Ex-alunos da AECNF promovem encontro sábado

Comemoram-se 40 anos da fundação do colégio
quinta-feira, 30 de abril de 2015
por Jornal A Voz da Serra

A Associação Educacional e Cultural de Nova Friburgo (AECNF) foi organizada em 1975 nas dependências do antigo Colégio Cêfel. Para a época era considerada vanguardista por suas teorias contrárias ao pensamento de outras instituições conservadoras. O lema era “Liberdade com Responsabilidade”. Seus ex-alunos jamais poderiam imaginar que esse período seria tão marcante e importante a ponto de trazer pessoas de diversas partes do Brasil e do mundo para o encontro que já está na sua terceira edição, a ser realizado neste sábado, 2.

A emoção do reencontro motiva a participação de mais ex-alunos nos anos seguintes. Neste ano comemoram 40 anos da fundação do colégio e também, como nos anos anteriores, o aniversário do professor Heraldo Sousa Mesquita, que era o diretor-geral da instituição e lecionava geografia, atualmente radicado em Niterói.

A AECNF funcionava como é o 2º grau atualmente. O Colégio Cêfel tinha o ensino até a 8ª série (hoje o 9ª ano) e a associação, de forma terceirizada (tema tão debatido hoje em dia), cuidava de dar continuidade aos estudos dos alunos. A forma diferenciada de gestão fazia com que ninguém fosse obrigado a estudar, mas todos conscientemente estudavam por responsabilidade.

Os alunos de então saíram para a faculdade, mudaram para outras cidades, mas amizade não se desfez. Os encontros anuais têm sido realizados no início de maio. Oficialmente esta é a terceira edição, embora o grupo já tenha se reunido anteriormente outras vezes. É um encontro cheio de recordações, sentimentos, lembranças das competições esportivas. Pelo Facebook e WhatsApp todos trocam mensagens o ano inteiro.

O encontro começa hoje, 1º, às 19h, com uma roda de viola na Pizzaria Papillon (Rua Oliveira Botelho, Centro). Amanhã, 2, às 8h30, todos se reencontram na Superpão (Praça Marcílio Dias, Paissandu) para um café da manhã, de onde saem para uma visita ao antigo Colégio Cêfel, sendo recebidos pela antiga diretora Regina Schlupp, e daí para a festa do reencontro, no Cônego (endereço no Facebook), constando de churrascada, feijoada, música e tudo mais que têm direito.

Mais informações pelos telefones (22) 9-8167-8773 e 9-9263-9707 (Márcia).

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Meus amigos, 40 anos depois, emocionado, revelo que o nascimento da AECNF foi um encontro de poderosas energias irmanadas para a criação de um espaço novo de vanguarda. Pessoas especiais se uniram. Diretores, coordenadores, professores, funcionários, alunos...

A novidade era a criatividade de pintar as paredes da escola com cores alegres. Foi o início! O diálogo como disciplina, o entendimento como meta, e a busca da atualidade através do conhecimento de uma equipe preparada com experiências pedagógicas de alto nível. Uma plêiade de educadores com passagem em grandes escolas. Projetos ousados e inéditos. Permanência na escola por um tempo maior. Falávamos com grande intimidade do método Paulo Freire, da experiência de D. Helder Câmara, das ousadias pedagógicas do CNF, do professor Amaury Muniz, do Centro Educacional de Niterói, de dona Myrthes Wenzel. Líderes pedagógicos que implementaram trabalhos exitosos. Trabalhamos com eles! Aprendemos muito! Friburgo nos reunia! Era só trabalhar!

Os alunos eram desafiadores! Queriam entender as novidades! Como o teatro do Bodra? A luta do Galba com o Brilhante? O esporte como mensagem de uma filosofia de coragem! O jiu-jitsu de Monteiro? A aula coletiva dada por três, o trio pedagógico: eu, Galba e Mônaco. 

Os jogos no campo do Esperança eram aulas de socialização, disciplina anárquica! Meninos e meninas juntos! Que avanço para o entendimento entre os gêneros. Ainda não se falava muito. Os churrascos de confraternização eram gloriosos, acompanhados por alunos de outros colégios que se chegavam com admiração. O diálogo era fácil, os professores permaneciam na escola e conversavam sobre muitos assuntos. A cultura era considerada importante! Música! Poesia!

O conflito de gerações estava presente no cotidiano. O debate da escola conservadora e da escola experimental era diário! Muitos projetos nasceram das sugestões dos alunos nas salas de aula. As reuniões sobre os eventos, os desabafos...

Quando voltei a Friburgo em 1974 tinha feito um estágio em Sevres, na França, onde vi de perto o movimento revolucionário nas escolas francesas. Os ares chegavam ao Brasil! Não perdíamos tempo! A AECNF era plural, relacionava-se com outras escolas, movimentos culturais, mídia. A construção e a reconstrução era uma preocupação diária. Erramos muito, muitas vezes. Acertamos bastante. Era uma obstinação! Os alunos tomaram as rédeas do processo criativo: festivais, excursões, festas e apresentações. 

Queríamos formar uma geração para dirigir, governar, fazer a gestão do futuro. Enfrentavam as dificuldades que eram resolvidas com paciência, tolerância, humildade e determinação. Tivemos momentos memoráveis. O bolsão de ingresso, uma superprodução! A formatura na Prefeitura! O prefeito dando ordem para tirar a pedra do poema. O máximo! O censo de Cachoeiras de Macacu. A excursão ao Paraguai, uma aventura precursora do MercoSul. Itaipu, a tribo Guarani. Upacaraí, grandes companheiros, professores, acompanhantes, esposas solidárias, alunos queridos!

Como aprendemos! Tanto tempo depois sinto a colheita do longo plantio, de cada sorriso, questionamento ou cara feia, recebi ternura, reconhecimento e respeito. 
No Ginásio Celso Peçanha vivemos momentos gloriosos, vitórias memoráveis, derrotas suadas! Os Blusões Cinzas ficaram famosos! Me diziam: Como pode? Vocês não têm infraestrutura! Respondia: Que compensávamos com a garra, as deficiências! Os jogadores da AECNF incorporavam os deuses da mitologia grega! Os amores e as paixões eram atrações do clima tropical de montanha que sempre dominou a área!

As amizades superaram a barreira do Caledônia e permaneceram décadas! Choramos nas tristezas! Comemoramos nas alegrias! Vibramos com as vitórias! Havia um certo frisson na cidade com os Blusões Cinzas! Só mesmo uma sinergia real poderia gerar tal projeto! Como Neruda, confesso que vivi momentos maravilhosos da minha vida! Sou alimentado pela energia das vitórias e lutas dos meus amigos. Sem a menor preocupação com a ideologia, religião, ou escolha sexual. Aprendemos a viver com liberdade!

Professor Heraldo

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