Bombeiros de
Nova Friburgo detidos:
“O sentimento é de dever cumprido”
Combatentes do município presos em Jurujuba tranquilizam as famílias afirmando que estão sendo bem tratados
Bruno Pedretti e Luiz Augusto Queiroz
Desde o último sábado, 4, bombeiros do Estado Rio de Janeiro estão presos no quartel de Jurujuba, em Niterói. Os militares foram detidos após invadir o quartel general da corporação, no Centro do Rio, na sexta, 3, reivindicando aumento de salário e vale-transporte. Sob acusação de depredação pública, omissão de socorro e invasão forçada do QG, 439 militares foram presos. Na noite de domingo, 7, um habeas corpus a um dos oficiais detidos foi negado pela juíza Maria Izabel Pena Pieranti. Segundo a juíza, os bombeiros não seguiram os mandamentos da instituição.
Entre os 439 combatentes, 27 são de Nova Friburgo. A reportagem de A VOZ DA SERRA conseguiu uma entrevista exclusiva com um dos bombeiros militares do município que está em Jurujuba. O militar preferiu não se identificar, mas comentou que estão sendo tratados de maneira digna. “Dentro da unidade do Corpo de Bombeiros está sendo excelente, gostaria de tranquilizar as pessoas. Não está faltando nada para nós, temos infraestrutura, isso é o mais importante”, comentou o sargento.
Perguntado sobre a sensação de ser detido por conta de uma manifestação que julga justa, ele respondeu: “Estou orgulhoso, a gente está contribuindo para uma causa justa. Por vários anos tentamos contato com as pessoas para se mobilizarem, para trazer melhores condições de vida às famílias dos bombeiros, dos policiais militares, e isso foi o que levou a essa manifestação”.
Sargento de Nova Friburgo: “O governador devia ser mais respeitoso com a gente”
A população vem apoiando a manifestação dos bombeiros e há quem esteja usando até fitas vermelhas nos veículos. A crítica é constante às palavras do governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral, que se referiu aos bombeiros militares que participavam da manifestação como vândalos. “A manifestação em si foi ótima, mas ninguém esperava ser detido, queríamos um pouco mais de apoio do nosso comando, esperávamos também uma postura diferente do governo do Estado”, revela o bombeiro.
O sargento de Nova Friburgo comenta que faltou sensibilidade ao governador ao falar dos manifestantes. “Deveria ser um pouquinho mais respeitoso com a gente, uma vez que a maior publicidade que teve no início do ano foi oferecida pelas excelentes atuações do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar. Acho que ele deveria medir as palavras, mas, como sempre, a gente não é dono da palavra, então o governador se acha um ser supremo, que pode falar o que deseja”, pontua.
O combatente afirma que o sentimento é de dever cumprido e se diz decepcionado com a atitude do comandante geral dos bombeiros, Pedro Marcos Machado. “Eu fiquei um pouco triste pela postura do comandante geral, a quem temos como referência; é o pai de uma família, e nessa hora ficamos órfãos, ele não se prontificou a resolver o nosso problema. Fomos tachados de vândalos, e nenhum bombeiro é vândalo, isso não existe. A gente procura colaborar, tanto é que estamos presos e colaboramos, ajudamos na limpeza do quartel, tudo isso para manter o quartel habitável”, ponderou.
O fato de o Batalhão de Operações Especiais (Bope) ter invadido o quartel central também incomodou o sargento. “Não esperava que uma manifestação fosse chegar a esse ponto. Adentramos nossa própria casa, um pouco até forçados, mas é nossa casa. Não entramos na casa do Bope, não entramos na casa da polícia de choque, nós entramos na casa do Corpo de Bombeiros”, enfatizou.
“A manifestação tende a aumentar”O bombeiro detido acredita que a tendência da manifestação é aumentar. Segundo ele, se não houver solução, a situação poderá se estender a outras categorias. “A Secretaria de Segurança conta com um orçamento de R$ 4.9 bilhões, é muito dinheiro, e emprega somente R$ 340 milhões na folha de pagamento de seus ativos e inativos, é pouco. Se dobrasse isso ou se desse prioridade a esse tipo de emprego do dinheiro melhoraria, sim, a situação de policiais e bombeiros”, garante.
Indagado sobre represálias do governo, o sargento afirma que não as teme. “Sei que a população está ao nosso lado. Muitas pessoas estão receosas em fazer comentários, mas elas também não concordam em ver o dinheiro sendo mal empregado. Nós tivemos em publicidade no Estado R$ 500 milhões, o que paga duas folhas de pagamento da Secretaria de Segurança. Então, é brincadeira que se priorize tanto a publicidade e não se priorize o profissional”, contesta.
Apoio jurídico da Defensoria Pública
O novo comandante geral do Corpo de Bombeiros, Sérgio Simões, visitou os presos e está tentando um canal de negociação direto com os envolvidos na manifestação. “Ele propôs que fôssemos transferidos para quartéis de outras unidades, algumas do interior e outras da capital, só que isso não foi aceito pela categoria. Entendemos que a revolta vai ser muito maior, talvez até de paralisação. O bombeiro vai estar todo dia em contato com os presos e a gente não está tendo o apoio jurídico do Corpo de Bombeiros. O nosso apoio é da Defensoria Pública, pois, infelizmente, o Corpo de Bombeiros não se pronunciou a respeito. Temíamos por isso, fizemos uma reunião e decidiu-se que todo mundo ia permanecer aqui em Jurujuba, todos os 439”, explicou.
Vale lembrar que Nova Friburgo, na tragédia de janeiro, recebeu forte apoio dos bombeiros, e 27 dos que estão agora detidos integraram as equipes de resgate. “O sentimento é de revolta, ficamos tristes em ver que fomos tratados desse jeito pelo governo do Estado, uma falta de respeito”, critica o combatente. Em contrapartida, a população não tem poupado elogios aos presos de Jurujuba. “A população é muita carinhosa com o Corpo de Bombeiros. Não sabia o carinho que as pessoas tinham pelos bombeiros, até imaginava, mas nunca pensei que fosse tão grande. Se nós tínhamos 91% de aceitação, acredito que hoje temos 100% da gratidão deles”, disse.
Salário desejado é de R$ 2 mil para soldados da corporação militar
Um dos motivos que gerou a manifestação diz respeito às gratificações que, de acordo com os combatentes, não são incorporadas. “Se o bombeiro sofre qualquer acidente fica sem a gratificação; se necessitar de medicamento, raio X, tem que desembolsar um dinheiro que já não tem, que não pode mais contar com ele, que é a gratificação”, reclama o sargento.
A intenção é que se corte a gratificação e passe a integrá-la ao piso. “Hoje um soldado tem que começar com dois mil reais livres, esta é a nossa proposta: encerram-se as gratificações, faz-se o cálculo e o piso será de dois mil reais líquidos. Mesmo com este valor, ainda será um dos piores salários do Brasil. Mas eu acredito que o início é esse”, comenta.
Sargento envia mensagem à população friburguense
“O bombeiro nunca vai parar de socorrer as pessoas, mesmo sem salário o bombeiro ainda vai continuar socorrendo. Se tirassem nosso salário seríamos bombeiros voluntários. O que a gente faz é com muito carinho, é a troca do carinho que a gente recebe da população. De forma alguma bombeiro pensa em parar, isso seria uma medida muito extrema. Só que a gente não pode deixar, não pode negar que a evolução dessa manifestação pode levar a uma paralisação, caso não haja um diálogo entre o governo e os militares. Agora, quanto ao atendimento, acredito que o pessoal está empenhado. Os bombeiros de folga suprem escalas, rendem os bombeiros que estão na manifestação. Não vai faltar socorro para a população”, garantiu o sargento bombeiro detido.
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