Exclusivo: vacinação infantil pelo SUS cai mais de 52% em Friburgo

Das mais de 22 mil crianças do município, apenas 13% compareceram aos postos de saúde durante a campanha
sábado, 18 de novembro de 2017
por Karine Knust
Exclusivo: vacinação infantil pelo SUS cai mais de 52% em Friburgo

A Secretaria municipal de Saúde divulgou com exclusividade para A VOZ DA SERRA um levantamento alarmante sobre a vacinação infantil no município. Os dados se referem a campanha anual de multivacinação - que visa atualizar as cadernetas de vacinaS de crianças e adolescentes entre 6 meses e 14 anos. De acordo com a sondagem realizada pela Coordenação de Imunização municipal, o número de crianças vacinadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nesta edição caiu mais de 52%.

Se em 2016 foram atualizadas as cadernetas de 3.122 crianças entre seis meses a nove anos, em 2017 esse número caiu para 1.497. Quando o assunto é o comparecimento aos postos de saúde, os dados chamam ainda mais a atenção. Segundo o levantamento, em 2016, as unidades receberam pouco mais de 8.300 crianças. Este ano, a queda foi expressiva, com apenas 2.987 comparecimentos. Número que representa apenas 13% do total de crianças que vivem no município - cerca de 22 mil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mesmo com a diferença considerável de comparecimentos e crianças vacinadas de um ano para outro, o número de doses aplicadas nas campanhas teve pouca variação, 5.952 em 2016 para 5.571 em 2017. De acordo com a coordenadora de imunização do município, Ana Paula Lessa, essa pouca oscilação se dá  justamente pelo crescimento no número de crianças com vacinas atrasadas.

“A campanha existe para que sejam avaliadas as cadernetas de vacinação. Quando a criança chega ao posto, a equipe avalia o documento e se ele estiver em dia para a idade dessa criança, ela não é vacinada. De qualquer forma, é preciso lançar esse comparecimento no boletim. Em relação às doses aplicadas, os números altos e semelhantes entre um ano e outro se dão justamente por essa não procura. Algumas crianças ficam muito tempo sem tomar as vacinas necessárias e aí, quando elas comparecem ao posto de saúde, existe um número grande de doses a serem aplicadas. Por isso, como nesse ano, o número de vacinados é menor, mas a quantidade de vacinas aplicadas é grande”, esclarece Ana Paula.

Ainda de acordo com o levantamento, entre os adolescentes (de 10 a 14 anos) a adesão também não tem sido boa. Apenas 911 compareceram aos postos de saúde durante a campanha. Destes, 490 foram vacinados, o que corresponde a 615 doses. Segundo a última estimativa do IBGE, que considera o município com cerca de 185 mil habitantes, Nova Friburgo tem 13.657 adolescentes dentro da faixa etária do público alvo da campanha. Ou seja, apenas 7% compareceu aos postos. No ano passado, segundo a Secretaria de Saúde, não houve ação de multivacinação para esse grupo.

Para tentar reverter essa situação, durante este mês a Secretaria de Saúde tem promovido o MCR - Monitoramento Rápido de Cobertura. A ação visa avaliar novamente as cadernetas de crianças e adolescentes de 6 meses a 14 anos para traçar um panorama da imunização no município e, com isso, resgatar a vacinação dessas faixas etárias não vacinadas ou em atraso. “Melhorando assim a cobertura vacinal e garantindo a eliminação, controle e redução de incidência de doenças imunopreviníveis”, ressalta a pasta.  

Queda nacional

A queda na procura por imunização não é exclusividade de Nova Friburgo. A vacinação está caindo em todo o país. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro, mais da metade deste público-alvo está com o calendário vacinal atrasado no Brasil. Na análise nacional, 2016 foi o ano com menor cobertura de vacinação da última década, 24,9 milhões crianças e adolescentes vacinados num total de 47 milhões.

Para a Secretaria de Saúde de Nova Friburgo, essa baixa procura pode estar diretamente relacionada “à  informações equivocadas que vêm sendo divulgadas de forma imprudente por grupos antivacina, colocando em xeque a eficácia das mesmas”, afirmou a pasta através de nota ressaltando que “As vacinas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde são comprovadamente eficazes e colaboram para a erradicação de algumas doenças, como a poliomielite, por exemplo, erradicada há mais de 20 anos no Brasil”.

Uma análise de contextos

A clínica geral pós graduada em homeopatia, Hélida Mirian de Lima, acredita que a vacinação deve ser tratada dentro de contextos. Para ela, que optou por não dar nenhuma vacina aos dois filhos já adultos, durante a infância e adolescência, é preciso analisar a necessidade de aplicação antes de tomar a decisão pela imunização.

“As vacinas têm seu lado positivo e o lado negativo. A vacinação em massa, que acontece indiscriminadamente, sem que se perceba e analise o público a ser atingido é em excesso. Para as crianças que não tem condições saudáveis suficientes para o corpo reagir, não tem proteína suficiente para isso, a vacinação é indicada, já que é preciso um estímulo externo de proteção. Mas quando a criança tem essas condições saudáveis no organismo, a hiper vacinação leva a problemas. É preciso colocar na balança a realidade de cada criança para saber se a vacina realmente é necessária ou não”, defende a médica, acrescentando que “Não posso dizer que todas as crianças não devem se vacinar. Não existe radicalismo nessa questão, mas tudo tem que ser analisado em seu contexto. A erradicação de doenças, por exemplo, é um lado positivo da vacinação. Mas generalizar a imunização não é. Esse ano, por exemplo, eu percebi a volta de caxumba. Os quatro pacientes atendidos, entretanto, haviam tomado a vacina. Por outro lado, quando crianças, meus filhos também tiveram caxumba e coqueluche, que foram tratadas e completamente recuperadas”, sustenta.

De acordo com Hélida, um dos maiores problemas das imunizações está em sua composição, o que pode estar motivando a diminuição da procura pelas doses. “As vacinas têm grandes quantidades de metais pesados, principalmente mercúrio, que ficam acumulados no sistema nervoso central para a vida toda. Isso gera a probabilidade de desenvolvimento de doenças autoimunes ou doenças do sistema nervoso central por intoxicação por metais pesados. Isso não é consequência apenas da vacinação, mas ela se soma a tantos outros contatos que o ser humano tem com essa substância”, afirma.

Outro aspecto, citado pela médica, que pode estar levando as pessoas a procurarem alternativas às vacinas está ligado às reações do organismo. “Estudos científicos consideram que o aumento das doenças autoimunes - em que o sistema nervoso central se desequilibra, perde o controle e começa a produzir anticorpos contra a própria pessoa - também está relacionado ao excesso de vacina. A vacina hipertrofia o órgão e faz ele trabalhar em excesso, principalmente se a criança recebe diversas doses de uma única vez. É uma sobrecarga do sistema imunológico”, explica Hélida.

A vacinação para alérgicos

Lívia Ruiz, mãe da pequena Luiza, de 2 anos, é favorável a vacinação, mas precisa lidar com a imunização de forma diferente. Isso porque, Luiza é alérgica à proteína do leite de vaca, composto presente em várias das vacinas disponibilizadas pelo SUS. “Muitas mães que têm filhos aplv, como eu, não dão algumas vacinas ou procuram opções sem leite na rede particular. A minha filha por exemplo está comk o calendário de vacinas atrasado porque não pode tomar qualquer dose”, conta Lívia.

Em novembro de 2014, o Ministério da Saúde lançou uma orientação sobre a vacinação em crianças alérgicas ao leite de vaca após ser notificado de casos de reações adversas na aplicação da tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba). Na época, o governo ainda afirmou estar realizando testes para liberação das doses sem a possibilidade de gerar problemas à saúde.

Para Lívia, a saída é ficar de olho nas composições. “Eu não deixo de vacinar, apenas faço de forma mais lenta e fico de olho para saber qual delas contém a proteína do leite. Eu acredito que a vacina é o melhor caminho, mas com ela, tenho que ter outro ritmo. Procuro aplicar num momento em que ela esteja com a saúde 100%, em que a alergia está controlada. Às vezes, esse momento não bate com o calendário do posto. Quando isso acontece, tenho que recorrer a clínica particular, mesmo com o custo de aproximadamente R$ 700”, afirma.

Vacinas oferecidas pelo SUS

Quando criado, em 1973, o Programa Nacional de Imunização oferecia apenas quatro vacinas destinadas a recém nascidos. Atualmente a relação de imunizações gratuitas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, através do SUS, abrange 14 vacinas para bebês e crianças, sete para adolescentes e cinco para adultos e idosos, com o orçamento estimado em R$ 3,9 bilhões para 2017.

Em Nova Friburgo, as vacinas de rotina disponibilizadas pelo SUS, são: BCG, Penta, Rota vírus, Pn10, VIP, Meningo C, Tríplice Viral, Varicela, Hep A, DTP, VOP, HPV, dT, dTpar, Febre Amarela, Vacina anti-rábica e Hepatite B. As vacinas disponibilizadas pelo órgão para Imuno Especial são: PN 23, Hep A, Varicela, Dtpac, HIB e Meningo C. Além dessas, são disponibilizadas as vacinas de campanha, como a Influenza, por exemplo.

De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, essas vacinações de rotina costumam acontecer nos postos de saúde do Centro, Policlínica Sylvio Henrique Braune; Olaria, Posto Tunney Kassuga; Conselheiro Paulino, Waldir Costa; São Geraldo, Posto José Copertino Nogueira e Cordoeira, Posto Ariosto Bento de Mello. Além disso, o Hospital Municipal Raul Sertã disponibiliza, em suas 24 horas de funcionamento, vacinas de emergência, como DT, antitetânica, soro anti-rábico e soro peçonhento.

 

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