Às 17h44 de domingo, 22, começa a primavera. Conhecida como a época do reflorescimento, a estação é celebrada no mundo todo por marcar o fim do inverno, relacionado ao mau tempo e, muitas vezes, à escassez de alimentos.
Considerada a mais bela das quatro estações do ano, por suas flores coloridas e perfumadas, a primavera sempre foi musa inspiradora de poetas e músicos, que alardeiam suas qualidades.
Flores coloridas e perfumadas, aliás, são marcas características de Nova Friburgo. Não no Centro, onde elas mal podem ser vistas, mas em Vargem Alta, parte do distrito de São Pedro da Serra. Se o município já foi chamado de "A Cidade dos Cravos”, hoje ele ostenta o título de maior produtor de flores de corte do Estado do Rio e o segundo maior do Brasil. Os cravos? Bem, estes sumiram até mesmo das terras onde nascem rosas, crisântemos, gérberas, copos de leite, dentre muitas outras flores que são comercializadas para várias partes do país.
Então, para saudar a primavera escolhemos a comunidade de Vargem Alta para mostrar a beleza e a importância das flores para a economia local. Afinal, a comunidade vive em função – e por causa – delas, o que se nota até pelo nome de uma instituição de ensino local, a Escola Família Agrícola Municipal Flores de Nova Friburgo. Nesta edição, você vai ver mais detalhes dessa produção e conhecer a história de Josenildo, um agricultor que veio do interior de Pernambuco para cultivar flor aqui.
"Temos algumas necessidades, mas a floricultura é um bom negócio” (José Ernani)
"E vim. Cheguei em setembro. Não entendia nada de flor, mas fui aprendendo. (...)
Desde então vivemos aqui, com as flores” (Josenildo Vieira)
"O potencial da região é grande, mas precisamos de maior
infraestrutura, principalmente telefonia” (Ivonilde Martins)
Em setembro de 2011, Josenildo Vieira dos Santos deixou sua terra, Garanhuns, em Pernambuco, rumo a Nova Friburgo. Mais especificamente, para a localidade de Vargem Alta, parte do distrito de São Pedro da Serra. A decisão veio depois de uma longa conversa com o concunhado, que já morava aqui, e também de muitas críticas de parentes e amigos.
"Você está louco. Sair daqui para ir para uma cidade onde caiu tudo?”, diziam as pessoas se referindo à tragédia que ocorrera no início daquele ano em Nova Friburgo. Mas Josenildo preferiu acreditar em sua escolha e seguir em busca de uma vida melhor. Precisava sair de um lugar onde, segundo ele, praticamente não tem emprego. "Eu trabalhava de caseiro, mas estava difícil. Quando fui pedir as contas, meu patrão falou da enchente, da tragédia que aconteceu aqui, mas eu disse para ele que o Deus de lá é o mesmo daqui. E vim. Cheguei em setembro. Não entendia nada de flor, mas fui aprendendo. Em outubro minha mulher e minhas crianças (ele tem três filhos) chegaram. Desde então vivemos aqui, com as flores”, conta o pernambucano. "O problema é o frio, porque Garanhuns é bem quente, ainda estamos nos acostumando.”
Josenildo é uma das muitas pessoas – inclusive alguns nordestinos – que sobrevivem da plantação de flores em Nova Friburgo.
O fim dos cravos
O ônibus escolar para na estrada de terra e Ivonilde Martins se apressa para pegar o caçula Carlos Eduardo, de seis anos, que desce correndo por entre as plantas. Vindos do Rio de Janeiro, ela e o marido Carlos David De (com maiúscula mesmo) Martins Hosken sustentam a família (têm ainda a adolescente Bruna, de 16 anos) com o que ganham com o cultivo de flores. "Plantamos, colhemos, adubamos, fazemos tudo”, resume ela. "O potencial da região é grande, mas precisamos de maior infraestrutura, principalmente telefonia. Uma das nossas reivindicações também é que o Ibelga (Escola Flores) tenha um laboratório de cultura de tecidos (de plantas), assim poderemos ter flores até mais adequadas ao nosso local, apesar das mudas que recebemos de São Paulo que já chegam preparadas”, diz a agricultora.
Ivonilde ressalta ainda que, apesar de Nova Friburgo ser um grande produtor de flores há muito tempo, só em 2011 a floricultura foi incluída na lista da prefeitura como um setor destacado da economia local. Dentre as flores mais produzidas em Vargem Alta, ela cita as rosas, gérberas, copos-de-leite, palmas, crisântemos, limôneos, áster, crisântemos, statics, liaianthus, chuvas-de-prata, boca-de-leão, hortências e astromélias. "Quase ninguém mais planta cravos”, diz ela, ao ser questionada sobre a flor-símbolo de Nova Friburgo décadas atrás. "Recebemos as mudas de São Paulo e eles pararam de mandá-las. Além disso, o cultivo do cravo é mais complexo, precisa de mais atenção e o índice de doenças é maior. Aqui, em Vargem Alta, só um ou dois produtores continuam cultivando esta flor e assim mesmo em menor quantidade”, afirma ela, destacando ainda a produção de "tango”, uma flor geneticamente modificada.
Sobre as datas mais fortes para a comercialização de flores, quem responde é José Ernani Bom, que trabalha desde os 15 anos no setor: "O réveillon e o Dia das Mães são as mais procuradas. Finados, infelizmente, caiu muito. Acho que as pessoas estão deixando de ir aos cemitérios”, diz ele, que sempre viveu na região. "Mas não podemos nos queixar. Temos algumas necessidades, mas a floricultura é um bom negócio”, afirma, mostrando suas instalações, inclusive o frigorífico, onde guarda as flores que serão transportadas para vários municípios do estado.
Desenvolvimento local, fonte de emprego e de renda para friburguenses e nordestinos, atração turística, enfim, viva as flores de todas as estações!
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