Ex-piloto da Fórmula Indy visita a cidade

quarta-feira, 17 de junho de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Ex-piloto da Fórmula Indy visita a cidade
Ex-piloto da Fórmula Indy visita a cidade

Trazido a Nova Friburgo pelo jornalista Márcio Madeira, um apaixonado por automobilismo, especialmente Fórmula 1 e Fórmula Indy, o piloto campeão mundial Roberto Pupo Moreno passou o último fim de semana na cidade. Ele veio manter contato com Márcio, que está fazendo sua biografia, participou do programa Bar’t’Papo, comandado por Marcelo Pinguim, na TVC News, e depois concedeu entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA.

O piloto, que hoje mora nos Estados Unidos, aproveitou o descanso para fazer contatos e também agilizar o processo do livro que lançará no fim do ano, contando sua trajetória como profissional do automobilismo, desde o início da carreira. Em virtude do tempo escasso, Pupo Moreno teve que retornar ao Rio de Janeiro e não pode conhecer mais profundamente a cidade, mas prometeu voltar em outra oportunidade para, inclusive, manter contato com autoridades ligadas ao esporte e desportistas de Nova Friburgo.

Pela primeira impressão, ele gostou do que viu: “Não pude visitar todos os lugares que o Márcio me indicou, mas pelo pouco que vi adorei a cidade! Um clima agradável, um povo hospitaleiro, uma minieuropa dentro do Brasil”, afirmou.

Desde que saiu do Brasil, há 30 anos, Roberto Pupo Moreno acompanha o desenvolvimento do país pela imprensa, internet e contatos com amigos feitos ao longo de sua carreira, mas tem muitas saudades e planos para retornar ao Brasil. De sua geração, Roberto Pupo Moreno é um dos dez maiores pilotos. Seu livro, inclusive, mostrará o exemplo que foi para o automobilismo brasileiro e internacional, pois começou do zero, saiu do país, viveu sozinho, sem família. Filho de bancário, de classe média, Roberto, mesmo após a notoriedade profissional, manteve-se acessível e humilde e privilegiou o lado humano, ajudando muitas pessoas.

Agora ele quer voltar a correr no Brasil, na fórmula truck ou em outra qualquer. Este já é um projeto para 2010 e para isso ele está buscando apoio, parcerias, empresas que queiram investir para criar uma equipe ou para que ele volte a correr. A ideia é fazer aqui o que fazia no exterior.

Nesta entrevista ele fala de vários assuntos, especialmente das novidades do automobilismo mundial, conta detalhes de seu livro, a diferença entre a cultura esportiva brasileira e americana, entre outros temas.

A VOZ DA SERRA - Há quanto tempo você está fora do Brasil?

ROBERTO PUPO MORENO: Saí daqui com 20 anos de idade, estou com 50 e querendo fazer alguma coisa por aqui. Continuo na ativa nos Estados Unidos, mas ao mesmo tempo vou me dedicar ao livro e buscar alguma coisa para o futuro aqui no Brasil.

AVS - O livro que está sendo escrito por Márcio Madeira destacará sua vida profissional?

ROBERTO: O livro conta a história de minha carreira como piloto de automobilismo, uma biografia completa de tudo que passei, as dificuldades do início da carreira, as alegrias e tristezas - mais alegrias, é claro, porque as tristezas são da vida, mas servem como aprendizado e a gente não as usa para a nossa base de vida -, os títulos conquistados, enfim, um grande histórico de tudo isso.

AVS - Embora você tenha vivido o maior tempo de sua vida em função da Fórmula Indy, a Fómula 1 no Brasil é mais divulgada, por causa da cobertura da televisão. O que você acha do novo modelo de disputa da Fórmula 1?

ROBERTO: Olha, foi a única coisa que não gostei da Fórmula! Até agora foram aqueles pneus frisados, fora isso, foram criadas hoje regras que melhoraram bastante a disputa, que hoje está dando oportunidade a uma equipe nova, mostrando que não é só o talento do piloto que conta, ela depende também do engenheiro, pois o mesmo engenheiro que foi responsável pelo Schumacker ser campeão na Benetton, o mesmo engenheiro que foi responsável por ele ser campeão na Ferrari, hoje está levando essa equipe do Button à liderança do campeonato.

AVS - Qual a principal diferença que você apontaria na Fórmula Indy do início da década de 2000 e a de hoje?

ROBERTO: Naquela época, a Fórmula Indy já estava em dificuldades, caindo, dividida, hoje ela é uma só. Antes era IRL e Fórmula Mundial, hoje você tem a Fórmula Indy junto. Acho que a grande perda aconteceu em 1996, a divisão. Criou-se IRL e a Fórmula Mundial não correu em Indianápolis, aí começaram as dificuldades. O melhor ano da Fórmula Indy foi 1995. De 96 pra cá veio só caindo e deu uma recuperada agora, com a saída da Fórmula Mundial. Por isso hoje ela está boa, competitiva, carro bom, mas é diferente da Fórmula 1, porque na 1 você constrói o carro e na Indy você compra o carro, a diferença é essa. Na Fórmula 1 você é construtor, na Formula Indy você é equipe e o custo é muito menor.

AVS - Que papel a televisão representa no esporte nacional, especialmente no automobilismo? Ela ajuda ou atrapalha? A televisão é parceira?

ROBERTO: A única maneira que eu posso me pronunciar sobre a televisão é no esporte corrida de automóvel. A televisão deu um prazer a quem assiste de o Brasil ser bem representado no exterior várias vezes, com a Fórmula 1, a Fórmula Indy e outras categorias. Ela mostra o que nós fazemos representando o Brasil lá fora. Nesse ponto ela ajudou muito.

AVS - O maior problema de quem disputa esporte hoje, e não é só no automobilismo, é a falta de patrocinador. As dificuldades são imensas e praticamente em todas as modalidades brasileiras, exceto no vôlei e no futebol. Qual a sua opinião sobre isso?

ROBERTO: O Brasil superou tantas dificuldades que hoje está com um bom nível, temos representantes em várias categorias do esporte mundial por mais que seja difícil, por mais empecilho que tenhamos para arrumar patrocínio, hoje nós representamos bem a nossa pátria, em quase tudo o que disputamos chegamos à posição de destaque. Na minha época patrocínio era uma coisa muito difícil, tive que vencer essa correnteza contra, andei contra tudo e todos e consegui superar os desafios. O meu maior desafio foi financeiro, financeiramente fiz uma carreira com dificuldades e desafios e venci todos, graças a Deus.

AVS - Você hoje mora na Flórida. Qual a principal diferença entre a cultura esportiva americana e a nossa?

ROBERTO - Estou há 30 anos fora, visitando o Brasil nos verões, mas o que vejo e é claramente nítido nos Estados Unidos é que a ajuda é dada nas escolas e universidades, o esporte é implantado cedo, na vida da criança, na adolescência, são as escolas e universidades que criam os novos atletas, ídolos, gerações todas de grandes vencedores. Por isso o automobilismo não é tão desenvolvido nos Estados Unidos, porque não começa nas escolas. As outras modalidades todas - beisebol, basquete, vôlei, atletismo e até o futebol, que é muito incentivado no Brasil e já está sendo implantado nas escolas daqui. O futebol lá, por enquanto, é mais desenvolvido pelas mulheres, mas já está chegando às escolas. Essa é a grande diferença entre Estados Unidos e Brasil.

AVS: Títulos todos são importantes, mais quais você destaca como fundamentais em sua carreira?

ROBERTO - Tive poucas oportunidades de correr por equipe de ponta, mas todas as vezes que participei me saí muito bem. Fui campeão britânico de Fórmula Ford, campeão mundial de Fórmula Ford, campeão mundial de Fórmula Atlantic, vice-campeão europeu de Fórmula 2, campeão da Fórmula 3000, fiz um pódio no Japão em 1990. Fizemos a primeira dobradinha de equipe Benetton, foram dois brasileiros no pódio, até hoje a última dobradinha de brasileiros na Fórmula 1.

AVS - Você saiu do Brasil buscando uma profissão que naquela época era praticamente impossível. Agora você pretende retornar?

ROBERTO - Com 20 anos de idade eu saí do Brasil buscando uma profissão para fazer aquilo que eu gostava. E eu tive que sair. Hoje o Brasil já forma pilotos, já se pode ser profissional como piloto de automobilismo, na stock, na truck. Hoje, depois de 30 anos, estou visualizando a possibilidade de voltar ao país e ser profissional aqui, o que não acontecia naquela época.

AVS - Que mensagem você envia aos jovens desportistas e àqueles que querem ingressar no automobilismo?

ROBERTO - Que façam um kart bem feito, sejam muito dedicados e busquem ser o melhor naquilo que fizerem.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade