Estudantes de direito da Candido Mendes visitam o Bope

quarta-feira, 03 de novembro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Os alunos do curso de direito da Universidade Candido Mendes visitaram no dia 27 as instalações do Batalhão de Operações Especiais (Bope), no Rio de Janeiro. Acompanhados pelos professores Janaína Botelho, Jerônimo Pinto e Luigi Brust, os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer as políticas públicas de segurança do Estado, mais propriamente as Unidades de Pacificação, através do órgão responsável por sua implementação, o Bope.

Apesar de lidar no seu cotidiano com a tensão e o confronto com os narcotraficantes, o Bope ainda tem fairplay e faz humor. Na chegada, um cartaz com o seguinte lembrete: “Seja bem-vindo visitante. Mas não faça movimentos bruscos”.

Criado em 19 de janeiro de 1978, em virtude do fracasso de uma libertação de reféns numa rebelião ocorrida no Presídio Evaristo de Moraes, no Rio de Janeiro, o Bope iniciou suas atividades de forma praticamente casuística, ou seja, objetivando treinar policiais especializados para lidar com a negociação de reféns. Atualmente, porém, sua missão é muito mais abrangente.

Não possuindo sede própria, o Bope ficava instalado provisoriamente em alguns locais da Polícia Militar. Aumentando cada vez mais a sua importância na segurança pública, foi-lhe concedida, no ano de 2000, uma área pertencente ao Estado, onde havia um hotel em fase de construção. No entanto, era ocupada por narcotraficantes. A região era conhecida como Vale dos Ossos Secos, pertencente à antiga Fazenda Guinle. Como acontece nas áreas periféricas do Rio de Janeiro, houve a favelização do local, transformando-se na favela Tavares Bastos, onde os narcotraficantes dominavam a comunidade.

O Bope ocupou o esqueleto do hotel e, como diz seu lema, “Missão dada. Missão Cumprida”, realizou a primeira ação de pacificação, através da “imposição da paz”, como declara o capitão Ivan Braz. Ainda segundo ele, “não existe pacto entre homens e leões”, por isso, ele acredita que as ONGs que tentam uma convivência pacífica entre narcotraficantes e comunidade nunca conseguirão tal objetivo.

Para efetuar atualmente todas as ações de pacificação nas favelas do Rio de Janeiro, as UPPs, logo se imagina um grande contingente de soldados do Bope. Mas não é o que ocorre. A instituição conta atualmente com 400 homens, que se dividem nas seguintes funções: operações especiais em área urbana, unidade de intervenção tática (resgate de reféns), centro de treinamento, dando, inclusive, curso ao Mossade (Israel), FBI (USA) e até ao exército brasileiro, entre outras funções. O Bope tornou-se referência nacional e tem similares em vários estados brasileiros, com a mesma destinação, mas com denominações diferentes.

De acordo com o capitão Braz, o filme Tropa de Elite é muito mais ficção do que realidade, não sendo um fac-símile da instituição.

“Qual o maior mito sobre o Bope”, perguntou um aluno da Ucam, ao que o capitão Braz respondeu: “o maior mito é que todos acreditam que vão encontrar no batalhão do Bope uma horda de bárbaros, imagem veiculada no filme”.

O símbolo do Bope – uma caveira com uma faca verticalmente encravada no crânio, e duas pistolas transversas – foi apropriado de um esquadrão inglês da Segunda Guerra Mundial, que tinha como missão sabotar as bases nazistas na França ocupada.

O comando do Bope deu uma notícia em primeira mão aos alunos da Ucam: futuramente ocupará uma área de 220 mil metros quadrados no Complexo da Maré, no antigo Batalhão de Infantaria Blindada, onde poderão ser treinados em torno de sete mil homens.

Em entrevista do comandante Paulo Henrique de Moraes aos alunos do curso de comunicação social da Ucam, Mateus de Carvalho e Bárbara Stork, foi-lhe perguntado o que agregava ao batalhão a visita de universitários. Segundo ele, para a Polícia Militar a relação com a comunidade é essencial, assim como debater ideias e ouvir a percepção do público sobre o trabalho do Bope, o que auxilia no planejamento das ações.

Quanto ao filme Tropa Elite, o comandante Paulo Henrique teme que o público não saiba diferenciar realidade e ficção, já que o filme não traduz o que seja realmente a instituição. “Não são hordas de bárbaros, como demonstra o filme, e não tomam pílulas para dormir, como faz o personagem fictício, capitão Nascimento”, garante. Ele entende, entretanto, que o Bope será sempre cercado de mitos pela sociedade brasileira.

Surpreende a simplicidade das instalações do Bope e a atenção que deram aos alunos, franqueando a palavra aos estudantes durante a palestra e ouvindo com interesse suas percepções sobre a instituição. Ao percorrer o prédio, os alunos se depararam com uma curiosa oração, a “Oração das Forças Especiais”, na qual os homens da elite da polícia pedem a Deus: “Estejais conosco quando procurarmos defender os indefesos e libertar os escravizados”.

Ao fim da visita, o tenente Gripp conduziu os alunos da Ucam à Favela Tavares Bastos, para mostrar o cotidiano dos moradores de uma comunidade pacificada pelo Bope.

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