Pedro Cordoeira, de apenas 23 anos, é friburguense, aluno de física da Universidade Federal Fluminense (UFF), e estagia no Planetário de Nova Friburgo e no Colégio Anchieta. Neste fim de semana, o estudante está em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense para o 11º Encontro Internacional de Astronomia e Astronáutica. No evento, ele vai apresentar um trabalho, escolhido entre tantos, sobre estratégias de divulgação científica e ensino de astronomia.
Antes de viajar, Pedro concedeu entrevista para o Bloco de Notas, do site de A VOZ DA SERRA e falou um pouco mais sobre seu estudo e da expectativa de apresentar seu trabalho para os maiores nomes da astronomia internacional.
Como será sua participação no 11º Encontro Internacional de Astronomia e Astronáutica?
É um evento para divulgação da ciência e nele vou apresentar meu trabalho sobre estratégias de divulgação científica e ensino de astronomia. Promovido pelo grupo de astronomia Louis Cruls, de Campos dos Goytacazes, responsável por várias descobertas de asteróides, o encontro tem como objetivo reunir personalidades de todo o mundo para debater e apresentar ideias. O astrofísico Alexei Filippenko, uma grande personalidade no meio, era presença garantida, mas não poderá vir. Outros grandes nomes estão no Brasil para esse encontro. E o que é melhor, o evento é gratuito.
Está nervoso para apresentar seu estudo?
Muito. É o tipo de evento que não se pode vacilar. Não posso chegar lá com meias informações e slides que não estejam claros para o público. Está sendo bem puxado conciliar faculdade, estágio e virar madrugadas revendo artigos, textos e slides para montar a apresentação. Para viver da ciência a gente tem que se esforçar muito, não tem outra saída.
Você divide o seu tempo entre a faculdade em Niterói, e os estágios no Planetário e no Colégio Anchieta. Como é a sua atuação nos estágios?
Nos estágios eu faço uma divulgação científica. É uma abordagem mais prática. Acredito que 96% seja prática e os 4% restantes, teoria. Através de um projetor, insiro imagens de objetos celestes que não daria para ver daqui.
As aulas no Anchieta fazem parte da grade obrigatória ou a escolha é livre?
É livre. Os alunos fazem as inscrições e a partir daí estão aptos a assistirem às aulas. A procura tem sido grande. Eu estou com uma turma com alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.
Como a astronomia pode acrescentar no currículo escolar de um estudante?
A astronomia é uma das primeiras ciências da humanidade. Desde que o ser humano adquiriu consciência ele olha para o céu. Desde que as pessoas aprenderam a entender os padrões celestes, a própria sobrevivência passou a depender disso. Com a aplicação dos métodos científicos a astronomia cresceu muito e tem ficado cada vez mais poderosa. Trazer essa ciência, que é bem prática e muito bonita de se observar, para o universo escolar, é maravilhoso. Poder ensinar astronomia traz um censo de prática muito forte. Quando a ciência é colocada em prática ela sai daquele marasmo das fórmulas e passa a fazer parte do cotidiano das pessoas.
Para o estudante que está se preparam para o vestibular, essas aulas complementam todo o estudo da grade curricular obrigatória?
O currículo atual joga muito conteúdo em cima do aluno e há uma espécie de robotização desse aprendizado. Querendo ou não, o Enem, que tem 180 questões, é mais um prova de resistência do que de conteúdo. Eu vejo muito aluno que não tem a vivência do método científico que é você ver uma hipótese, testar essa hipótese, coletar os dados e tirar a conclusão. Essa experiência de chamar o aluno para a prática, para essa vivência científica, lá na frente vai ser um diferencial porque quando o estudante chega à faculdade ele terá uma facilidade para lidar com aquele conteúdo.
E o seu trabalho é puramente vivenciar essa prática?
Apesar de Friburgo não ter a melhor das condições climáticas, as aulas são todas elas práticas. Vez ou outra vamos para a sala de aula e usamos um projetor. Nunca é uma aula perdida, mesmo se o céu estiver nublado.
Para o aluno que tem muita dificuldade de lidar com matérias de exatas, como explicar para ele que é possível linkar astronomia com esse ramo e facilitar a vida acadêmica?
A física e a astronomia, por exemplo, estão muito unidas. Desde Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, essas ciências estão sempre juntas e deram um verdadeiro salto com Newton que formulou a lei da gravitação universal. Ele não fez isso analisando somente números, utilizou observações astronômicas, com base em dados de Johannes Kepler (astrônomo, astrólogo e matemático alemão). A astronomia é uma ciência em constante evolução.
A astronomia, então, é muito mais do que ciências exatas...
Ela está muito ligada a números, mas é uma ciência completa e totalmente democrática porque engloba diversos tipos de estudos. Muitos historiadores desenvolveram seus trabalhos analisando o comportamento de civilizações a partir da aparição de um corpo celeste. Os chineses, por exemplo, acreditavam que a aparição do cometa Halley era um sinal de mau presságio ou então uma chuva de meteoros na Europa. Ela foi tão forte que pôde ser vista de dia. Esse episódio foi encarado como apocalipse. A procura de vida em outros corpos celestes envolve a astrobiologia. Carl Sagan, um dos maiores divulgadores científicos de massa que nós já tivemos, tinha formação em astrobiologia. Ele procurou vida além do nosso planeta.
A própria expansão marítima só foi possível porque muitos navegadores utilizavam o posicionamento dos astros para se localizar.
Existe uma história muito interessante com Fernão de Magalhães que usou uma galáxia, vizinha nossa, que é a Nuvem de Magalhães, para se orientar durante as navegações, como uma espécie de bússola.
Há quanto tempo você se dedica a essa área?
Informalmente há mais de dez anos. Eu sou um apaixonado por astronomia. Culpa dos meus pais que me deram uma caixa de sapato em que estavam escritas informações sobre o sistema solar. Depois disso eu comecei a me interessar pelo tema. Logo que me formei na escola eu não fui direto para a faculdade de física, cursei durante um período música, na Candido Mendes, uma outra paixão minha, mas nunca deixei de observar o céu e estudar sobre o tema.
O convite para apresentar o seu estudo é a prova de que você está no caminho certo...
Quando eu mandei o trabalho, não achei que seria escolhido para apresentar, mandei de uma forma despretensiosa, quando recebi o e-mail de confirmação fiquei muito feliz. Apresentar esse trabalho num congresso internacional é sinal de que estou no caminho certo. Eu enviei meu estudo para alguns professores da área, inclusive um professor português da Universidade do Porto e recebi muitos elogios.
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