O cancelamento de um evento organizado por um pequeno motoclube carioca está causando uma polêmica de altíssima cilindrada em São Pedro da Serra. E a bucólica vila corre agora o risco de ser “invadida” por centenas ou até milhares de motocliclistas, em protesto, no último fim de semana de outubro.
Tudo começou quando o motoclube Parceiros de Estrada, que tem apenas oito membros, resolveu comemorar seus 11 anos com um encontro em São Pedro, de 27 a 29 de outubro. Com esse objetivo, em julho organizadores procuraram a Associação do Comércio e da Indústria de São Pedro da Serra (Acisps) em busca de ajuda financeira das pousadas locais.
Segundo o presidente da associação, João Carlos Leal, os organizadores se comprometeram a realizar um evento pequeno, de porte compatível com o tamanho da vila, sem prejuízos ao jardim nem ao calçamento da recém-recuperada praça de São Pedro, além de cumprir as mesmas regras de horário e volume de som válidas para qualquer evento, como a tradicional Festa de São Pedro, obrigada a encerrar à meia-noite.
O acordo com a Acisps, segundo Leal, previa o repasse de 10% das reservas para cada duas diárias feitas por motociclistas. “Ou seja, se todas as 33 pousadas de São Pedro lotassem com motociclistas, isso poderia representar algo em torno de R$ 10 mil reais para o motoclube organizador do evento”, explicou. O presidente do Parceiros de Estrada, Jorge Quintal, contesta a informação. Segundo ele, foi pedida ajuda para pagar as bandas, na base de R$ 100 de cada uma das 25 pousadas, o que totalizaria R$ 2.500. “Existem outras pousadas que não fazem parte da associação e também estão sofrendo com a falta do evento", comentou.
No entanto, bastou o evento ser anunciado nacionalmente, nas redes sociais, para acender o sinal de alerta na pacata vila: a previsão passou a ser de três mil motociclistas transitando com suas possantes pela única rua de São Pedro, que tem seis metros de largura, funciona em mão dupla e é usada por ônibus, veículos de serviço e caminhões com carga agrícola. Além de música varando a madrugada, com shows de DJs anunciados para começar à 1h da manhã.
Temendo o caos, a associação e as pousadas apoiadoras decidiram deixar de patrocinar o evento e pediram que ele fosse transferido para outro lugar. Diante do cancelamento, a associação passou a ser acusada por comerciantes locais de prejudicar o turismo e, por motociclistas, de preconceito. E agora, também nas redes sociais, motociclistas de outros motoclubes passaram a organizar a realização de um encontro “espontâneo”, sem autorização oficial, em protesto contra o que chamam de “proibição”.
“Sugiro que peguemos nossas motos e sigamos para São Pedro da Serra na referida data. E, em vez de um evento, façamos um encontro de motocliclistas. Ninguém pode nos proibir disso”, exorta um deles.
“O evento seria muito maior do que a vila suportaria. São Pedro não aguenta eventos que somem ao trânsito normal mais de 200 veículos”, defende Leal.
O presidente do Parceiros de Estrada diz que já conseguiu demover os colegas da ideia de fazer o protesto. “Estaríamos (com o protesto) mostrando uma visão errada nossa. Não precisamos mostrar mais nada pra São Pedro da Serra. Quem perdeu foi a cidade. Arrecadaríamos donativos para uma instituição local”, disse Quintal, sem saber precisar quantos motocliclistas o evento afinal reuniria.
Segundo Quintal, todas as licenças necessárias já estavam sendo providenciadas. A Prefeitura de Nova Friburgo informou que ainda não havia recebido solicitação para autorizar o evento.
O presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio (AMO), Aloisio Braz, explicou que qualquer protesto dessa natureza, se for contra a vontade popular, é passível de punição, inclusive com a apreensão das motos pela polícia.
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