Estrada Serramar: perigos aumentam pela falta de fiscalização e do bom senso

segunda-feira, 15 de abril de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Estrada Serramar: perigos aumentam pela falta de fiscalização e do bom senso
Estrada Serramar: perigos aumentam pela falta de fiscalização e do bom senso

Márcio Madeira da Cunha
Um visual de tirar o fôlego! A Pedra Riscada erguendo-se ao lado, o Rio Macaé surgindo lá embaixo. Serra e mar. Uma cruz branca que aparece às margens da pista após uma curva cega. Um ônibus de tamanho incompatível que avança pela contramão para conseguir contornar uma curva mais fechada. Uma Kombi escolar que ultrapassa em trecho de faixa contínua um caminhão que não deveria estar ali. Uma enorme cobra que surge atravessando a estrada... Definitivamente, cruzar a RJ-142 é uma verdadeira viagem em mais de um sentido.
Serpenteando por entre rios, vales e algumas das mais belas montanhas da Área de Preservação Ambiental (APA) de Macaé de Cima, a Estrada Serramar—como é mais conhecida—atravessa o que de melhor restou da Mata Atlântica e se impõe, sem qualquer esforço, entre as mais bonitas rodovias existentes no Brasil. A mesma topografia que responde pelo cenário exuberante, no entanto, acaba também por agregar inúmeras dificuldades ao tráfego, fazendo dela uma das vias mais desafiadoras para quem dirige.
Pista estreita e sem acostamento; curvas com cambagem invertida ou em meio a frenagens fortes; asfalto sujo de terra ou limitado em meia pista sem qualquer aviso; inúmeros pontos cegos e mato que cresce às margens; curvas extremamente fechadas ou mascaradas pelas mais bruscas variações de relevo; pontes estreitas que só comportam a passagem de um veículo, desprotegidas em suas laterais; barranco de um lado e penhasco de outro. Os 35 quilômetros da estrada que liga Lumiar a Casemiro de Abreu comportam todo tipo de desafio e já seriam bastante perigosos por natureza. Sem a devida manutenção e livre de maiores fiscalizações, no entanto, a situação torna-se ainda muito mais séria.
A discussão é antiga e sempre esbarra em questões técnicas de menor importância. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão que detém a concessão da estrada, estabelece limite de 16 toneladas (com tolerância de 5%) para os veículos que cruzam a rodovia. Este valor, curiosamente, coincide com os dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para peso máximo de ônibus convencionais, com dois eixos e quatro pneus no eixo traseiro. A utilização de ônibus convencionais por parte da empresa 1001, portanto, encontra amparo legal sob este aspecto, ainda que não exista, de fato, qualquer balança no local apta a fazer a verificação. Mas aí cabe a pergunta: será que isso basta?
Ao cruzar a rodovia durante a manhã da última quinta-feira, 11, a reportagem de A VOZ DA SERRA fez diversos flagrantes fotográficos mostrando a incapacidade prática de tais veículos contornarem as curvas mais fechadas sem obrigatoriamente invadirem parte da pista contrária. O mesmo vale para os inúmeros caminhões de médio porte que também trafegam pela rodovia, e esta, obviamente, é uma infração extremamente grave, tanto mais numa estrada conhecida por suas curvas de pouca visibilidade. Paralelamente, a diferença de velocidade existente entre carros de passeio e veículos de grande porte é fator que estimula a ocorrência de difíceis e perigosas manobras de ultrapassagem, aumentando ainda mais os riscos para quem viaja.
Tal inviabilidade é amplamente reconhecida e encontra respaldo nas próprias reivindicações dos moradores da região, conforme comprovam as várias cartas de leitores publicadas sobre o tema em A VOZ DA SERRA. Na edição de quinta-feira, 11, por exemplo, os leitores Carlos Gonçalves Pereira e Roberto Silveira fizeram reclamações a respeito, ao mesmo tempo em que a seção policial registrou o acidente de um ônibus da linha Nova Friburgo x Macaé ocorrido na terça-feira. Na ocasião, o coletivo derrapou e se chocou contra um barranco, com violência suficiente para fazer com que uma das passageiras tivesse que ser hospitalizada no dia seguinte. 
Por óbvio, os problemas da Serramar vão muito além da circulação de veículos que, se são permitidos, definitivamente não são convenientes. A estrada como um todo carece de manutenção, desde a construção de muros de contenção ao reparo de áreas destruídas por acidentes anteriores. É o caso, por exemplo, da estreita ponte próxima ao acesso para Barra do Sana, que permite a passagem de apenas um veículo por vez e está com a mureta de proteção destruída. A sinalização também é precária e muitas vezes encoberta pela vegetação que invade as margens da pista. Motos e carros de passeio, por sua vez, também são conduzidos em velocidades incompatíveis, compondo um cenário de total desrespeito aos riscos e de alienação absoluta em relação à terrível tragédia do transporte rodoviário brasileiro. Que, além de ceifar ou limitar a vida de milhares de pessoas a cada ano, no caso específico da Serramar também é responsável pela morte de um sem número de animais silvestres.
Dispondo de cenário tão privilegiado, era de se esperar que trafegar pela RJ-142 fosse tarefa das mais prazerosas e passasse obrigatoriamente pelo respeito à vida tanto a de quem trafega como a dos animais que habitam o santuário. A realidade, contudo, revela uma estrada abandonada, servindo a interesses menores, e entregue a usuários tantas vezes cúmplices de riscos tão altos quanto desnecessários.

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