninguém pra dizer pra gente que estudar era importante. Eu sabia alguma coisa, conhecia as letras, mas não lia direito e escrever menos ainda. Sabia um pouco, mas não o suficiente. Eu queria ser alfabetizada. Agora, já sei preencher um documento, ler um endereço, ajudar as pessoas no ponto de ônibus. Não preciso mais pedir para os outros fazerem essas coisas por mim. O que consegui aprender até hoje, é o bastante, mas quero continuar. Quanto mais eu puder ir mais longe, eu quero. Acho muito triste ver uma pessoa precisar perguntar qual ônibus deve pegar para chegar onde quer, por exemplo. Acho isso muito triste. Eu comecei na EJA em 2016 e senti uma grande melhora no meu entendimento das coisas.
Já casada e morando aqui em São Geraldo, eu via essa escola perto da minha casa, mas meu marido não deixava. Ele, assim como o meu pai, dizia que tinha muita coisa para cuidar em casa, que não dava pra estudar. Só depois que ele faleceu, eu pude me matricular. Não perco uma aula, vou nas excursões, visito muitos lugares, conheço pessoas diferentes, é uma outra vida. Acho que hoje eu sou uma pessoa muito melhor do que eu era. Conquistei muitas coisas, tenho um monte de cadernos com coisas que escrevi e continuo escrevendo. Tenho carro e carteira de motorista. As pessoas deviam se esforçar mais para alcançar seus objetivos. Quando a gente quer muito uma coisa, essa vontade ajuda a gente a lutar para conseguir. E quem não sabe ler, mas quer aprender, não importa se acha que está velho pra estudar. Nunca é tarde pra recomeçar. Sem luta a gente não chega a lugar nenhum.”
Lucia de Fátima Pereira da Silva, cuidadora, casada, dois filhos, uma neta, Santa Bernadete
“A primeira vez que eu fui para um colégio, eu tinha sete anos, morava na roça, em Cambuci. Um dia, a dona do sítio começou a dar aulas na sala da casa onde ela morava, pra todas crianças do lugar. Foi assim que consegui ter as primeiras aulas. Quando eu estava com 12 anos, minha mãe se mudou para Itaocara e aí parei de estudar. Com 13 anos eu conheci meu futuro esposo, casamos, vieram os filhos, cuidei deles e da casa. Mas nunca parei de querer voltar a estudar, meu marido sabia disso. Então, com os filhos criados e vivendo suas vidas, chegou a minha hora de fazer o que queria. Estou feliz de estar aqui nesse colégio, estudando. Tô adorando. Saio do trabalho e venho pra cá, não me sinto cansada, nem nada. Nosso grupo sai para fazer passeios, piqueniques, vamos ao teatro, tudo com a equipe do colégio. A gente conhece coisas que nem imaginava que existia. Não tenho ambição de aprender alguma profissão, só quero aprender pra mim mesma, pra não depender dos outros, como usar um caixa eletrônico, um celular, quero poder resolver meus problemas sem precisar das pessoas. Quando a gente sabe ler e escrever, se sente livre. Esse era o meu sonho, e tô conseguindo. Até meu marido ficou tão animado, que resolveu estudar também. Agora, a gente vem junto pra escola.”
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