Eucaliptos da Praça Getúlio Vargas terão terceiro laudo

Iphan, ICMBio e UFRRJ farão nova análise técnica das árvores, após irregularidades nos laudos que orientaram podas e cortes realizadas pela Prefeitura
sexta-feira, 29 de maio de 2015
por Jornal A Voz da Serra
O superintendente do Iphan, Ivo Barreto, respondeu as perguntas dos ativistas (Amanda Tinoco/A Voz da Serra)
O superintendente do Iphan, Ivo Barreto, respondeu as perguntas dos ativistas (Amanda Tinoco/A Voz da Serra)

Um terceiro laudo técnico para evitar o corte desnecessário dos eucaliptos centenários restantes da Praça Getúlio Vargas, no centro de Nova Friburgo, será realizado pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e uma universidade pública. Na reunião realizada na Câmara Municipal na tarde desta quarta-feira, 27, o superintendente regional do Iphan, Ivo Barreto, se comprometeu a trazer, na segunda semana de junho, técnicos dos órgãos e, a princípio, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), para uma visita técnica na praça.  

O novo laudo será produzido depois que integrantes do movimento social “Abraço às Árvores – SOS Praça Getúlio Vargas” identificaram contradições nos laudos produzidos por técnicos da Universidade Estácio de Sá e da Technische, empresa contratada pelo Iphan para realizar o serviço. Os especialistas avaliaram, por meio de análise visual, a “saúde” das árvores. Os documentos orientaram os serviços de poda e cortes dos eucaliptos realizados, na praça, pela Prefeitura, desde o início do ano. Segundo o ativista Alessandro Rifan, a quantidade de árvores que deveriam ser cortadas é muito diferente nos dois laudos. “O laudo do Iphan sugere que 52 árvores sejam cortadas a mais do que o laudo da Estácio. A diferença é de quase 50%. Isso é, cientificamente, muito grave”, disse o arquiteto.

Na análise feita no laudo do Iphan, o grupo ainda encontrou sugestões de intervenções contraditórias em 27 árvores. “Nesse laudo tem uma ficha com o inventário arbóreo de cada árvore. Quando comparamos as fichas com outras partes do laudo, identificamos contradições. Por exemplo, a árvore número 90 tem que sofrer poda leve em um trecho do projeto; em outro trecho, ela tem que ser derrubada. Olha a gravidade disso”, disse Alessandro, que assim como os demais integrantes do grupo, considera o laudo do Iphan “raso”, porque o método de análise visual é inconsistente e não avalia a árvore por dentro. O grupo quer um laudo do risco de queda, que faça uma radiografia das árvores. Enquanto falava na tribuna do plenário Jean Bazet, Alessandro mostrava fotos de torras dos eucaliptos cortados aparentemente saudáveis.

O superintendente do Iphan, Ivo Barreto, considerou graves os problemas identificados pelos ativistas no laudo, e disse que uma equipe do órgão analisará os problemas e tomará as medidas cabíveis. O vereador Professor Pierre, que presidiu a reunião, também concordou com Ivo e disse que as falhas encontradas reforçam a necessidade do terceiro laudo. Cerca de 50 pessoas, entre ativistas, moradores e imprensa, acompanharam a reunião — que virou audiência pública — durante quase três horas.

Na próxima semana, o movimento deve entregar uma lista com as principais reivindicações para análise do superintendente do Iphan. Desde o início do ano, quando a operação de poda e cortes dos eucaliptos na praça começou, o grupo vem se mobilizando e exigindo rigor nos serviços realizados pela Prefeitura. Os ativistas querem que o projeto original do ilustre paisagista francês que projetou a praça, Auguste François Marie Glaziou, seja respeitado. A Praça Getúlio Vargas foi tombada como patrimônio histórico em 1976.

Entenda o caso

Desde janeiro, 22 árvores foram cortadas um pouco acima da raiz e dezenas foram podadas pela Prefeitura de Nova Friburgo para evitar acidentes como a queda de galhos sobre os pedestres e motoristas. A quantidade de cortes abriu um “clarão” entre o coreto e o chafariz da Praça Getúlio Vargas e causou comoção em muitos moradores, que se mobilizaram por meio das redes sociais para questionar a maneira como as atividades estavam sendo executadas pelo governo municipal. Vários protestos e intervenções artísticas foram realizados pelo grupo no local. Uma ativista foi detida durante um protesto.

Após denúncias dos manifestantes, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) identificou que pelo menos duas árvores foram cortadas sem necessidade pela prefeitura. O Ministério Público Federal (MPF) propôs, a partir de então, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que estabeleceu condições para a operação de corte emergencial dos eucaliptos da praça, e fixou prazos para o cumprimento de medidas compensatórias e para o início da execução do projeto de revitalização do local. A Prefeitura só pode realizar intervenções nas árvores da praça em situações emergenciais. 

  • Ao menos 50 pessoas participaram da reunião realizada na Câmara Municipal (Amanda Tinoco/A Voz da Serra)

    Ao menos 50 pessoas participaram da reunião realizada na Câmara Municipal (Amanda Tinoco/A Voz da Serra)

  • Na mesa diretora, estiveram vereadores e demais integrantes do grupo de trabalho que acompanha o caso (Amanda Tinoco/A Voz da Serra)

    Na mesa diretora, estiveram vereadores e demais integrantes do grupo de trabalho que acompanha o caso (Amanda Tinoco/A Voz da Serra)

  • Na segunda semana de junho, técnicos do Iphan, ICMBio e UFRRJ farão uma visita técnica à praça (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    Na segunda semana de junho, técnicos do Iphan, ICMBio e UFRRJ farão uma visita técnica à praça (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

  • Desde janeiro, 22 árvores foram cortadas e dezenas podadas na Praça Getúlio Vargas (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    Desde janeiro, 22 árvores foram cortadas e dezenas podadas na Praça Getúlio Vargas (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

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