Quando nasceu, em 2003, o meu rebento, não era exatamente o momento melhor pra ele rebentar. Via-me pai, com 21 anos, e absolutamente despreparado para tamanha missão. Morávamos em Niterói, de onde, seis meses depois, parti sozinho para Campos, no Norte Fluminense.
“Eu tenho um filho de seis meses e preciso de um emprego; quero ser repórter”. Foi com essa frase que convenci Aluísio Abreu Barbosa, diretor de redação do jornal Folha da Manhã, a me dar uma chance de iniciar na carreira em que hoje me encontro. Fui de uma cara de pau sem tamanho, visto que nem o ensino médio eu havia completado à época. Assim, vi que tudo aquilo tinha um motivo: ele, Iago.
Filhos não são pequenos seres que criamos para o mundo, simplesmente, como ditam os manuais de conformismo para as malcriações deles. Filhos são, em verdade, aqueles que mais nos ensinam a viver, pois, na vida, fazemos por eles o que não somos capazes de fazer apenas por nós mesmos. São eles os professores; nós, os alunos.
Filhos, filhos... se não os temos... Não seriamos capazes de entender nossos pais e todas aquelas frases e atitudes que parecem fazer parte de uma convenção da qual todos que têm filhos participam. Não saberíamos o gosto das manhãs em que, morrendo de sono, alguém, quietinho e em silêncio, nos espera acordar; abrimos os olhos e ali está o sorriso mais lindo do mundo. Não saberíamos a angústia que é a preocupação com eles, o pavor de que qualquer coisa de ruim lhes aconteça. Não imaginaríamos o que é o aperto no coração na hora de ir para o trabalho; mas também não sentiríamos o reconforto de voltar ao lar e lá sermos recebidos pelo abraço mais sincero de amor que pode existir.
Filhos... filhos... como sabê-los? Tendo-os. E eis que em 2009, mais uma vez, já em outro relacionamento, já em outra fase da vida, já em outra cidade (Cabo Frio), ouvi novamente aquela frase que deixa a perna do homem mais bamba que bebum em quarta-feira de cinza: “tô grávida”. E pendurada no bico da cegonha me vem Maria Eduarda.
Tirando a prática já adquirida com as fraldas e alguns outros truquezinhos, era tudo novo de novo, como se mais uma vez estivesse despreparado. Lembrei de quanto cresci e aprendi com Iago. Cada fase sua – em especial a que passamos juntos percorrendo consultórios e laboratórios médicos do Rio de Janeiro para tratar as cinco pedras que ele com um ano de vida desenvolveu – foi única e inesquecível. Olho para ele hoje ansioso pelas outras fases que virão, e os outros aprendizados que elas me trarão. Com Maria Eduarda, tenho um novo caminho a evoluir outra vez.
E voltando a ela, com quem eu tenho a oportunidade de conviver todos os dias, morando em Bom Jardim, é mais uma professora de vida na minha vida. Quem não acha incrível ver passo a passo as mudanças que ocorrem dia após dia de uma criança? E de um pai? Ela dorme à noite e de manhã nos presenteia com uma nova façanha. Pai e mãe babam e saem dizendo “minha menininha está crescendo”. E com ela nós também crescemos a cada dia, pois sou um novo homem, um novo pai a cada mudança dos meus filhos.
Não bastasse esse casal parada dura, entra também em cena Nicolly, de oito anos, sobrinha e afilhada de minha esposa e que convive quase diariamente com a gente, portanto mais uma filha (é, 28 anos e três na conta... pensa que é fácil?) Essa mocinha de pele morena, cabelo cacheado e de uma inteligência irreverente, com respostas afiadíssimas, é minha terceira professora. Sabidinha, ela é a sensatez em pessoa, às vezes deixando a nós ‘adultos’ sem graça diante de alguns de nossos erros.
O que quero dizer é que nós pais deveríamos entender que eles nascem para nos ensinar tanto ou mais do que nós lhes ensinamos. Ninguém passa a ser pai e permanece o mesmo, querendo ou não.
Só uma coisa mais quero registrar aqui, já que Eduarda está enfiando o pé no teclado do notebook e me expulsando da cama: antes que Iago cresça e passe a achar careta ir à praia com o ‘seu coroa’; antes que eu chegue em casa do trabalho e encontre no portão Maria Eduarda e o namorado me dando um boa noite sem graça de quem estava há poucos segundos no maior amasso; antes que eu pergunte a Nicolly aonde ela vai (e, principalmente, com quem vai) e tenha como resposta o barulho da porta batendo, quero deixar bem claro que essa história de pai aluno e filho professor é muito bom, muito bacana, muito bonitinho... Mas fiquem espertos, porque de uma hora pra outra eu posso muito bem trazer as coisas aos moldes normais e exigir que os três só se dirijam a mim como sim senhor, meu pai.
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