Durante a manhã desta terça-feira, 8, dezenas de alunos da rede estadual de ensino de Nova Friburgo realizaram uma manifestação em frente à Coordenadoria Regional de Educação - Serrana II, na Praça Dermeval Barbosa Moreira. Além de manifestar apoio a greve iniciada pelos professores no último dia 2, os estudantes também aproveitaram a oportunidade para reforçar reivindicações em relação a más condições de estrutura, limpeza e segurança de alguns colégios estaduais.
“Nós queremos solução. Somos 40 alunos numa turma e estamos sem sala para estudar. O auditório onde ocorrem as aulas tem infiltração e não comporta todos os estudantes de forma adequada. Estamos na reta final do ensino médio e vamos ter que terminar os estudos assim?”, reclama Manuela Souza, 17 anos, aluna do 3º ano do Colégio Estadual Júlio Salusse, na Chácara do Paraíso.
“Queremos ser ouvidos por um representante da Secretaria de Educação estadual. Mais do que respostas às nossas perguntas e reclamações, queremos que façam alguma coisa. Do jeito que está não dá para continuar”, disse o adolescente Matheus Miranda, 15 anos, aluno do 1º ano da mesma escola.
Estendendo cartazes com dizeres como: “A educação do Brasil está de luto!”, “É o meu futuro que está em jogo!” e “Será que o governador já teve professor?”, os estudantes gritaram palavras de ordem e revelaram mais problemas vividos no ambiente escolar chamando a atenção de quem passava pela praça.
“A quadra de esportes não está em boas condições. A calha está quebrada e falta material. A direção tem usado verba da manutenção para comprar a merenda porque não há repasse suficiente. Outro dia foi preciso fazer uma vaquinha para comprar papel higiênico. É um absurdo o que está acontecendo”, denunciou Letícia Galhardo, de 17 anos, também aluna do ensino médio no Júlio Salusse. “Até hoje nossos livros de inglês não chegaram”, acrescenta a aluna Manuela Souza, de 17 anos.
Outra questão muito discutida pelo alunos e que também se tornou pauta de reivindicação dos professores é em relação a segurança das unidades. No início deste ano, centenas de porteiros que trabalhavam terceirizados foram demitidos porque a empresa não teria a verba necessária para o pagamento de salários e benefícios, valor que deveria ser repassado pelo governo do estado. Conclusão: as escolas estão sem equipe de segurança e, por isso, agora precisam contar com a sorte ou com a disponibilidade de demais funcionários que possam fazer a vigilância na entrada e saída dos alunos.
“Meu irmão deixou de ir a escola para ter as aulas dos professores que não entraram em greve porque a situação está bastante complicada”, conta a jovem Joyce de Mello, de 19 anos. “O portão fica aberto o tempo inteiro e sem que ninguém faça o controle de quem entre ou sai de lá. Qualquer um que quiser entrar na escola terá livre e fácil acesso”, acrescenta a aluna do 1º ano do Colégio Estadual Jamil El-Jaick, Letícia Freitas de Oliveira.
Para a professora de história Camila Dias Amaduro, de 30 anos, as reivindicações são legítimas: “Apoiamos esse movimento estudantil em apoio aos professores e demais funcionários da rede estadual. Essa manifestação de hoje se junta a um descontentamento geral em relação ao caos que estamos presenciando na educação. Nossa tentativa agora é aumentar o número de apoiadores da greve”, conta a docente.
Também participaram da mobilização os alunos do Instituto de Educação (Ienf) e Colégio Estadual Tuffy El Jaick. Os estudantes chegaram à sede da coordenadoria por volta das 8h, mas só foram atendidos cerca de duas horas depois. Dois representantes foram recebidos por uma equipe da secretaria e suas reivindicações anotadas em ata. Um novo encontro deve acontecer ainda na próxima semana para que sejam analisados os possíveis progressos das situações apresentadas.
Ato público também em São Pedro da Serra
Está marcado para esta quarta-feira, 9, a partir das 16h, um ato público em frente ao Colégio Estadual José Martins da Costa, no distrito de São Pedro da Serra. O grupo formado por pais, alunos e professores fará a manifestação também em protesto às más condições da unidade que atende dezenas de alunos da região. “Pedimos que sejamos ouvidos. Somos cidadãos indignados com a falta de respeito para com a educação e para com os professores”, diz trecho da nota enviada a nossa redação.
De acordo com o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe) em Nova Friburgo, cerca de 70% dos professores da rede estadual da cidade aderiram à paralisação iniciada há uma semana. Além da reivindicação por reajustes salariais, melhores condições de trabalho e estruturais das unidades, o movimento também protesta contra o projeto de reforma da Previdência do governo do Rio à Assembleia Legislativa (Alerj) que prevê aumento no desconto de 11% para 14%.
Nesta quarta-feira, 9, a partir das 18h, também será realizada nova assembleia geral na Câmara de Vereadores de Nova Friburgo para que os docentes e representantes do sindicato possam discutir reivindicações locais e os novos passos que serão dados pelo movimento grevista.
Secretaria estadual de Educação nega más condições nas escolas
Questionados em relação a série de reclamações apresentadas pelos alunos na manifestação organizada nesta terça-feira, 8, a Secretaria estadual de Educação negou haver condições estruturais preocupantes conforme relatado pelos estudantes. Confira na íntegra nota enviada pela pasta a redação de A VOZ DA SERRA:
“A Secretaria de Estado de Educação esclarece que as informações não procedem. A quadra de esportes do Colégio Estadual Júlio Salusse está conservada. A quadra é coberta, conta com iluminação em pleno funcionamento, o piso não está desgastado e a tela de proteção foi revisada no final de 2015. As aulas de educação física estão ocorrendo normalmente no espaço. De acordo com a direção da unidade, também não há problemas quanto à estrutura do refeitório.
O serviço de merenda está ocorrendo normalmente. A escola oferece aos alunos café da manhã (9h40); almoço (11h30); lanche da tarde (15h); lanche da noite (18h); e jantar (19h30). A Seeduc ressalta que os repasses para merenda e manutenção estão em dia, não há atrasos. Quanto ao material escolar, os livros didáticos já foram entregues pelo MEC e distribuídos para professores e alunos.
Vale destacar que todos os alunos matriculados na unidade já receberam os livros didáticos. Inclusive, a Diretoria Regional Pedagógica Serrana II recebeu, na manhã desta terça-feira, 8, um aluno representante da referida unidade e este não mencionou falta de material didático.
Em relação à limpeza, o serviço está ocorrendo normalmente durante toda a semana. Quanto à turma da 3ª série do ensino médio, o auditório da escola foi adaptado e validado pela inspeção escolar, desde 2015, para abrigar uma sala de aula. O espaço conta, como nas demais salas, com quadro melamínico e televisor. Sobre a portaria, a empresa que prestava o serviço não manifestou interesse em renovar o contrato.
Para o controle do acesso de entrada e saída de alunos, as diretorias regionais, junto aos diretores das escolas, estão elaborando um planejamento específico. Profissionais que já atuam nas unidades serão remanejados para essa função, até que uma nova licitação aconteça. A direção do colégio informa que os portões são fechados, após o período de entrada dos alunos. Depois desse horário, a direção controla a entrada com o apoio de interfone”, informa a nota.
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