Ética, educação e tecnologia

A coluna de Ricardo Lemgruber
sábado, 21 de abril de 2018
por Ricardo Lemgruber

Entre os tantos desafios do nosso tempo, há um em especial que pode mudar tudo no futuro, se soubermos encará-lo. Trata-se do desafio da educação.

É claro que a primeira questão é garantir acesso à escola e aos insumos necessários às suas tarefas (livros, alimentação, transporte, uniformes etc). E, obviamente, reorganizar as prioridades, de modo que professores sejam valorizados salarial e socialmente.

Mas nosso tempo impõe novos desafios. Especialmente no tocante às formas de ensinar e de aprender e, objetivamente, ao relacionamento com as novas mídias e sua maneira de tratar a informação e o conhecimento.

Hoje, crianças e adultos têm acesso a um volume de informação nunca antes experimentado. O dilema, todavia, é ter a capacidade de processar essa tempestade de dados e torná-la algo que se possa chamar de "saber".

Além disso, tão importante quanto as mídias, é desafiadora a missão de aprender e de ensinar com as novas tecnologias nas salas de aula. A receita professor-aluno, embora insubstituível, dá sinais de precisar ser repensada.

Proibir os computadores (tablets e smartphones) tem seus dias contados. Nossa grande e urgente tarefa continua a ser ensinar a aprender de forma nova, atual e relevante. As novas tecnologias só fazem repensar os formatos.

Num mundo que gera informação em escala industrial, a missão é humanizar o saber e tornar as pessoas capazes de aprender continuamente.

Que fique registrado: aprender significa mais que absorver dados; aprender quer dizer atribuir criticamente significado relevante para a realidade. E, de alguma forma, participar de sua transformação.

Esse é o nosso desafio. Aprender continuamente.

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Nos últimos anos, a escola tem sofrido muita pressão. Com a emergência das novas tecnologias de informação, professores e alunos têm experimentado novos desafios, especialmente o de acompanhar a velocidade com que as informações são produzidas.

Está claro que a escola anda vagarosamente, se comparada ao ritmo frenético da sociedade de consumo, e, mais claro ainda, que jovens têm maior intimidade com as máquinas que os adultos, dentre os quais, destacam-se professores e professoras. Mas é importante fazer justiça: acionar botões e softwares não significa, necessariamente, competência, sobretudo, se pensarmos em competência acadêmica, emocional e ética.

E é nessa relação entre as exigências contemporâneas e a dinâmica da escola que reside parte do desafio de educadores no século XXI.

Muito se diz sobre o descompasso existente entre a escola e as demandas reais do mundo contemporâneo. De um lado, a tradição firmada no que já existe e que deve ser, mimeticamente, repetido; de outro, a exigência de uma sociedade sedenta por novidades. Entre os extremos, pessoas: alunos e professores.

Um exemplo claro disso é a desenvolvida habilidade dos jovens com os computadores e a atrofiada exigência escolar com relação a esses novos recursos no cotidiano acadêmico. De um lado, a rapidez e perspicácia jovem com os botões e ferramentas virtuais; de outro, a morosidade de uma escola que ainda pensa sobre papel.

Creio que a responsabilidade sobre tal discrepância tenha dois sentidos. De uma ponta, está a inabilidade da escola com a produção de conhecimento. Mas isso não é de hoje. Mesmo nos tempos em que livros e bibliotecas imperavam na hora das pesquisas, a cópia e a repetição de ideias já acontecia.

Por outro lado, há uma responsabilidade que não deve ser desprezada. A referente às demandas esperadas de todos e por todos com relação a sua produtividade. Mais importante do que a relevância é a quantidade do que se produz e a velocidade com que se realiza. O que resulta em mediocridade e superficialidade. Se isso não é necessariamente responsabilidade da escola, é preciso que essa rompa com esse círculo vicioso e espere mais de seus alunos, do que simplesmente tarefas a serem cumpridas.

Enfim, há acesso à tecnologia de informação mais barata e mais eficiente do que em qualquer outro momento da história. Temos condições de pensar os programas escolares e ousar com relação a metodologias como em poucos outros momentos da legislação educacional brasileira (embora mudanças recentes tendam a engessar o processo). Mas ainda repetimos os erros de sempre, tornando a escola mais um compromisso da vida social de cada indivíduo. Talvez fosse o tempo de coadunar a inteligência jovem “antenada” com as novas tecnologias com exigências de aprendizado e construção de conhecimento verdadeiramente novo que fossem mais pertinentes com aquilo que produz criatividade, relevância, solidariedade, ética e justiça.

Se a escola não conseguir, ao final de seu trabalho, produzir conhecimento que ajude a sociedade contemporânea a ser melhor do que está, ela terá fracassado. Não bastam habilidade com computadores, o que realmente fará nosso mundo mais digno será competência acadêmica que transborde em valores éticos e que consiga nos abrir os olhos para enxergarmos a nós mesmos e aos que nos cercam.

 

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