Estudo comprova: situação da alfabetização no Brasil é grave

terça-feira, 08 de novembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Por Alessandro Lo-Bianco

 

O Brasil não alfabetiza, de fato, suas crianças na escola pública e as que conseguem aprender a ler apresentam um resultado fraco e alarmante que se reflete na Prova Brasil de Língua Portuguesa: entre 30 e 50% dos alunos chegam analfabetos ao 5º ano. Ao menos metade das escolas brasileiras está nesse nível, aponta o presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB - http://www.alfaebeto.com.br), João Batista Oliveira, coautor do capítulo sobre Alfabetização do livro que a Academia Brasileira de Ciências lança hoje (26) na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O livro—“Aprendizagem Infantil: uma abordagem da neurociência, economia e psicologia cognitiva”—traz as conclusões de cinco anos de trabalho do Grupo de Trabalho sobre Educação Infantil, criado pela Academia Brasileira de Ciências em 2007.

Psicólogo especialista em Educação, ex-secretário executivo do Ministério da Educação e consultor do Banco Mundial e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para projetos na área em mais de 60 países, João Batista Oliveira avalia que os maus resultados e a situação atual da alfabetização no Brasil não são fruto de erro, mas sim consequências diretas das políticas educacionais existentes.

“Elas não determinam uma série limite para que o aluno já esteja alfabetizado, não criaram nenhum teste adequado para avaliar o nível de alfabetização das crianças (os existentes não medem nada e são confusos) e também não promovem a formação de professores alfabetizadores na maioria das faculdades de Educação”, aponta ele. Segundo o especialista, também não há programas adequados de ensino de alfabetização e elaboração de cartilhas. “As cartilhas aprovadas pelo Ministério da Educação (MEC) não apresentam atividades consistentes para alfabetizar”, afirma.

Para Oliveira, o que temos, assim, é resultado das políticas, e não fruto de má implementação. E essas políticas continuam a ser propagadas pelo MEC e Universidades e adotadas por estados e municípios. “Isso é muito diferente do que ocorre no resto do mundo, como comprovam agora os estudos contidos neste livro da ABC”.

Em sua palestra sobre alfabetização, João Batista Oliveira demonstrou que, no Brasil, ainda se confunde alfabetização com a questão da compreensão de texto. “Saber ler não é apenas ser capaz de identificar as letras e formar palavras, mas acima de tudo entender o seu significado e construir frases e textos inteligíveis com elas”.

Num teste que aplicou em mais de 300 mil alunos de todo o Brasil, em escolas que tinham obtido média 175 na Prova Brasil de Língua Portuguesa, o Instituto Alba e Beto (IAB) confirmou que é isso que acontece com os 30 a 50% dos alunos citados no início dessa matéria—chegam ao 5º ano sabendo identificar letras e palavras mas sem entender o que leem e sem conseguir escrever com sentido minimamente compreensível, inteligente.

  “Ou seja, os números sugerem que o aluno, em função das falhas já apontadas na política educacional, acaba se alfabetizando sozinho ao longo dos anos, mas assim não apreende conhecimento de verdade”, avalia Oliveira. “Pior: já que não consegue ensinar, o sistema oficial prefere promover esse aluno para a série seguinte, para que tenha alguma oportunidade de aprender algo pela permanência na escola”.

Para o especialista, esse contexto já é o suficiente para dar a dimensão da gravidade do problema e somente mudanças na política educacional do país podem alterar o quadro.

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